É 50 vezes mais potente que a heroína e é responsável por mais de 100 mil mortes por overdose por ano nos Estados Unidos. Fentanil é um analgésico opioide que tomou proporções epidémicas nos EUA e que, adianta o Expresso, já chegou a Portugal.
Há pelo menos 12 instâncias registadas pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD) de pedidos de ajuda para tratar dependência de fentanil no nosso país, noticia o semanário. Oito destes casos consistem em pessoas que tomam o opioide com outras drogas, mas as restantes quatro tomam exclusivamente esta substância.
O fentanil tem sido prescrito com cada vez mais frequência por médicos para limitar a dor de pacientes — um dos 12 casos é exemplo disso mesmo. Trata-se de um homem na casa dos 50 anos sem historial de abuso de drogas a quem foi receitado fentanil num hospital privado de Lisboa para contrariar uma dor lombar. O paciente, que não terá sido avisado do risco de adição, entrou em "privação imediata" quando se viu sem outra receita para aviar.
"A dor que tinha não justificava o uso de fentanil. Foi-lhe prescrito à americana. Quando percebeu que estava dependente, procurou ajuda”, afirma Miguel Vasconcelos, coordenador da Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, ao Expresso.
Segundo o Infarmed, o fentanil é o quarto analgésico opioide mais prescrito em Portugal. Pode ser comprado normalmente em adesivos ou comprimidos nas farmácias, mas também também ser injetável, em contexto hospitalar.
O Expresso adianta ainda que a Direção-Geral da Saúde não atualiza recomendações para a “utilização de medicamentos opioides fortes em dor crónica não oncológica” desde 2008 e que esta última nota desvaloriza os riscos.
Do outro lado do Oceano Atlântico, o fentanil é atualmente a droga mais mortífera nos Estados Unidos. Segundo os Centros para a Prevenção e Controlo de Doenças, as mortes por overdose de fentanil aumentaram mais de sete vezes entre 2015 e 2021. Só em 2021, o consumo de fentanil resultou diretamente na morte de 70.601 pessoas nos Estados Unidos, ou seja, 193 por dia.
Mais de 100.000 mortes por ano foram ligadas a overdoses de drogas desde 2020 e cerca de dois terços delas estão relacionadas com fentanil. O número de mortes devido a drogas é dez vezes maior que em 1988, na altura do flagelo provocado pelo ‘crack’ (cocaína solidificada em cristais). Segundo a Drug Enforcement Administration (DEA), o fentanil é agora a causa número um de morte entre americanos com menos de 50 anos.
Os impactos do fentanil tomaram proporções de tal ordem que levaram os EUA a criar uma nova força contra o tráfico desta droga em particular e a reunir consenso bilateral entre o país, o México e a China.
As estratégias de contenção deste opioide foram um dos temas discutidos entre Joe Biden e Xi Jinping aquando da visita do presidente da China aos EUA.
Desde que Joe Biden assinou uma ordem executiva em dezembro de 2021 a autorizar sanções contra estrangeiros envolvidos no tráfico de fentanil, 250 já foram impostas a indivíduos e empresas, com um foco particular na cadeia de abastecimento.
Em novembro, Biden agradeceu às autoridades mexicanas pela detenção de “El Nini”, suspeito de tráfico de fentanil.
Biden e o homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, prometeram, durante uma reunião em 17 de novembro em São Francisco, cooperar mais estreitamente contra o tráfico de drogas e, em particular, o fentanil.
A droga, fabricada a partir de produtos muitas vezes provenientes da China, é, segundo Washington, introduzida nos Estados Unidos por cartéis mexicanos.
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