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Aos 22 anos, Josh Richards é uma das figuras mais multifacetadas da nova geração digital. Tornou-se conhecido no Musical.ly (antes de se transformar em TikTok), acumulou milhões de seguidores nas redes sociais e depressa passou de criador de conteúdos a empreendedor, investidor e produtor.

Nomeado pela Forbes para a lista "30 Under 30", é cofundador da CrossCheck Studios, uma empresa de produção de conteúdos, e investe em inúmeras empresas que cruzam entretenimento e tecnologia.

À conversa com o 24notícias durante a Web Summit 2025, Josh Richards falou sobre o percurso que o levou a transformar a popularidade digital num verdadeiro império empresarial, as lições que aprendeu com os primeiros erros, a importância de construir uma equipa sólida e o papel dos criadores no futuro do investimento.

O Josh começou no Musical.ly, em 2017. O que o fez querer ir além da criação de conteúdos e entrar no mundo dos negócios?

Que escolha incrível com o Musical.ly [ri].

Acho que sempre fui uma pessoa muito interessada no lado empreendedor de tudo o que fazia. Mesmo quando era mais novo e praticava desportos, como hóquei ou lacrosse, sempre quis começar algo meu. Quando tinha uns dez anos, lancei uma marca de camisolas de hóquei. Depois, aos doze, comecei uma pequena empresa de lacrosse — personalizava os tacos, tingia as redes, aplicava cera…

Por isso, quando comecei nas redes sociais, com o Musical.ly, comecei rapidamente a encarar aquilo como um negócio. Envolvi a minha irmã, que tinha um salário baseado numa comissão de 15%. Nós tínhamos 12/13 anos na altura e já fazíamos muito streaming.

Percebi muito cedo que estava a criar uma espécie de base de clientes que me seguia e a quem podia vender coisas e que, se os tratasse da forma certa, iriam continuar comigo durante anos. Por isso, desde o início, vi tudo como uma empresa.

E como é que essas experiências online iniciais moldaram a sua forma de abordar o empreendedorismo hoje?

No início, trabalhei com algumas pessoas que não eram totalmente honestas. Escondiam coisas ou levavam-me a acreditar em situações que, meses depois, percebia que não eram verdadeiras. Cheguei a ser excluído de certos negócios ou a receber menos dinheiro do que me era devido.

Aprendi rapidamente que as pessoas com quem trabalhas e com quem te rodeias são fundamentais. São elas que gerem a tua equipa, a tua reputação, o teu negócio. Como influencer, mesmo que ainda não tenhas criado um produto, tu próprio és o produto. És uma empresa. E, tens uma audiência que te considera valioso o suficiente para te seguir.

O teu manager, o agente, o contabilista, o assistente — todos fazem parte do teu exército. Se não te sentes confortável em ir para o campo de batalha com essas pessoas, vai ser muito difícil crescer e continuar a construir a tua marca pessoal. Por isso, é essencial associares-te às pessoas certas, avançar com calma, sem apressar nada.

Eu tive a sorte de cometer esses erros cedo e aprender com eles. Agora, tenho uma grande equipa.

Josh Richards na Web Summit 2025
Josh Richards na Web Summit 2025 créditos: Pedro Santos | MadreMedia

Há alguma ideia errada comum sobre criadores que entram no mundo dos negócios?

Sim, sem dúvida. Muitas vezes dizem-nos que somos demasiado jovens ou que não seguimos o caminho tradicional da universidade e, portanto, não temos formação suficiente para falar de certos temas ou entrar em certas áreas.

Acho que isso é completamente errado. Hoje em dia há mil formas de aprender. A internet está cheia de recursos. E, além disso, podes contactar diretamente pessoas com quem queres aprender.

Eu comecei por enviar e-mails. Escrevia a pessoas de topo, as melhores nas áreas que me interessavam, e apresentava-me: "Olá, eu sou o Josh, esta é a minha biografia, gostava de ligar-lhe durante 30 minutos para aprender consigo".

Se me respondessem com um não, tudo bem. Quem quer saber? Eles nem se vão lembrar daquele e-mail. Se dissessem sim? Ótimo, ganhei uma conexão.

Aumentei a minha rede e aprendi com pessoas excelentes. Isso vale mais do que qualquer aula. No fundo, és tu quem controla o teu percurso. E, se fores consistente, mais cedo ou mais tarde as pessoas têm de te levar a sério.

Tem investimentos em várias áreas. De que forma é que a sua experiência como criador influencia as suas escolhas de investimento?

O que mais me guia é perceber de que forma é que eu ou a minha empresa podemos ajudar a alavancar a marca em questão. Quando penso em investir pergunto-me: "Isto vai apelar à Geração Z? À Geração Alpha?".

Prefiro investir em fundadores do que em produtos. Mesmo que o primeiro projeto não resulte, um bom fundador vai encontrar o caminho no segundo ou terceiro. Se fores tu o investidor que acreditou nele desde o início, ele vai voltar a ti. Por isso, invisto nas pessoas.

Que setores te entusiasmam mais neste momento?

Do ponto de vista de um fundador, o mercado dos criadores e a fusão entre os media tradicionais e digitais são os mais interessantes.

Estamos a viver um momento em que as fronteiras entre as redes sociais e os media convencionais estão a desaparecer. Estando dos dois lados como criador e produtor, através da CrossCheck, posso ver esse movimento de fusão a acontecer em tempo real.
É muito estimulante, criativamente, estar na linha da frente.

Acha que as redes sociais ainda têm o mesmo poder que tinham quando começaste?

Sim, se não mais. É verdade que há mais concorrência e mais fragmentação. Antes, se publicasses um story a dizer "Sigam esta pessoa", metade dos teus seguidores iam mesmo fazê-lo. Hoje, não acontece nada disso. Mas, isso não significa que o poder das redes tenha diminuído. Na verdade, há ainda mais oportunidades, mais pessoas, mais exposição. Portanto, se o valor não é o mesmo, diria até que é maior.

Josh Richards na Web Summit 2025
Josh Richards na Web Summit 2025 créditos: Pedro Santos | MadreMedia

Vê-se mais como empresário, entertainer ou algo no meio?

Sou um pouco dos dois, é difícil escolher. Sou alguém que nunca conseguiu ficar preso a uma só coisa. Parte disso é o meu ADHD, a outra parte é só a minha natureza.

Em criança, nunca sabia o que queria ser quando crescesse, porque não queria fazer a mesma coisa todos os dias. Isso parecia-me um pesadelo.

Com as redes sociais, posso explorar várias áreas, e isso é o que mais gosto. Não quero ser apenas uma coisa.

Acredita que a próxima geração de investidores de capital de risco pode ser liderada por influencers em vez dos tradicionais trabalhadores de Wall Street?

Acho que o ideal é uma mistura. Cada um tem o seu papel. O investidor tradicional sabe coisas que eu não sei, e eu sei coisas que ele não sabe. O importante é saberes o que sabes e o que não sabes. Se conseguires manter essa consciência, vais ser bem-sucedido. É na combinação dos dois mundos que o resultado deixa de ser 1 + 1 = 2 e passa a ser 3.

Muitos jovens olham para si como alguém que teve sucesso muito cedo. Como consegue manter o foco e continuar a evoluir?

É difícil. Às vezes há burnout, há pressão, há muita gente a falar sobre ti. Por mais forte que sejas, isso afeta-te de uma forma ou de outra. Mas, o que me mantém motivado é o impulso criativo, a vontade de fazer mais. Não é uma questão de números. Não penso "quando chegar a este marco, já chega". Enquanto me estiver a divertir com o que faço, não me canso.

Tenho muita sorte com as pessoas à minha volta. A minha namorada, Gaby, é incrível, mantém-me com os pés na terra, e a minha família sempre acreditou em mim.

Se começasse hoje, faria tudo da mesma maneira?

Talvez mudasse pequenas coisas. Talvez tivesse feito mais streams na Sway House, ou começado certas coisas mais cedo, mas, honestamente, estou tão feliz com o ponto onde estou que não mudava muito.

Josh Richards na Web Summit 2025
Josh Richards na Web Summit 2025 créditos: Pedro Santos | MadreMedia

Que conselho daria a criadores que querem construir algo duradouro sem se perderem nas tendências?

As tendências são importantes, claro. Mas, também é essencial mostrares quem és — publicares sobre ti, criares uma ligação genuína com a tua comunidade. Queres que as pessoas se interessem por ti mesmo quando não estás a seguir uma tendência. A consistência vale mais do que um vídeo viral. Publicar com frequência, manter a qualidade e construir uma comunidade: é isso que faz a diferença.

E finalmente, o que vem a seguir? Algo que queira fazer que ainda não fez?

Temos a segunda temporada do programa de sketches a sair em breve. Ainda estamos a decidir a data. Também estou a desenvolver a CrossCheck e cada vez mais envolvido no mundo da Twitch, o que tem sido divertido.

Acabei de filmar um projeto em Toronto. Foi ótimo e deve sair em breve. Por isso, sim, há muito para vir. Espero que tudo corra bem!

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