“Há toda uma evidência de como a atividade física é importante na prevenção e no tratamento do cancro. Hoje percebemos que as pessoas que trocaram uma hora de comportamento sedentário por uma hora de atividade moderada ou vigorosa (andar a um passo mais rápido, correr, dançar) têm, seis anos mais tarde, um risco de cerca de 15 a 20% mais baixo de desenvolver o primeiro cancro”, diz o fisiologista do exercício, Pedro Saint-Maurice.

Em entrevista à Lusa, o especialista revelou que, antes de fazer a mudança para o novo laboratório da Fundação Champalimaud, trabalhava no Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos. Agora, trabalha diretamente com oncologistas, que partilham estudos com fisiologistas do exercício.

"Claro que a prescrição está sempre dependente do tipo de diagnóstico, da terapêutica, e de vários fatores... mas, de forma geral, existem recomendações publicadas. Até porque, em pacientes que estão a passar por uma fase muito difícil, iniciar um programa de exercício físico também ajuda a ganhar confiança para o que vem a seguir”, sublinha o especialista.

A Fundação Champalimaud tem apostado também na área da epidemiologia, que complementa o tratamento dos pacientes. No ginásio da fundação, decorre já um programa de investigação em cancro da mama.

“Acho que este é o caminho: integrar a ciência, integrar a clínica e integrar os profissionais de exercício físico”, diz Pedro Saint-Maurice.

Além de pacientes com cancro da mama, no laboratório e no ginásio da Fundação Champalimaud trabalham-se casos de cancro digestivo e próstata, entre outros.

Pedro Saint-Maurice é também presidente da Society for Diet and Activity Methods (Sociedade Internacional para Métodos de Dieta e Atividade Física) e assume que em Portugal apresenta várias lacunas nesta área, como a falta de profissionais e infraestruturas.

“Em Portugal não temos ‘guidelines’ de exercício físico durante o tratamento. Há cidades no Norte que têm feito trabalho nesta área, mas ainda não conseguimos arranjar uma forma unificada de traduzir isto em recomendações que possam ser implementadas nos nossos sistemas de saúde”, apontou.

Um estudo epidemiológico recente com cerca de 85 mil pessoas, liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, no qual Pedro Saint-Maurice participou mostrou que “adultos que acumulam 9.000 passos por dia parecem ter os melhores benefícios para reduzir o seu risco de cancro”.

Considerando que a contagem de passos é um método “objetivo muito fácil de monitorizar” graças aos telemóveis, relógios e aplicações, Pedro Saint-Maurice lembrou que “a atividade física pode ser espalhada ao longo do dia e não tem de ser consecutiva”.

“Basta pensar em estratégias... deslocar-se para o trabalho a pé, usar mais as escadas em vez do elevador, estacionar o carro mais longe da entrada dos edifícios”, sugeriu o especialista.

Atividades de jardinagem, atividades caseiras que podem envolver objetos mais pesados ou atividades da lida doméstica são outras sugestões.