“É uma sensação de liberdade. Uma sensação de conseguir. Conseguir chegar cá cima. Conseguimos chegar todos. Nuns momentos, animando, em outros sendo animado”, confessou, cerca das 00:00, o bispo Armando Esteves Domingues, quando o primeiro grupo chegou ao topo da montanha do Pico.

Ao todo, a iniciativa designada “Mais Perto do Céu” juntou 129 pessoas (dos quais 116 jovens) no ponto mais alto de Portugal, entre jovens, voluntários da JMJ e outras figuras do clero.

“A verdade é que temos cá dentro forças descomunais. Muito para além daquilo que podemos pensar. A vida também é isto. No meio das dificuldades, também temos forças que nos superam”, aludiu o Bispo de Angra e Ilhas dos Açores.

O primeiro percurso começou com chuva e durou várias horas para atender ao ritmo dos diferentes participantes, que escalaram os pedregulhos lávicos com vista panorâmica para o oceano.

Na reta final do caminho, comprovando a imprevisibilidade climática dos Açores, o sol reluziu forte, iluminando a rocha negra pontuada com verdura cintilante.

“Toda a terra é sagrada. É a dimensão do poder aqui contemplar a magnificência da criação, essa obra criadora, que se descobre em cada canto. A beleza extraordinária que se estende para lá dessas montanhas e desse mar”, salientou o bispo, falando na cratera do Pico, com as nuvens a seus pés.

A maioria dos jovens são provenientes do arquipélago (das nove ilhas, apenas três não estão representadas), e, por isso, a presença de Helena de Souza, natural de Timor Leste, é notada.

“É uma experiência verdadeiramente única. Também apresenta semelhanças com a minha cultura. Nós fazemos atividades semelhantes porque temos atividades religiosas no topo da montanha”, explica.

A mulher de 41 anos, que já participou em quatro JMJ, escolheu passar os dias que antecedem o evento em Lisboa na diocese de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.

“Angra foi a minha primeira escolha. Escolhi porque a localização é afastada do continente. É uma ilha que me está tratar muito bem e encontro semelhanças com a meteorologia da minha terra natal”.

Daniel Ernesto, de 24 anos, é natural dos Remédios da Bretanha, freguesia de Ponta Delgada na ilha de São Miguel. Para ele, que está a tirar engenharia eletrotécnica em Lisboa, a subida foi uma “excelente maneira de conhecer melhor a sua terra”.

“Achei a ideia muito interessante. Nunca tinha subido a montanha. Foi a ocasião ideal para isso. É uma oportunidade de conhecer pessoas novas, pessoas de diferentes locais e com experiências diferentes. Para mim, isso é uma grande oportunidade para diversificar o conhecimento”, declarou.

Um dos grupos pernoitou na cratera da montanha, o outro escalou de madrugada, juntando-se para uma celebração ao nascer da manhã no cume de Portugal.

Para Luísa Sousa, natural da ilha Santa Maria, o mais “enriquecedor” da experiência é a “união” entre os jovens.

“É muito gratificante ver que os jovens ainda conseguem estar em comunidade apesar da sociedade onde vivemos. O espírito das jornadas começa aqui”, afirmou a estudante de 16 anos.

No fundo, a caminhada pretende demonstrar que “juntos é possível ir mais longe e mais alto”, resume o Bispo de Angra: “Uma tentação vir cá cima, mas também é a tentação de subirmos todas as montanhas da vida e não nos deixarmos desanimar por elas”.

 Durante a noite, existiram momentos de cânticos e outros de oração. Sob o céu estrelado a refletir na escuridão ouviu-se em coro: “Quero subir à montanha. Quero ouvir a tua voz. Quero a subir a montanha e falar contigo a sós”.