“Uma das características dos projetos sustentáveis é diminuir o impacto ambiental” e, para a Pepe Aromas, a empresa agrícola situada na Herdade da Azinheira, em Vale do Pereiro, no concelho de Arraiolos (Évora), era esse “o caminho a seguir”, disse a sócia-gerente, Susana Mendes.
A responsável explicou à agência Lusa que a propriedade agrícola da família é “atravessada por uma linha de caminho-de-ferro desativada”, na qual se situa a estação ferroviária de Vale do Pereiro, que servia a aldeia do mesmo nome.
“Se tínhamos infraestruturas que poderiam ser recuperadas” e se encontravam em “avançado estado de degradação”, seria “uma pena deixá-las ali e construir ao lado um ‘elefante branco’ em betão que ia descaracterizar a paisagem”, pelo que foi feito um contrato de arrendamento com a Infraestruturas de Portugal (IP) Património.
A estação foi recuperada e os edifícios servem, agora, para a empresa. O principal, “onde vivia o chefe da estação”, acolhe os escritórios e loja, “o armazém de mercadorias é a unidade fabril”, onde se tiram os picos do fruto, se faz a calibragem e o embalamento, e a estrutura restante “é a área social dos funcionários, com refeitório, cozinha e balneários”, precisou.
As instalações são inauguradas oficialmente, hoje à tarde, pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos e, segundo a sócia-gerente da empresa, são “uma mais-valia”.
“As pessoas acham muito interessante que a antiga estação de passageiros de Vale do Pereiro, agora, albergue outro tipo de passageiros”, ou seja, aqueles que “vão visitar o pomar de figos-da-índia”, realçou Susana Mendes.
Este projeto “nasceu” em 2013, em terrenos desaproveitados da herdade familiar, com a plantação de quatro hectares de figueira-da-índia, em “modo orgânico e biológico” e “sem qualquer rega”.
Esse ainda é hoje o “campo experimental”, mas a empresa continuou a “aprender” e a investir na plantação do pomar, tendo acrescentado a rega, depois de perceber que esta era necessária nos meses de julho e agosto, na altura dos 40 graus: “Não porque a planta morra, porque é um cato e é muito resistente, mas porque os frutos, sem rega, não atingem o tamanho e a doçura” ideais, frisou.
Hoje, após um investimento a rondar os 350 mil euros, quase todo proveniente de capitais próprios, mas também com apoios comunitários, a empresa possui 25 hectares de pomares de figueira-da-índia, “num projeto 100% biológico e sustentável”.
“Recebemos um prémio de instalação de jovem agricultor ao abrigo do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 (PDR2020)” e, no âmbito do mesmo programa, “estamos a aguardar a aprovação de outro projeto, à volta dos 200 mil euros, relacionado com os pomares plantados em 2017 e com a expansão” da empresa, explicou Susana Mendes.
A faturação deste ano, numa altura em que a empresa ainda está “em fase de investimento”, ronda os 50 mil euros e, nesta campanha, a produção atingiu as 25 toneladas de figo-da-índia, vendido em fresco: “Este foi um ano muito importante porque vendemos metade para o mercado nacional e, pela primeira vez, a outra metade foi exportada, para Espanha”.
Para 2019, revelou, os planos passam por exportar também para “o norte da Europa” e começar a apostar em alguns dos inúmeros subprodutos possíveis deste fruto: “Com esta planta não há nada que vá para o lixo, tudo pode ser aproveitado e o nosso foco, numa primeira fase, vão ser as sementes”, que são ‘cobiçadas’ para óleo pelas indústrias cosmética e farmacêutica, “o sumo e a polpa”.
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