O gato, chamado “Negrito” e que já morreu, vivia com uma família de várias pessoas infetadas pela covid-19 e sofria de uma doença cardíaca.
Um dos investigadores, Joaquím Segalés, citado pela agência Efe, afirmou que “a cadeia de transmissão do vírus é de pessoas para gatos, e os gatos são as vítimas colaterais da doença nos seres humanos”.
O técnico salientou que “a via predominante de transmissão da covid-19 é de humano para humano, e que a capacidade dos gatos para transmitir a doença é insignificante, ou seja, não desempenham um papel significativo na epidemiologia da doença”.
“Não há provas de transmissão dos animais para os seres humanos e não conhecemos a capacidade dos animais de infetarem outros animais”, acrescentou.
Um estudo recente feito na China demonstrou que a transmissão é possível, mas muito difícil em condições laboratoriais, pelo que, “em condições reais, deverá ser ainda mais difícil”.
Por seu lado, a diretora da CReSA, Natàlia Majó, também citada pela agência de notícias espanhola, indicou que é possível “que alguns animais sejam infetados através do contacto próximo com pessoas infetadas”, dado que a infeção pelo novo coronavírus já se espalhou amplamente entre a população humana.
Estudos científicos publicados até agora indicam que os gatos são uma das espécies de animais sensíveis à infeção pelo SRA-CoV-2, tais como furões, martas, hamsters, primatas não humanos e, em menor grau, cães.
Contudo, Majó considerou que, neste momento, “existem poucos estudos sobre a suscetibilidade das diferentes espécies animais ao coronavírus e sobre a dinâmica da infeção em espécies animais sensíveis”.
O “Negrito” foi internado num hospital veterinário com graves dificuldades respiratórias, uma temperatura retal de 38,2 graus, um nível muito baixo de plaquetas e insuficiência cardíaca, tendo por isso sido praticada uma eutanásia para aliviar a sua situação.
Posteriormente, foi transferido para a CReSA, onde foi submetido a uma necropsia, dado que este centro possui uma unidade de bio-contenção adequada para trabalhar com o coronavírus.
A necropsia mostrou que o gato tinha uma cardiomiopatia hipertrófica felina, geralmente de origem genética, e que as causas de insuficiência cardiorrespiratória aguda eram edema e congestão pulmonar e hemorragia.
Além disso, foi detetado material genético SARS-CoV-2 em amostras retiradas do nariz e do gânglio linfático mesentérico (que drena o intestino), embora com uma carga viral baixa, e nenhuma das lesões apresentadas pelo animal era compatível com a infeção pelo vírus.
Segalés considerou que a deteção do coronavírus neste animal “foi acidental e não relacionada com os sintomas clínicos para os quais foi decidido praticar a eutanásia”.
Esta investigadora indicou que todos os casos conhecidos de gatos infetados pelo coronavírus tinham um denominador comum, pertenciam a famílias com doentes da covid-19.
Acrescentou que este caso era especial, porque os técnicos sabiam “que [o gato] estava num ambiente com pessoas com a covid-19 e poderia ter sido exposto ao vírus”.
Os investigadores recomendam, assim como é defendido pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), que as pessoas infetadas com o vírus e com animais de estimação em casa tomem medidas básicas de higiene, como lavar as mãos antes e depois do contacto com os animais ou ao manusear os alimentos ou objetos pessoais, bem como evitar dar beijos.
“Se possível, o melhor a fazer é evitar o contacto direto”, foi recomendado pelo CReSA, um centro pertencente ao Instituto de Investigação e Tecnologia Alimentar e Agrícola (IRTA), que faz parte do departamento da Agricultura, Pecuária, Pescas e Alimentação do Governo regional catalão.
Sintomas como febre, tosse, dificuldade em respirar, espirros, vómitos, diarreia ou letargia são sinais clínicos potencialmente compatíveis com as infeções pelo SARS-CoV-2, pelo que os investigadores recomendam que, em caso de dúvida, seja melhor consultar um veterinário.
A Espanha é um dos países mais atingidos pela covid-19, que a nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, já provocou cerca de 267 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
O país registou, nas últimas 24 horas, 229 mortes devido à pandemia de covid-19, uma ligeira subida em relação aos 213 de quinta-feira, havendo até agora um total de 26.299 óbitos, segundo as autoridades sanitárias.
De acordo com o Ministério da Saúde espanhol, há 1.095 novos casos positivos, um número que apesar de superior ao de quinta-feira, mantém a tendência de redução dos últimos dias, elevando para 222.857 o total de infetados confirmados pelo teste PCR, o mais fiável na deteção do vírus.
Comentários