A decisão foi tomada em conjunto pela Direção-Geral da Saúde e o Infarmed e foi comunicada numa conferência de imprensa onde estiveram presentes a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, o presidente do Infarmed, Rui Ivo, e o coordenador da task-force para a vacinação contra a Covid-19, Henrique Gouveia e Melo.

Rui Ivo anunciou que tanto a DGS como o Infarmed recomendaram a “interrupção temporária” do processo de vacinação" contra a covid-19 com a vacina da AstraZeneca "tendo por base o princípio da precaução em saúde pública”.

De acordo com o presidente do Infarmed, a decisão foi tomada "após terem sido hoje conhecidos novos casos de reacções adversas graves que foram reportadas em vários países europeus após a administração da vacina da AstraZeneca".

Conforme foi comunicado pela Agência de Avaliação de Medicamentos, os casos "estão em avaliação" e "ainda não foi possível estabelecer uma relação de correlação entre os casos reportados e a toma da vacina", sendo que as autoridades estão a aguardar os resultados da avaliação ainda esta semana, disse Rui Ivo.

Já Graça Freitas quis frisar que apesar das reações adversas serem "extremamente graves", são também "extremamente raras", sendo que estão "notificados alguns casos" e já foram administradas na Europa "cerca de 17 milhões de doses da vacina". A diretora-geral da Saúde lembrou também que esta pausa "só está a ocorrer por um mecanismo de extrema segurança e precaução”, pedindo às pessoas que "mantenham a confiança nas instituições".

Rui Ivo, todavia, admitiu que houve dois casos de tromboembolismo registados em Portugal, mas que são "distintos dos que estamos a referir e que motivaram esta recomendação", sendo de "perfil clínico diferente" e que até são "situações que estão em recomendação".

A diretora-geral da Saúde quis ainda deixar uma nota a quem já foi vacinado em Portugal com a vacina da AstraZeneca, pedindo-lhes para se manterem tranquilas, recordando que "no nosso país não foram reportados casos semelhantes ao encontrado nos outros países".

Ainda assim, apesar da nota apaziguadora, Graça Freitas pediu atenção. "Se sentir mau estar persistente, durante alguns dias, sobretudo se for acompanhado de nódoas negras ou de hemorragias cutâneas, não hesite e consulte um médico”, indicou.

Tomando a palavra o coordenador da task-force para a vacinação contra a Covid-19, Henrique Gouveia e Melo adiantou que a principal consequência da suspensão da administração das vacinas da AstraZeneca foi o adiamento da vacinação do pessoal docente e não docente do pré-escolar e o primeiro ciclo, que era suposto começar no próximo fim de semana.

“Os planos que já estavam em execução foram postos em pausa a partir de hoje à tarde, esses planos estão prontos mas serão adiados até que estas dúvidas deixem de existir”, indicou. Gouveia e Melo disse também que está previsto que a primeira fase de vacinação termine no mês de abril, sendo que a vacinação com as outras vacinas irá prosseguir sem alterações.

A suspensão vai também obrigar ao atraso da vacinação de utentes com mais de 50 anos com comorbilidades até aos 80 anos aos quais as vacinas da AstraZeneca estavam destinadas. Este grupo será vacinado com doses da Pfizer e da Moderna, o que obrigou ao adiamento por cerca de duas semanas do seu processo de vacinação

“Em meados de abril, todos esses utentes serão vacinados”, sublinhou Gouveia e Melo, admitindo que o processo de vacinação vai ficar “ligeiramente atrasado”.

A pausa, garantiu o almirante, não vai "fazer desperdiçar as vacinas" porque estas estão "armazenadas em condições de preservação que não fazem com que sejam desperdiçadas", adiantando que "já foram dadas 400 mil vacinas e vão ficar em armazém cerca de 200 mil".

Inicialmente, no domingo, a Direção-Geral de Saúde (DGS) e o Infarmed afirmaram que a vacina da AstraZeneca pode continuar a ser administrada e frisaram que não há evidência de ligação com os casos tromboembólicos registados noutros países. No comunicado conjunto, a DGS e o Infarmed recordavam que os casos notificados na Noruega “estão a ser avaliados pelo Comité de Segurança, PRAC, da Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos (EMA)“, esperando-se uma conclusão durante esta semana.

A EMA defendeu hoje que “os benefícios” da vacina da AstraZeneca contra covid-19 “superam os riscos de efeitos secundários”, garantindo ainda assim uma “análise rigorosa” às situações de formação de coágulos sanguíneos em vacinados.

“Enquanto a investigação está em curso, a EMA continua a considerar que os benefícios da vacina AstraZeneca na prevenção da covid-19, com o risco associado de hospitalização e morte [devido à pandemia], superam os riscos de efeitos secundários”, vinca o regulador europeu em nota de imprensa.

Numa altura em que “várias autoridades responsáveis pelas campanhas nacionais de vacinação nos países da UE decidiram fazer uma pausa temporária” no uso da vacina da AstraZeneca, a EMA esclarece que esta decisão se traduz numa “precaução tomada à luz da sua situação nacional”.

Espanha, França, Itália e Alemanha também anunciaram hoje que iriam também suspender a vacinação com doses da AstraZeneca, juntando-se a outros países europeus como a Noruega, Países Baixos, Irlanda, Bulgária, Áustria, Estónia, Lituânia, Letónia, Luxemburgo e Dinamarca.

Andrew Pollard, diretor do Oxford Vaccine Group, que desenvolveu a vacina com a AstraZeneca, disse hoje à BBC que há “evidências muito tranquilizadoras de que não há aumento no fenómeno do coágulo sanguíneo aqui no Reino Unido, onde a maioria das doses na Europa foram administradas até agora”. O especialista frisou a importância de continuar a vacinação contra o novo coronavírus, que provoca uma doença que apresenta “enorme risco” para a saúde.

No domingo, em comunicado, a AstraZeneca disse que “uma revisão cuidadosa” dos dados de segurança disponíveis sobre mais de 17 milhões de pessoas vacinadas na União Europeia e no Reino Unido “não produziu evidências de um risco aumentado de embolia pulmonar, trombose venosa (TVP) ou trombocitopenia em qualquer faixa etária, sexo, lote ou país específico”.

“Cerca de 17 milhões de pessoas na União Europeia e no Reino Unido já receberam a nossa vacina e o número de casos de coágulos sanguíneos relatados neste grupo é menor do que as centenas de casos que seriam esperados na população em geral”, comparou Ann Taylor, diretora médica, citada no comunicado.