De atuais presidentes de câmara a ‘trovadores’ da mudança, com um estilo popular ou mais moderno, recorrendo a trocadilhos com os nomes ou sem mencionar sequer o candidato, os hinos das campanhas locais voltam a ecoar em força pelas ruas do país, até à ida às urnas, em 26 de setembro.
“Por Vieira [do Minho] sempre”, António Cardoso (PSD), atual líder desta câmara, no distrito de Braga, não dispensa as sonoridades modernas com alguns toques de reggaeton a acompanhá-lo nas ações de campanha e vai já no terceiro hino, pautado pela simplicidade, equiparando o número de candidaturas.
Foi seguindo essa ‘pauta’ que conquistou a câmara minhota em 2013, que conseguiu a reeleição em 2017 e que pretende ser escolhido para um terceiro mandato, a partir deste ano, com um claro apelo ao voto no refrão que promete “com o Cardoso, Vieira [do Minho] a ganhar”.
Um pouco mais a sul no mapa, mas na corrida à câmara mais importante do Norte e ‘bandeira’ da região, o Porto, Vladimiro Feliz, também do PSD, apresenta uma lírica mais elaborada e que desafia o ouvinte a interpretar os ‘trocadilhos’ que ficam no ouvido.
Com o título “Sou do Porto, sou Feliz”, o hino de Vladimiro promete fazer “das tripas coração” e puxa pelo apelido do candidato e pela gastronomia local para apelar ao voto.
Ali ao lado, na Trofa, o socialista Amadeu Dias, de pouco mais de 30 anos, aposta na sonoridade do rap para conquistar o voto dos mais jovens e frisar que a “Trofa merece mais, mais, mais”, e que com a sua eleição vai ter nada mais do que “mais, mais, mais”.
O sufixo “ente”, regra geral, é ‘estrela’ nas letras das músicas. Naturalmente, até porque rima com “presidente”. A imaginação dos autores nem sempre recorre à ‘muleta’ gramatical, mas o resultado rima na mesma, como em Braga, onde o PS promete seguir “em frente” e sair a ganhar “com Hugo Pires presidente”.
O atual autarca da cidade dos arcebispos, Ricardo Rio, também recorre à música para conquistar votos e figura na ‘playlist’ do PSD, CDS-PP e PPM. A coligação aposta igualmente no jogo de palavras com o apelido do candidato para dizer “de um só Rio fez-se mar” e mostrar ‘ganas’ frisando que “há sempre mais a ganhar”.
Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), o ex-árbitro Marco Pina (PSD) ‘sobe ao palco’ com um refrão dinâmico para conquistar Odivelas. Sempre que o adágio é cantado para chamar a cidade com “vamos, vamos, vamos”, o último verso muda para frisar que “nada para um povo quando quer mudar” ou que “os poderosos não nos irão calar, só um árbitro os vai expulsar”.
Muitas vezes, os hinos são compostos e interpretados por músicos amadores locais, mas em Alcochete, também na AML, a CDU foi buscar uma artista de uma cidade próxima para tentar recuperar uma das câmaras perdidas a sul do Tejo, para o PS, nas eleições de 2017.
O setubalense Toy, bem ao seu estilo popular/romântico, apela ao voto no candidato comunista puxando pelo seu nome no refrão que canta: “Luís Franco eu e tu / sonho a realizar / com a CDU / para ganhar”.
Não tão famosa como o autor de “Coração Não Tem Idade”, a professora e fadista Teresa Aleixo, em Faro, interpreta o hino da coligação liderada por Rogério Bacalhau, que compila as vontades de PSD, CDS-PP, Iniciativa Liberal, Aliança, MPT e PPM, e da qual faz inclusivamente parte, no 6.º lugar.
Mas, se as referências aos nomes dos candidatos e das terras que pretendem conquistar são uma constante, também neste campo existe uma exceção que confirma a regra, com a CDU a tentar vencer em Aljustrel (Beja) com um hino que em momento algum menciona o nome da vila alentejana, dos partidos da coligação (o PCP e o PEV) ou sequer do seu candidato, Fernando Ruas.
No entanto, não são apenas os partidos tradicionais que apostam na música para apelar aos eleitores. Os movimentos independentes que vão às urnas em 2021 também já perceberam a utilidade das canções que ficam no ouvido para conquistar votos.
Em Alvaiázere (Leiria), por exemplo, o movimento independente Vamos Alvaiázere adapta um tema dos Deolinda, “Movimento Perpétuo Associativo”, para garantir que “agora sim vamos dar a volta a isto” e que, com o voto em António Cardo, “agora não há mais favorecimentos / agora não há mais cunhas ao jantar”.
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