"Não há uma guarda costeira ou capitania? Tem que ter um trabalho preparatório para receber turistas", referiu, depois de ela e outra pessoa, juntamente com três membros da tripulação, terem esperado por ajuda durante nove horas num barco sem cobertura, sem rádio, sem coletes salva-vidas e sem água ou outros mantimentos, descreveu.

A meio da noite, Sara Santos diz que sentiu "a vida em risco", quando "a maré começou a levantar e o barco a baloiçar".

Sara estava em Bissau por motivos profissionais e no sábado decidiu juntar trabalho e turismo: numa agência local, com outro português, marcaram uma viagem de ida e volta à ilha de Orango, arquipélago dos Bijagós.

Na viagem de regresso à capital, pelas 18:00, o motor parou, a tripulação "verificou que não havia combustível" e começou a ligar por telemóvel para alguém que lhes iria levar um abastecimento a partir de Bissau.

"Supostamente ia chegar alguém, mas nunca chegou", referiu Sara Santos, que percebia pelas conversas que as soluções iam sendo descartadas ou por falta de dinheiro para combustível ou por falta de meios ou por dificuldades de articulação entre diferentes pessoas.

Após várias horas de espera e contactos sem sucesso, Sara Santos diz ter arrancado o GPS das mãos de um tripulante para comunicar as coordenadas para Bissau.

"Achavam que não era necessário, que já tinham dado todas as indicações", mas "foram as coordenadas" que orientaram um barco do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) a resgatá-los pelas 03:00 da última madrugada - chegando pelas 05:30 a Bissau.

Este barco de auxílio foi ativado depois de um tripulante da lancha imobilizada "ter telefonado a um primo que trabalha no IBAP" e foi preciso ainda alguém pagar 100 euros de combustível para ela arrancar de Bissau ao encontro dos portugueses.

"Fiquei a saber o valor das nossas vidas: 65.000 francos CFA [100 euros]", referiu Sara Santos que pretende que o caso sirva de alerta para os cuidados a ter no acolhimento de turistas na Guiné-Bissau.

A situação foi seguida pelo embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, com quem os portugueses estiveram em contacto telefónico durante a noite em busca de soluções de socorro, até ser ativada a lancha do IBAP.

Fonte diplomática em Bissau confirmou à Lusa que o caso esteve a ser acompanhado e continua a merecer a atenção da embaixada.

Sigá Baptista, comandante do Porto de Bissau, disse à Lusa que "é normal haver barcos que se fazem ao mar e que depois ficam sem combustível ou avariam" e que, para o efeito, o porto tem os seus meios.

No entanto, o barco que devia ter prestado socorro na última noite "está em reparações", pelo que há uma parceria com o IBAP, que foi ativada, concluiu.

Fernando Vaz, ministro do Turismo da Guiné-Bissau, disse à Lusa que o governo vai proceder à identificação de todos os barcos que fazem transporte de turistas para que haja o devido licenciamento.

Acrescentou ainda que no final de março deverá entrar em operação um barco de 400 lugares de uma companhia privada para fazer a ligação entre Bissau e Bubaque, principal cidade do arquipélago dos Bijagós - e com uma vedeta rápida para operar depois entre as ilhas.

O ministro do Turismo recomenda que quem chega a Bissau se aconselhe no balcão do Ministério "no aeroporto, nas chegadas, a fim de se evitar estas situações".

"Eles tratarão do que for necessário para as deslocações às ilhas", concluiu.