O envelhecimento é uma preocupação para muitas pessoas. Mas e se não fosse assim tão inevitável como parece?

"O processo biológico de envelhecimento por si só não é uma causa de grandes problemas até aos noventas e muitos", explica Muir Gray, médico britânico e diretor do Programa de Envelhecimento Ideal, cujo objetivo é ajudar as pessoas a viver mais e melhor, ao The Telegraph.

Muir Gray pega no exemplo da Rainha Isabel II, que morreu aos 96 anos, e de David Attenborough, ambientalista muito conhecido pelos documentários sobre a vida animal, também com 96 anos, por mostrarem que é possível chegar à idade dos noventas com autonomia.

Embora seja inevitável perder alguma habilidade, a ciência está a mostrar que "muitas das características do envelhecimento não são tão inevitáveis quanto pensamos", explica Muir.

Por outras palavras, existem fatores que contribuem para o envelhecimento, e que é possível controlar: alimentação, exercício físico, exposição ao stress e a poluentes, por exemplo, afetam a longevidade e declínio do corpo humano.

Estar sentado a trabalhar ao computador durante 8 horas, por exemplo, não é uma boa prática, embora Muir compreenda que é uma questão de necessidade, e não de escolha.

"Geneticamente não fomos desenvolvidos para o ambiente em que vivemos agora. Os nossos genes foram projetados para corrermos o tempo todo", explica Muir que, com 78 anos, mantém-se fiel à sua mensagem caminhando rapidamente enquanto fala ao telemóvel.

A maioria das doenças não é causada pelo envelhecimento, mas pelo ambiente em que se vive, explica. Por um lado, o ser humano está geneticamente preparado para passar o dia a correr. Por outro lado, é obrigado a trabalhar 8 horas por dia sentado à secretária. Ou seja, a maioria das doenças ocorre por causa desta "incompatibilidade com o ambiente moderno".

Como conseguir, então, viver mais e melhor? Como retardar o processo de envelhecimento para conseguir, como Johanna Quaas, dar cambalhotas aos 97 anos? Aparentemente, não tem de ser árduo, caro, nem demorado.

O objetivo é fazer com que todos os órgãos, incluindo o cérebro, coração, pulmões e rins, tenham 18 anos de idade. Para isso, são sugeridas uma série de práticas saudáveis que manterão o corpo jovem e a funcionar bem na velhice.

Em primeiro lugar, o cérebro. Um estudo da Universidade de Zurique examinou centenas de cérebros adultos e descobriu que as pessoas com formação académica, laços familiares e de amizade, e que participavam em atividades sociais significativas, estavam associadas a melhores habilidades de pensamento na vida adulta e a menos sinais de degeneração cerebral ao longo dos anos.

Além disso, um Estudo da Universidade da Califórnia também descobriu que o exercício regular, de 150 minutos ou mais por semana, pode ajudar bastante a deter o declínio da função cerebral. O exercício físico, bom sono, pouco stress e uma dieta mediterrânea também estão associados a um cérebro saudável.

Embora as doenças do coração sejam até certo ponto hereditárias, há muitas mudanças no dia-a-dia que também podem reduzir o risco de as desenvolver em idade mais avançada, explica Helen Alexander, fisioterapeuta em Londres. Combater o sedentarismo com exercício físico regular é um forma de diminuir o nível de colestrol, manter a pressão arterial saudável, e diminuir o risco de desenvolvimento de doenças.

Uma dica é incorporar a atividade física nas rotinas do dia a dia, subindo as escadas em vez de andar de elevador, ou saindo do autocarro uma paragem antes para fazer o resto a andar, por exemplo. Trabalhar a resistência e a força, e evitar comida ultra-processada, também são importantes para reduzir o risco de pressão alta e de ataque cardíaco.

Estas são apenas algumas das dicas para viver bem durante mais tempo. Não fumar, ter bons hábitos de higiene oral, evitar comidas açucaradas e a exposição descuidada ao sol, que provoca o envelhecimento prematuro da pele, são outros cuidados referidos.

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel.