C foi nomeado hoje presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) e inicia funções no início do próximo ano, substituindo a economista e antiga ministra das Finanças da Nigéria Ngozi Okonjo-Iweala, cujo mandato termina em dezembro deste ano.

Em declarações à agência Lusa por telefone, quando questionado sobre a quebra nas campanhas de vacinação em alguns países devido à pandemia de Covid-19, Durão Barroso lembrou “a missão tradicional” da GAVI, de apoiar a vacinação e imunização em relação a doenças “que são terríveis” e que nalguns casos foram erradicadas graças às vacinas.

A GAVI, recordou, está concentrada em 73 países, que são os que sem ajuda da comunidade internacional não teriam acesso a essas vacinas para a maior parte da população. E, garantiu à Lusa, “isso vai-se manter”.

“Agora há uma coisa mais urgente que é esta pandemia, que está a desviar algumas atenções e recursos, mas a GAVI mantém o seu programa e neste ciclo 2016-2020 os objetivos estão a ser atingidos e espero que se mantenha esse bom desempenho”, acrescentou.

E ainda sobre a mesma matéria, o antigo presidente da Comissão Europeia deixou outra promessa para quando assumir as funções de presidente do Conselho de Administração da GAVI: “Tudo farei para ajudar a concretizar estes objetivos, tão nobres e tão importantes, não só para as pessoas mais carenciadas, estou a pensar em África, mas também em geral, para a comunidade internacional, para conseguir criar proteção suficiente contra estas pandemias”.

A luta contra a Covid-19, que já provocou a morte de mais de um milhão de pessoas, é “uma das funções atuais” da GAVI, além da tradicional de distribuir vacinas contra doenças como a cólera, meningite ou febre amarela, entre outras, disse.

Com os esforços da Aliança, recordou, foram imunizadas cerca de 800 milhões de pessoas e, segundo estudos independentes conseguiu evitar-se a morte de 13 milhões de crianças. Mas, acrescentou, “a GAVI tem agora a função de procurar garantir distribuição para todo o mundo, sem discriminação, nacionalismos ou protecionismos, as vacinas que se espera venham a ser encontradas para a Covid-19”.

Durão Barroso assinalou também que foi criada uma nova instituição, chamada COVAX, da qual faz parte também a Organização Mundial de Saúde (OMS) e uma organização “irmã” da GAVI, que é o Centro para a Preparação de Resposta às Epidemias, “que estão a trabalhar ativamente, não só na procura de uma nova vacina, com os laboratórios especializados, mas também no melhor meio de garantir a sua distribuição, nomeadamente aos países mais pobres e às camadas mais carenciadas”.

Quando existir essa vacina ela terá de chegar a toda a população, porque “ninguém está protegido se não estivermos todos protegidos”, referiu.

E quanto aos movimentos recentes em alguns países de rejeição da vacina (na Europa por exemplo, levando a aumento de casos de sarampo) Durão Barroso respondeu que também é trabalho da GAVI procurar informar as pessoas.

A rejeição às vacinas é “um problema de obscurantismo e de campanhas de contrainformação, superstições e posições cada vez mais anti-científicas. A verdade é que há hoje demonstração clara e irrefutável de que vacinas salvam muitas vidas”, lamentou.

Nas palavras do próximo presidente da GAVI basta comparar os países africanos com campanhas generalizadas de vacinação com os que não as têm, para ver que há “uma diferença imensa em termos de mortalidade infantil”.

“Infelizmente está a notar-se um recrudescimento de algumas doutrinas obscurantistas contra os factos, contra a ciência, contra a própria medicina. O que se pode fazer é procurar pela educação, pela informação, pela capacidade pedagógica tentar corrigir essas atitudes”, frisou.

A nomeação do ex-primeiro-ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia foi aprovada de forma unânime pelo Conselho de Administração da GAVI, numa reunião realizada em Genebra, de acordo com um comunicado da organização hoje divulgado.

Durão Barroso inicia funções em janeiro de 2021. O cargo não é remunerado.

Atualmente, Durão Barroso é Chairman e diretor não-executivo da Goldman Sachs International, sediada em Londres.

Entre os fatores decisivos para a escolha de Durão Barroso, a Comissão de Investigação do Conselho destacou o seu “notável estatuto e experiência, o seu historial como líder, a sua vasta experiência na presidência de Instituições com múltiplos ‘stakeholders’ e o seu empenho na cooperação internacional”.