A imagem do governante comunista é omnipresente: aparece na televisão, no rádio, em outdoors, murais, portagens, ambulâncias, propaganda no YouTube e inúmeros vídeos em plataformas como o TikTok.

A figura, usual na paisagem quotidiana da Venezuela, multiplicou-se por todo o lado à procura de um terceiro mandato que o projetaria para 18 anos no poder.

“Há uma saturação que permite que ele sobreviva na mente das pessoas, sobretudo por se gabar de ser o herdeiro” de Chávez, disse à AFP León Hernández, membro do Instituto de Pesquisa em Informação e Comunicação da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). “Chávez continua a assombrar o imaginário coletivo".

Maduro "vende-se" como um líder falante, mas forte. Dança num jipe das Forças Armadas numa parada de um comício.

“Estou a ativar o botão”, diz ele num evento em Caracas, onde transfere crédito para pequenas empresas. Uma mulher começa a saltar quando recebe uma mensagem no seu telemóvel confirmando a transação.

O presidente de 61 anos descreve-se como um galo, um ícone que usa para minimizar o seu principal oponente, o diplomata Edmundo González Urrutia, que está a concorrer pela principal coligação da oposição perante a impossibilidade de registrar María Corina Machado, favorita, mas desqualificada por sanção.

Uma gargalhada pode ser ouvida ao fundo dos seus discursos e várias canções de campanha fazem alusão às sangrentas lutas de galo da tradição venezuelana.

A presença de Maduro é uma constante na televisão estatal, cujo sinal define a agenda, com inúmeras transmissões diárias da sua “peregrinação” pela Venezuela.

O presidente, que foi motorista de autocarro na juventude, muitas vezes aparece ao volante de uma camioneta enquanto conversa com a esposa, Cilia Flores, e autoridades, como se estivesse a protagonizar um reality show. Desenhos animados de propaganda chamados “Supervisores” retratam-no como um super-herói com punho de ferro que luta contra a oposição e o arquirrival: os Estados Unidos.

Um filme sobre a sua vida estreou num teatro icónico de Caracas e um livro biográfico foi apresentado recentemente. Assistiu à estreia na primeira fila.

“Há horas de transmissão de televisão, horas de publicidade, pressão de organizações como a Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações)”, enfatiza Hernández.

A imprensa denuncia o bloqueio de sites de notícias, numa Venezuela onde mais de 400 meios de comunicação foram fechados em 25 anos de governos chavistas.

A desinformação também é uma arma.

Membros do alto comando militar divulgaram um vídeo de uma palestra de Machado e González para estudantes universitários, com um quadro negro ao fundo mostrando propostas para privatizar a empresa estatal de petróleo PDVSA e a educação. A AFP verificou que o vídeo tinha sido alterado e que o quadro negro estava de fato vazio.

Maduro, entretanto, recicla promessas e reinaugura obras, ao mesmo tempo que se proclama como “o único” que garante a “paz”.

Ele chama “fraco” a González Urrutia, fazendo alusão aos 74 anos de idade. “Vocês querem um presidente fraco, sem energia?”, grita ele para uma multidão. “Aqui está o vosso galo!”.

Durante uma campanha maciça, as pesquisas estão a voltar-se contra Maduro na sua busca para permanecer no poder. Maduro emitiu avisos de um “banho de sangue” ou insurreição militar se for derrotado.

*por Esteban ROJAS / Margioni BERMÚDEZ, da AFP