Com esta queda, a cotação do barril de referência da OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo) acentuou o afundamento iniciado depois do surto da pandemia da covid-19 na China, tendo perdido 76% - ou 54 dólares - face ao pico de 70,87 dólares que alcançou a 06 de janeiro.
A última vez que se situou num nível tão baixo foi em dezembro de 2001, quando registava uma forte descida causada por uma crise do transporte aéreo, depois dos atentados terroristas contras as Torres Gémeas de Nova Iorque em 11 de setembro de daquele ano.
Agora, à redução de voos, muito maior do que a de então, junta-se a limitação das deslocações e o distanciamento social que foram impostos em boa parte do planeta como medida para travar a propagação da covid-19.
Tudo isto repercutiu-se numa drástica redução da procura petrolífera mundial, que na quarta-feira ficou refletida na notícia de que 13,8 milhões de barris de petróleo se juntaram na semana passada às reservas comerciais armazenadas nos Estados Unidos.
"O petróleo viveu muitas crises, mas nenhuma tão feroz como a atual", escreveu num 'tuit' Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), que considera que esta crise vai parar produções e travará investimentos na indústria, com "repercussões no setor energético, na economia e no comércio em geral".
O colapso do preço da OPEP coincidiu na quarta-feira com vários relatórios a confirmarem que a Arábia Saudita, líder natural da organização, estava a abrir as torneiras no meio de uma guerra de preços desencadeada depois do fracasso das negociações com a Rússia para manter os cortes da produção de petróleo.
O fracasso ocorreu em 06 de março em Viena, quando a reunião da OPEP e seus aliados, incluindo a Rússia, terminaram sem acordo devido à recusa de Moscovo em dar luz verde a um novo corte da produção para combater a contração da procura provocada pela pandemia.
Os 23 países produtores do grupo nem conseguiram acordar em prolongar os cortes atuais que terminaram em 31 de março, para que, desde quarta-feira, todos possam produzir os volumes que desejam e podem.
Segundo analistas, o colapso dos "petro-preços" é o resultado de uma procura recessiva e uma oferta em alta, e pode levar à falência de muitas empresas de mineração, especialmente empresas de petróleo de xisto nos Estados Unidos.
Perante esta situação, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quarta-feira que manteve conversas telefónicas com o homólogo russo, Vladimir Putin, e o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salmán, para retomar a cooperação iniciada em 2016, de limitar os cortes da produção de petróleo e, assim, sustentar os preços. "Acho que eles chegarão a um acordo", disse Trump numa entrevista conjunta.
Na manhã de hoje, o preço do petróleo Brent, de referência na Europa, estava a recuperar parte do terreno perdido, quando se cotou no mercado futuro de Londres a 27,35 dólares por barril, mais 10,1% que na quarta-feira.
A situação é um duro golpe para os membros da OPEP - Venezuela, Guiné Equatorial, Arábia Saudita Irão, Iraque, Argélia, Angola, Congo, Gabão, Kuwait, Líbia, Emiratos Árabes Unidos e Nigéria -, porque são muito dependentes das receitas geradas pelas vendas do ouro negro.
Da mesma maneira estão a ser atingidos outros produtores independentes, como a Rússia, México, Brasil, Equador ou Colômbia.
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