Eliminados na primeira volta das presidenciais, os tradicionais partidos de esquerda e direita que partilham o poder em França desde há 60 anos temem ser hoje varridos por uma onda azul, a cor do movimento presidencial criado há apenas um ano.
Segundo várias projeções, neste escrutínio destinado a eleger 577 deputados (11 dos quais em representação dos franceses residentes no estrangeiro), o movimento República Em Marcha (REM), de Macron, poderá mesmo conquistar perto de 400 deputados, muito além do limite de 289 assentos parlamentares necessário para obter a maioria absoluta.
Apesar de os dirigentes europeus e os mercados se congratularem ao saber que as reformas prometidas poderão ser levadas a cabo, a perspetiva de uma concentração dos poderes preocupa as outras forças políticas francesas, que acusam Macron e o seu movimento de porem em prática “uma estratégia de controlo hegemónico”.
A vitória do REM seria a confirmação da sede de renovação política dos franceses, que afastaram os candidatos dos partidos tradicionais e elegeram um Presidente de 39 anos que ainda há alguns anos era um total desconhecido.
Estas legislativas revestem-se de uma enorme importância para Emmanuel Macron, que precisa de uma sólida maioria absoluta para aplicar a sua política de reformas social-liberais: moralização de uma vida política minada por escândalos financeiros, flexibilização do código de trabalho — correndo o risco de desencadear a ira dos sindicatos — e redução dos défices públicos, em cumprimento das normas europeias.
As assembleias de voto abriram hoje às 08:00 (07:00 em Lisboa) em França para a primeira volta das legislativas, e encerram às 20:00 (19:00 em Lisboa), hora a que serão divulgadas as primeiras projeções assentes em resultados parciais.
Mais de 47 milhões de franceses são chamados a escolher os 577 deputados da Assembleia Nacional.
Se nenhum dos candidatos ultrapassar os 50% na primeira volta, os dois primeiros ficam automaticamente qualificados para uma segunda volta, tal como aqueles que ultrapassarem 12,5% dos inscritos — mesmo na terceira ou na quarta posições.
Na segunda volta, agendada para 18 de junho, vence o partido que obtiver mais votos, qualquer que seja a participação do eleitorado.
As eleições decorrem sob fortes medidas de segurança, estando mobilizados cerca de 50 mil polícias e 'gendarmes', dado que a França registou, desde 2015, uma vaga de atentados que resultaram em 239 mortos.
Nas eleições de hoje há, pelo menos, 24 candidatos de origem portuguesa.
De acordo com a lista definitiva publicada pelo ministério francês do Interior, 7.878 candidatos concorrem na primeira volta, tendo a agência Lusa contactado 24 candidatos de origem portuguesa, ainda que haja acima de uma centena de apelidos com grafia portuguesa, entre os quais haverá candidatas francesas casadas com portugueses e candidatos de origem espanhola com apelidos semelhantes aos portugueses.
A associação de eleitos de origem portuguesa Cívica contabilizou um mínimo de 63 candidatos de origem portuguesa, tendo excluído da contagem apelidos como Garcia, Domingos e Costa, disse à agência Lusa o presidente da associação Paulo Marques.
Com a etiqueta ‘A República em Marcha!’, do presidente Emmanuel Macron, candidatam-se, por exemplo, Dominique da Silva, na 7.ª circunscrição do Val d´Oise, Ludovic Mendes, na 2ª circunscrição de Moselle, e, também, Otília Ferreira, na primeira circunscrição de Charente-Maritime, que é candidata do partido centrista MoDem aliado a Macron.
Na corrida eleitoral de Os Republicanos, estão, entre outros, Alexandra Ribeiro Custódio, na segunda circunscrição de Loire, e Bruno Leal, na primeira circunscrição de Charente-Maritime, enquanto, entre os socialistas, a lusodescendente Christine Pires Beaune recandidata-se a um cargo de deputada pela segunda circunscrição de Puy-du-Dôme e Nathalie de Oliveira concorre na terceira circunscrição de Moselle.
A França Insubmissa conta, por exemplo, com Virginie Araújo na 3ª circunscrição de Essonne, e o Partido Comunista Francês espera que Patrice Carvalho, na sexta circunscrição de Oise, conquiste um terceiro mandato consecutivo de deputado, enquanto Fabienne dos Santos se apresenta na 4ª circunscrição de Paris e Catherine dos Santos na 11a circunscriçao de Val-de-Marne.
Pela Frente Nacional concorrem a franco-portuguesa Lucinda Carvalho na terceira circunscrição de Pyrinées-Atlantiques e Franck Beeldens-da Silva na 4.ª circunscrição de Essonne, entre outros.
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