Por 437 votos a favor e 7 contra, os deputados aprovaram a exoneração de Flordelis, eleita em 2018 pelo Partido Social Democrata (PSD, conservador), num plenário no qual a ex-parlamentar participou, acompanhada do seu advogado.

As provas da investigação "não deixam dúvidas de toda a participação que circunscreve o homicídio de Anderson do Carmo por parte da representada deputada Flordelis", disse o relator do caso, o deputado Alexandre Leite, ao recomendar a cassação por descumprimento do decoro parlamentar.

Flordelis, de 60 anos, foi acusada pela Justiça do Rio de Janeiro por ter planeado o assassinato do pastor Anderson, 42 anos, com a cumplicidade de sete dos seus quase 50 filhos, entre naturais e adotivos, além de uma neta, devido a disputas por dinheiro e poder.

"O relacionamento entre a deputada e o seu marido, perante as conversas interceptadas, já vinha de longo tempo, de longa data, em maus caminhos e mal encaminhado, até que se tomasse este fim trágico", disse o relator.

Segundo Leite, a parlamentar não conseguiu provar a sua inocência, tentou usar o mandato para cooptar um de seus filhos para assumir a autoria do crime, era a única da família com recursos para comprar a arma do crime e também teria abusado de prerrogativas parlamentares.

Flordelis permaneceu em liberdade devido à sua imunidade parlamentar, mas desde outubro de 2020 foi lhe imposto o uso de pulseira eletrónica.

"Quando o Tribunal do Júri me absolver, vocês irão colocar a cabeça no travesseiro e vão se arrepender de ter condenado alguém que ainda não foi julgada, vocês estão tentando cassar uma pessoa que ainda não foi julgada", defendeu-se Flordelis no plenário.

A deputada poderá ainda recorrer da decisão na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.

Anderson foi morto a 30 tiros na garagem da sua casa em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, pelas mãos do seu enteado Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis.

O Ministério Público atribuiu o crime às tensões criadas pelo controlo rigoroso das finanças da família por Anderson, que impediu um tratamento preferencial aos mais próximos de Flordelis.

Anteriormente, a ex-deputada, também conhecida por cantar gospel, teria tentado envenenar a comida ou bebida do marido em pelo menos seis ocasiões.

No total, onze pessoas (quase todas da família) foram denunciadas e irão a julgamento.

Nascida na favela do Jacarezinho, Flordelis conheceu Anderson em 1994 e desde então teve quatro filhos biológicos e adotou mais de 50 bebés, crianças e adolescentes vulneráveis.  Com eles, fundou o Ministério da Comunidade Evangélica Flordelis.

A sua história foi retratada em 2009 num filme, uma mistura de documentário e ficção, protagonizado por atores da TV Globo.