No último discurso enquanto coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins foi aplaudida de pé e começou por agradecer a todos os que estiveram envolvidos no processo de organização da XIII Convenção.

“Sei bem que a camaradagem, a convicção, o debate franco, a luta ombro a ombro não se comemoram. Partilham-se. Mas permitam-me que hoje vos diga o quão grata estou pelo privilégio de ter seguido convosco no caminho destes últimos 11 anos e pelo que mais virá”, afirmou.

Também houve tempo para uma palavra a Francisco Louça pela “combatividade e entrega” e pela “generosidade” a forma como esteve “sempre” presente. “E foi assim o Francisco, como o Luís Fazenda e o Fernando Rosas. De formas diversas, reinventaram a sua intervenção no Bloco e ensinaram-nos que as gerações não se atropelam nem se substituem, acrescentam-se”, afirma.

Catarina Martins também não esqueceu Miguel Portas, apelidando-o como “o conselho certeiro de evitar a todo o custo perder tempo com o desnecessário para não perder de vista o fundamental” e João Semedo, com uma palavra especial pela aprovação da lei medicamente assistida, apelidada “Lei João Semedo”.

Recordando outros tempos, Catarina Martins olhou para a altura da 'geringonça', afirmando que “ajudámos a salvar o país da direita e não nos submetemos nunca à ideia peregrina de que bastaria um 'acordo de cavalheiros' para um compromisso de medidas: tem que haver honra e fidelidade aos acordos na política, mas o povo tem o direito de saber o que vai ser feito, quando e como, e isso é um acordo transparente para toda a gente conhecer.” Catarina Martins garantiu que o partido é “unitário contra o sectarismo” e promete que “nunca deixará de o ser”. “Queremos toda a força da esquerda junta, porque não é demais para enfrentar a casta oligárquica que manda em Portugal.”, afirmou.

Já nas eleições mais recentes, onde os resultados do Bloco de Esquerda ficaram aquém das expetativas, Catarina Martins admitiu que a derrota deixou feridas, mas não se deixa derrotar com isso. A antiga coordenadora afirmou que "fizemos o que tínhamos de fazer e voltaríamos a fazer o mesmo enfrentamento com o governo nos Orçamentos a propósito da saúde e dos direitos laborais.”

Assegurou ainda que quem votou no Bloco não foi defraudado e sublinha que na “corência” se “alicerça o crescimento que já sentimos na rua e que até as sondagens já reconhecem. Não cedemos à chantagem e não preciso de vos dizer como é importante que o povo tenha esta certeza de que aqui está gente que nem verga nem quebra.”

E prosseguiu, num ataque ao primeiro-ministro: “António Costa recusou qualquer acordo à esquerda em 2019 para dois anos depois provocar uma crise política e ter maioria absoluta.Foi uma artimanha de que saiu vencedor. E agora não sabe o que fazer com a sua vitória e é consumido pela pior de todas as situações: o governo pouco faz e não tem desculpa nenhuma, pediu todo o poder de uma maioria absoluta e num ano e meio desbaratou a confiança de boa parte dos seus eleitores”, critica.

Catarina Martins disse ainda que “a maioria absoluta do PS é tudo o que se podia esperar de uma maioria absoluta”, frisando que “usa o aparelho do Estado e perde-se em guerras internas e Portugal assiste incrédulo a um Governo paralisado e enredado nos seus próprios erros”.