"A madeira da cruz vem de um barco usado por migrantes para atravessar o mar Mediterrâneo e chegar a Lampedusa. A placa atrás mostra a palavra Suscipe, que significa receber", pode ler-se no Twitter do agora Cardeal Michael Czerny.
O jesuíta, subsecretário da Seção de Migrantes no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, não quis passar ao lado da causa que tem vindo a defender.
Assim, além da cruz cujo material vem de um barco naufragado, o Cardeal Michael Czern personalizou o brasão e lema de forma a frisar o seu compromisso em cuidar da Criação e em proteger os migrantes e refugiados, conta a America Magazine, publicação jesuíta americana.
No centro da imagem vê-se um barco que transporta pessoas, numa alusão às viagens dos migrantes, bem como o símbolo dos jesuítas: o sol amarelo, com o monograma IHS (as três primeiras letras do nome Jesus em grego), a cruz e três pregos. Já a cor do escudo — verde — representa o compromisso para com a Criação, a nossa "Casa Comum", como refere o Papa Francisco na Encíclica "Laudato Si".
Contudo, é mesmo nos migrantes — aqui representados por uma família de quatro pessoas no barco — que o Cardeal se quer centrar. "O barco evoca um meio comum para as pessoas deslocadas procurarem uma vida melhor noutro local. É também uma imagem tradicional da Igreja, a Barca de Pedro, que tem um mandato de Nosso Senhor para receber o estrangeiro ("era estrangeiro, e hospedastes-me", lê-se no Evangelho de S. Mateus), independentemente de onde a Igreja se encontre. Além disso, como o símbolo do movimento L'Arche, o barco é um lembrete das obras de misericórdia para com todos os que são excluídos, esquecidos ou desfavorecidos", explica.
Para Michael Czerny, esta não é apenas uma história que se passa com pessoas distantes: ele próprio também já foi migrante. Por isso, a água sob o barco, no seu brasão, é-lhe próxima — em 1948, a sua família teve de cruzar o Atlântico para emigrar da Checoslováquia para o Canadá.
"Quando ouvi o Santo Padre dizer que nós deveríamos acolher, proteger, promover e integrar [pessoas migrantes], traduzi isso de volta para a nossa experiência em família e percebi a verdade dessas palavras", referiu.
E é na simplicidade que este Cardeal quer mostrar esta causa. Ao escolher como lema a palavra latina "Suscipe" [em tradução livre, "receber"], Czerny remete para a primeira palavra de uma das mais conhecidas orações dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio Loyola [fundador da Companhia de Jesus]: Suscipe, Domine, universam meam libertatem [Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade"].
“É nas palavras desta oração que uma pessoa submete, em total rendição a Deus, o que é mais precioso de tudo o que Deus lhe deu, para qualquer uso que Deus considere mais adequado. A palavra Suscipe também evoca a ordem do Senhor de 'receber' o estrangeiro", explicou o Cardeal.
No Twitter, o Cardeal Michael Czerny costuma fazer publicações frequentes sobre o tema das migrações, tentando chamar a atenção para o sucedido. No dia de hoje, 16 de outubro, deixa mais um apelo.
"Todas as semana há um naufrágio — Itália, México, Itália — mas não percebemos que as nossas próprias almas estão a ser destruídas e a afogar-se? Rezemos, urgentemente, por eles [migrantes] e por nós", pode ler-se.
Além dos naufrágios, os resgates
Hoje, os militares da Unidade de Controlo Costeiro (UCC) da GNR em missão na Grécia resgataram de madrugada um total de 71 migrantes em dois locais diferentes do mar Egeu.
O primeiro resgate ocorreu durante uma ação de patrulhamento em que os militares da UCC detetaram uma embarcação de borracha que se encontrava à deriva e sem capacidade de navegação por estar sem combustível. Segundo a GNR, a bordo desta embarcação seguiam 48 migrantes, 14 dos quais crianças, 10 mulheres e 24 homens, tendo o resgate acontecido às 05:00 de hoje.
Três horas depois deste resgate e durante uma ação de vigilância junto à costa, os militares da UCC foram alertados, por uma embarcação da NATO que também se encontra a operar na área, para a possibilidade de existência de uma embarcação de borracha com migrantes a bordo.
Os militares deslocaram-se para o local indicado e realizaram o resgate de 24 pessoas, duas das quais crianças com 25 dias e três anos, sete mulheres, uma grávida de nove meses, e quinze homens, um dos quais paraplégico. Os migrantes resgatados foram transportados em segurança para os portos de Pythagorio e de Chios.
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