O que não podia faltar no seu Governo? As respostas de:
- Susana Coroado
- Paulo Sande
- Luísa Lopes
- Francisco Seixas da Costa
- Maria Manuel Leitão Marques
- José Correia Guedes
- João Duque
- Margarida Bentes Penedo
- Tiago Mayan Gonçalves
- Carlos Guimarães Pinto
- Miguel Guimarães
- Álvaro Beleza
> Presidente da Transparência Internacional Portugal
Mais do que criar um ministério, acho que fazia algo como têm os britânicos, que é ter um independent advisor [conselheiro independente] para aconselhar o primeiro-ministro sobre o cumprimento ou incumprimento do Código de Conduta do Governo - que é, obviamente, um código de conduta muito mais elaborado do que este que foi feito pelo Governo de António Costa. E fala de tudo, até da relação entre os ministros e a administração pública, como os ministros não podem utilizar a administração pública para interesses partidários, como não podem exercer bullying, como se devem comportar nas redes sociais... Penso que criava esta figura. Vemos o que se está a passar no Reino Unido [festas em Downing Street] - e é verdade que ultrapassa todos os limites e que democracia britânica está um caos -, mas uma coisa é certa: há instituições fortes. Alguma vez em Portugal, se houvesse uma festa nos jardins da casa do primeiro-ministro, ia haver uma investigação independente para avaliar isso? Alguma vez o Governo ia permitir que viesse alguém de fora investigar se o primeiro-ministro fez ou não fez uma festa?
> Advogado, ex-consultor político de Marcelo Rebelo de Sousa e especialista em assuntos europeus
Temos de ter um Governo pequeno, temos de ter um Governo dos melhores, que é uma coisa que não temos. Não sei se podemos ter um Governo dos melhores com as regras que existem atualmente, tenho muitas dúvidas. A maior parte das pessoas não está para correr riscos, tem dificuldade em correr riscos. Sou, por definição, por sentimento e por vocação, liberal, acho que não podemos ter um Estado tão pesado como temos.
Sou por um Estado forte, muito forte sempre que é preciso - é na pandemia que eu preciso do Estado, não preciso do Estado quando as coisas correm bem. Quero que o Estado me saia da frente nas empresas e quero, obviamente, a redução da carga fiscal, porque não é possível as pessoas viverem assim. Como é que os jovens a começar vida conseguem ficar na cidade? Com ordenados de 800 ou de 1.000 euros não têm hipótese.
Mas isto é como pegar num doente muito doente, dar-lhe um remédio espetacular que lhe dá uma energia enorme, só que o corpo já não aguenta. As coisas têm de ser feitas com tempo e com calma. Confesso que gostava de não ver outra vez os mesmos; não é com as mesmas pessoas, a fazer as mesmas coisas, que vamos lá. Vivemos um tempo de hedonismo, as pessoas vivem encantadas consigo próprias - mas não é só Portugal -, somos uma espécie de narcisos. Acho que o modelo clássico dos partidos políticos está condenado, não vai lá. São pessoas que começam a ter vícios muito cedo e depois nem se desenvolvem do ponto de vista profissional, intelectual. Lucas Pires, como Ernâni Lopes, estiveram na política e eram pessoas de grande qualidade e até com honestidade do ponto de vista intelectual. Mas não posso ter um Governo com 50 e tal governantes, tenho de ter um Governo com 20 governantes para que as coisas façam sentido, para que haja coerência. Não posso ter ministros à procura de uma áreazinha onde possam ter algum tipo de poderzinho. A solução não tem a ver com nomes, tem a ver com isto.
> Neurocientista, investigadora no Instituto de Medicina Molecular
Formaria um Governo utilizando o método científico. Primeiro, o estudo aprofundado prévio, o que significa atribuir pastas de acordo com competências e conhecimento em cada área específica, não por agradecimento de serviços partidários na campanha. Segundo, avaliação das situações concretas e formulação de hipóteses de resolução com bases sólidas. Terceiro, visão e estratégia, muito além do simples interesse eleitoral, na aplicação dos métodos. Quarto, usar como referência o conhecimento de outros que o fizeram melhor. Estudar e implementar modelos de outros países com problemas similares; a Irlanda, por exemplo, é um modelo a ter em conta, que com uma dimensão e PIB semelhante ao português conseguiu criar valor e progresso para os cidadãos com uma série de medidas ao alcance de Portugal. Quinto, análise cuidada, avaliação dos resultados, contando com outros colaboradores especialistas, e correção, se necessário. Sexto, aplicar o conhecimento e a experiência adquiridos noutras áreas. Ministérios a não perder: o da Cultura e o da Ciência. Um país é tão rico quanto o talento artístico e conhecimento que cria e impulsiona. Ministérios cujo impacto e ação me escapam: o da Coesão Territorial. Prioridade: o combate da corrupção e clientelismo com fortes penas e funcionamento da Justiça para todos. Forte investimento em Educação e Ciência, os pilares do progresso. Desburocratização e simplicidade tributária para cidadãos e empresas para tornar ágil e incentivar o empreendedorismo. Para aplicar no SNS e num forte Estado Social que não seja injusto e desigual.
> Ex-Embaixador e secretário de Estado dos Assuntos Europeus [1995 a 2001]
Sei que é uma questão polémica, provavelmente a contraciclo da ideia de fazer um Governo curto e “enxuto”. Mas há muito que acho que era importante existir um ministro - mas não um ministério - dependente do primeiro-ministro, exclusivamente dedicado à promoção de medidas interministeriais para a integração dos estrangeiros, que hoje já representam uma percentagem importante da população em Portugal. Em nenhum caso o cargo devia ser titulado por alguém que tivesse essa origem, para não “caricaturar” o lugar. Devia ser uma personalidade conhecida, com peso público, um senador, vindo da sociedade civil e (importante!) de fora do serralho partidário, cuja vontade pudesse pesar junto do PM e ter autoridade própria para poder ser ouvido na Assembleia da República. Era uma tarefa a prazo, para repensar o que existe, para estimular coisas novas (lá fora, há muitos exemplos a seguir), para dar coerência às muitas iniciativas dispersas.
> Deputada europeia e ex-ministra da Presidência e da Modernização Administrativa
O que não podia faltar? Mulheres, e estão lá. Para mim também a transição digital no centro do Governo, como já escrevi, bem como os assuntos europeus. Também estão no sítio certo. Quanto ao resto, o sucesso de um Governo mede-se pelos seus resultados. O desenho é bom e claro, vamos ver se funciona.
> Antigo comandante da TAP e especialista em aviação
Começava por criar um Ministério da Solidão, que já existe no Reino Unido. Somos um país de velhos a precisar de mais cuidados e atenção. Lugar ideal para o presidente Marcelo, se quisesse abdicar das atuais funções. Dupla vantagem.
Também precisamos de um Ministério para a Corrupção. Se for eficaz, pode poupar muitos milhões ao Orçamento do Estado.
Descartáveis são o Ministério da Justiça, que há décadas não existe, e o Ministério da Defesa Nacional, pelas mesmas razões. No limite, basta-lhes uma secretaria de Estado ou uma direcção-geral.
Por fim, seríamos verdadeiramente originais se tivéssemos um Ministério da Oposição. Eu explico. O Governo tem maioria absoluta e a oposição institucional não existe. Como o presidente da República também não atrapalha grande coisa, era importante arranjar alguém que o fizesse. Ana Gomes seria ser a pessoa indicada para o lugar.
> Professor catedrático de Finanças do ISEG
O governo dos Países Baixos tem 22 ministros e sete secretários de Estado. Com isso eles governam um país de 17 milhões de pessoas. Portugal devia ter um a menos para lhes poder atirar à cara que afinal sabemos gastar o dinheiro de modo eficiente e não em vinho e mulheres. Como temos 18 ministros [incluindo primeiro-ministro] e 38 secretários de Estado, estamos com o 56, o que é o dobro. Vamos falar de eficiência às empresas?
> Arquitecta, dirigente do CDS-PP e deputada municipal em Lisboa
Se um homem mostrou que não tem condições para ser ministro de Portugal, ele chama-se Fernando Medina. Como presidente da Câmara, entregou à embaixada da Rússia, ao longo do tempo, e com o seu conhecimento direto pelo menos desde abril de 2021, os nomes e os dados pessoais de vários dissidentes que se manifestaram em Lisboa contra o regime de Putin.
Medina enrolou-se em mentirolas até se perceber publicamente que a prática tinha sido continuada, mesmo depois das primeiras queixas dos manifestantes. Depois apontou as responsabilidades a um “erro burocrático” e daí em diante entregou-se à desvalorização do que fez. A gravidade do caso foi publicada e comentada em vários jornais estrangeiros.
Medina não tem a mais vaga noção do papel e das funções de um governante. Não respeitou a obrigação de proteger o direito dos cidadãos se manifestarem em plena liberdade. Em lugar de garantir a sua segurança, traiu estes cidadãos e entregou as cabeças deles a uma cleptocracia sanguinária. Medina prepara-se para tomar posse, dentro de dias, com a pasta das Finanças. Ele não sabe o que é ser ministro.
> Ex-presidente do Conselho de Jurisdição da Iniciativa Liberal e presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde
Teria de ter necessariamente um Ministério da Desmontagem do Estado, responsável por garantir de forma robusta a diminuição da intervenção do Estado em múltiplos aspetos da vida das pessoas. Proponho um anti-Costa e Silva para ser esse Ministro.
Ministérios que não existiriam tais quais são neste momento seriam o da Saúde e da Educação; o acesso universal aos cuidados de saúde e à educação, que quero que permaneça, seriam garantidos pelo mercado e pelo Estado não-central.
A prioridade essencial do próximo Governo teria de ser a devolução de poder aos cidadãos, sobre as suas várias formas: económico, social, político, mediático. Para conselheiros, quereria gente com algo a perder nas opções que tomasse. Uma pessoa que não podia faltar era o Carlos Guimarães Pinto, para me manter na linha (e eu a ele).
> Economista, membro da Iniciativa Liberal
Três desejos irrealizáveis para um Governo:
Um Governo que fosse capaz de ir buscar os melhores quadros da sociedade civil, especialmente em áreas técnicas como a saúde, a educação ou a justiça. Pese embora a importância de quadros políticos em determinadas áreas, a presença de quadros técnicos seria importante e um bom sinal para o resto da sociedade.
Um Governo que, em vez de se voltar a concentrar em Lisboa, fosse capaz de ter mais ministérios a funcionar noutras zonas do país. Um ministério cria todo um ecossistema de formação de quadros à sua volta e esses quadros continuam a ser formados apenas em Lisboa, deixando a todas as pessoas que se interessam por políticas públicas a única opção de se mudarem para Lisboa.
Um Governo mais pequeno, que fosse capaz de descentralizar os seus poderes de decisão para níveis inferiores, em vez de concentrar o poder numa estrutura grande e burocrática.
Um dia, talvez.
> Bastonário da Ordem dos Médicos
Temos um Serviço Nacional de Saúde que funciona exatamente como há 42 anos. Ou seja, em termos de regras de contratação, de procedimentos da administração pública, de autonomia dos hospitais e dos serviços, de flexibilidade em determinado tipo de decisões, como contratar meia dúzia de enfermeiros, de médicos ou de técnicos de saúde, continuamos como há 42 anos. Imagine que éramos um empresa do setor privado, já tinha ido à falência. Cerca de 40% dos médicos que se formam não aceitam ficar no SNS, atiram com a toalha ao chão, desistem.
Outra coisa: com um processo clínico único poupar-se-iam milhões. Somos o país que está mais digitalizado na saúde, temos os processos digitais, as receitas desmaterializadas. Temos de avançar na transformação digital, possibilidade de fazer consultas à distância, mas com tecnologia apropriada, ditar em vez de escrever processos, o mesmo com pedidos de exames. Temos de ter nos centros de saúde, nos hospitais públicos, como já acontece em alguns privados, as condições adequadas para fazer consultas à distância. Mas, mais do que isso, uma aproximação entre os hospitais e os centros de saúde.
> Presidente da SEDES e diretor de Serviço de Sangue do Hospital de Santa Maria
A chave, para mim, é como gerimos o sistema de saúde, públicos e privados, de maneira a servir todos os portugueses e os que vivem em Portugal. É preciso que o SNS esteja no século XXI - revolução digital, velocidade, flexibilidade, meritocracia. Temos de nos adaptar aos tempos atuais. Melhorar a gestão, a articulação entre cuidados primários, continuados e hospitalares, mas também o sistema. E tem de aplicar fundos bem aplicados, não pode estar a gastar milhares de milhões na TAP e não ter milhares de milhões para gastar na saúde. Tem de haver prioridades. Até agora os ministros da saúde foram médicos ou administradores, precisamos de um matemático/informático, um engenheiro, um homem da Microsoft. Haverá uma App em que as pessoas têm um problema, vão lá, e já lhes diz que análises e que exames precisam de fazer. Isto é que é inteligência artificial.
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"O sapo e o escorpião" é um podcast produzido pela MadreMedia que todas as semanas trará a discussão dos temas na agenda política ao SAPO24.
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