“Além disso, há alterações neuropsiquiátricas em pessoas infetadas ou que tenham estado infetadas decorrentes do efeito direto do vírus SARS-CoV-2 no sistema nervoso central, ou através da ativação de uma resposta imunológica intensa”, afirmou a presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental em declarações por escrito à agência Lusa.

Segundo Maria João Heitor, se a pessoa tiver uma doença psiquiátrica prévia, o risco de agravamento dessa doença ou o risco de desenvolver outra patologia é superior com a pandemia.

COVID-19: ALGUNS SERVIÇOS DE APOIO PSICOLÓGICO

Linha SNS24
808 24 24 24 (opção 4)
Para: Utentes e profissionais de saúde do SNS
Plataforma: Chamada telefónica
Horário: 24h/dia
Mais informações: Site do SNS24

SOS Voz Amiga
213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Para: População em geral
Plataforma: Chamada telefónica
Horário: 16h-24h (todos os dias)
Mais informações: Site da associação

acalma.online
https://acalma.online/
Para: População em geral
Plataforma: Videochamada
Horário: A definir na marcação online
Parceiros: Casa do Impacto (SCML), tech4COVID, entre outros.

Cuidar de Quem Cuida
https://www.p5.pt/apoio/
Para: Profissionais de saúde
Plataforma: Videochamada
Horário: A definir na marcação online
Parceiros: DGS, Ordem dos Médicos, Universidade do Minho, Centro de Medicina Digital P5, entre outros.

Clínica ISPA
911 191 822 | clinica@ispa.pt
Para: Profissionais de saúde
Plataforma: Videochamada
Horário: De acordo com a disponibilidade de agenda
Mais informações: Site a Clínica

Ordem dos Enfermeiros
213 815 556
Para: Enfermeiros
Plataforma: Chamada telefónica
Horário: 9h-18h (2ª a 6ª)
Mais informações: Site da Ordem

Outros contactos nas várias regiões do país
https://saudemental.covid19.min-saude.pt/

Esta situação é confirmada pelo psiquiatra Ciro Oliveira, do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa que assistiu, em quase dois anos de pandemia, ao aumento dos níveis de ansiedade e de depressão, muito ligados ao isolamento, nos doentes.

“O próprio medo causa essa ansiedade e estas situações também podem levar alguns doentes a ter mais uso de substâncias como álcool ou outras drogas”, disse, sublinhando que há estudos que apontam para aumentos na ordem dos 20% no consumo de bebidas alcoólicas.

Por outro lado, apontou Ciro Oliveira, alguns estudos também têm revelado algum aumento do pensamento suicida sobretudo nos doentes com patologia mental prévia.

“Tivemos doentes com tentativas de suicídio porque perderam a atividade económica na sua empresa e estavam em situação de fragilidade económica por causa da pandemia”, contou o coordenador do internamento de agudos.

Observou-se também nos idosos com quadros demenciais já instalados uma deterioração mais rápida do que aconteceria numa situação normal devido ao isolamento, ao afastamento de família, à falta de estímulo cognitivo e físico, enquanto outras pessoas anteciparam o desenvolvimento desse quadro demencial.

Já nos jovens está a assistir-se a sentimentos de “insegurança, medo, tensão, não apenas em relação à pandemia, mas também pelas crises económicas que se sucedem”, disse, por seu turno, Maria João Heitor.

“Há impacto nos estilos de vida, no bem-estar, nos sonhos, e na aspiração para o futuro. Há um ‘gap’ [intervalo]crescente entre os ricos e os pobres, e uma classe média a empobrecer com o desemprego e o lay-off. Isto é demolidor para as famílias, nas quais alguns jovens estão inseridos, e para a coesão social”, declarou.

Os psiquiatras defenderam a necessidade de medidas para mitigar as consequências da pandemia, no âmbito da promoção e proteção da saúde mental.

Para Maria João Heitor, essas medidas passam por hábitos e estilos de vida saudáveis e por haver mais informação, sensibilização e literacia em saúde mental, para que as pessoas consigam identificar quando estão em sofrimento psicológico mais prolongado e intenso e procurem ajuda médica precocemente.

Destacou a importância de uma articulação entre o Serviço Nacional de Saúde e os setores privado e social, advertindo que “a saúde sozinha é insuficiente quer na prevenção quer na prestação de cuidados e apoios”.

Maria João Heitor disse ainda ser fundamental a distribuição adequada de recursos multidisciplinares nos serviços de saúde e na comunidade e o alargamento da rede nacional de cuidados continuados integrados de saúde mental para os doentes mais graves.

“A agilização de mecanismos de financiamento e o uso de tecnologias digitais complementares às habituais modalidades nos cuidados de saúde são igualmente medidas necessárias para podermos fazer frente ao aumento da prevalência de doenças psiquiátricas, nomeadamente perturbações depressivas e perturbações da ansiedade”, defendeu.

Para Ciro Oliveira, os governos devem investir em campanhas de prevenção e em políticas que sejam “favoráveis a que as pessoas vivam mais apaziguadas, pelo menos”.

Defendeu também ações preventivas de psicoeducação para os adolescentes em que, eventualmente, se possam identificar jovens que estão em risco elevado de desenvolver uma doença mental para que possam ser acompanhados mais precocemente.

Problemas do foro mental totalizam 40% dos pedidos de ajuda na Linha SOS Voz Amiga

Os pedidos de ajuda à linha SOS Voz Amiga de pessoas com depressão e outras doenças do foro mental aumentaram desde o início da pandemia, em 2020, totalizando 40% do total das chamadas, segundo o presidente da associação.

"Em 2021, pelo menos até finais de junho, foi mais do mesmo do que aconteceu em 2020. Tivemos a mesma quantidade de chamadas, uma média mensal de 1.000, muita ansiedade ainda e notamos que em termos de problemas de saúde mental houve um aumento razoável nessas chamadas", adiantou Francisco Paulino.

Um aumento já verificado em 2020, mas que se acentuou no ano seguinte: "Se antes da pandemia, as chamadas que tinham a ver com problemas de saúde mental eram sensivelmente um quarto do total, neste momento já totalizam 40% do total das chamadas", salientou.

Apesar de ser “uma situação transversal”, tanto de género como de idade, as pessoas com idades entre os 36 e os 55 anos são as que mais ligam com este tipo de problemas.

Destas chamadas, um quarto são de pessoas com depressão, seguindo-se depois todos os outros problemas do foro mental, como esquizofrenia, sendo que “a ansiedade está presente em todas as chamadas, independentemente de qual seja a situação colocada”, disse Francisco Paulino.

"À medida que o sistema de vacinação foi sendo implementado as pessoas foram ficando mais tranquilas, mas agora verificamos que afinal as nossas certezas não eram nenhumas e continuamos nesta batalha contra a covid-19 e a ansiedade está a regressar novamente", salientou.

Entre as chamadas que chegam ao serviço, há também situações de pessoas que “dão a indicação que estão à beira de se suicidar”, mas menos do que em 2020, ano do início da pandemia em Portugal.

“Estranhamente a percentagem de situações com ideação [pensamento] suicida não aumentou muito em 2021”, tendo acontecido mais em 2020 quando “a incerteza era maior”, comentou.

Para Francisco Paulino, o que “é preocupante” é este tipo de apelos acontecer mais nos jovens, com idades entre os 16 e os 25 anos.

“Antes recebíamos poucas chamadas de jovens, agora recebemos bastantes. Talvez se deva a alguma divulgação do nosso projeto que está a cargo das estudantes da Escola Superior de Comunicação Social que têm feito o possível e o impossível por fazerem chegar o serviço junto dos nossos jovens, tanto do secundário como universitário”, estimou.

Mas, advertiu, “se o nosso serviço servir de barómetro o problema está a ficar mais preocupante no meio dos jovens mesmo a nível nacional”.

“Inclusive era raro recebermos chamadas de jovens com menos de 16 anos e estão a acontecer principalmente do sexo feminino [quase 70%]”, sustentou.

Relativamente aos motivos que levam as pessoas a ligarem para a SOS Voz Amiga, apontou a ansiedade, tristeza, depressão, problemas relacionais, primeiro namoro e ideias suicidas.

Sobre o que acontece depois das chamadas, Francisco Paulino afirmou que essa é a “angústia” e a “frustração” dos voluntários da Linha. “Nós podemos achar que aquela chamada correu bem, que conseguimos implantar alguma semente de esperança naquela pessoa e ficamos satisfeitas no momento, mas a partir dali terminou a chamada e também o nosso envolvimento”, lamentou.

De vez em quando, contou, “recebemos no nosso ‘site’, na nossa na nossa caixa de correio, agradecimentos de pessoas a quem ajudamos a ganhar esperança e a ficarem por cá, mas a maior parte não sabemos. Temos de aprender a lidar com isso”.

A SOS Voz Amiga é uma linha de apoio emocional que se disponibiliza a ajudar todos aqueles que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio.

A Associação conta atualmente com 45 voluntários, que depois de uma formação com profissionais de saúde mental, se disponibilizam a atender esta linha telefónica diariamente, entre as 16:00 e as 00:00, (213 544 545/ 912 802 669/ 963 524 660).

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.