Até ao fim da vida, foi polémico, com um livro sobre “Pavel”, militante histórico comunista caído em desgraça, ou com as afirmações críticas quanto ao PS durante a liderança de José Sócrates, quando falou em "clima de medo", em 2008, ou ainda quando disse que os regimes comunistas eram piores do que o fascismo.
“Fui vítima de Salazar, mas as ditaduras comunistas eram muito piores”, afirmou numa das suas últimas entrevistas, ao jornal i, em fevereiro de 2017.
Edmundo Pedro nasceu a 8 de novembro de 1918, no Samouco, concelho de Alcochete, Setúbal, e começou a trabalhar ainda criança, nas oficinas de uma serralharia e, mais tarde, no Arsenal do Alfeite. E foi praticamente criança, com 13 anos, que entrou na política.
Participou na preparação da greve geral de 18 de janeiro de 1934, aos 15 anos, foi preso e aderiu à Federação das Juventudes Comunistas em 1931, onde conheceu Álvaro Cunhal, líder histórico dos comunistas, e Francisco de Paula Oliveira, dirigente comunista caído em desgraça depois da fuga da prisão, devido a suspeitas de ajuda da PIDE, a polícia política do salazarismo. E foi sobre o homem que ficou conhecido por “Pavel”, que escreveu um livro há poucos anos.
Foi preso pela primeira vez aos 15 anos, em 1934, e, um ano depois, foi escolhido, com Cunhal, para a direção da Juventude Comunista, o que lhe valeu mais uma prisão, em 1936.
Nesse ano, foi um dos primeiros presos políticos do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde esteve com o pai, Gabriel, sujeito a torturas extremas, como a “frigideira”, uma cela solitária onde a temperatura chegava a subir aos 50º Celsius.
No regresso a Lisboa, em 1945, ano em que terminou a II Guerra Mundial, foi de novo julgado e condenado, mas, mal saiu da prisão, continuou “a conspirar” contra a ditadura, como o próprio recordava muitas vezes.
Depois, foi suspenso do PCP, durante dois anos, por planear uma fuga não autorizada (do Tarrafal, precisamente) e não mais voltou às fileiras comunistas, tornando-se um crítico, por exemplo, da invasão da Checoslováquia pela União Soviética, em 1968, apoiada por Cunhal.
Até ao 25 de Abril, em 1974, participou em várias tentativas de insurreição: o golpe do 12 de março, em 1959, com Fernando Piteira Santos, e o golpe de Beja, em 01 de janeiro de 1962, com Varela Gomes, que lhe valeu mais uma prisão, até 1965.
Aderiu ao PS em 1973, convidado pelo líder histórico dos socialistas, Mário Soares (1924-2017), que defendeu um “PS forte” para fazer frente ao PCP, quando Portugal fosse libertado da ditadura, o que veio a acontecer um ano depois, no 25 de Abril, de acordo com as suas memórias.
Durante o período revolucionário, foi dirigente do PS, com Mário Soares e Manuel Alegre, e empenhou-se no combate ao PCP e às forças de extrema-esquerda.
Edmundo Pedro foi deputado por três vezes e presidente da RTP em 1977 e 1978.
Data da época revolucionária um episódio que, até ao fim da vida, o marcou - o caso das armas, que lhe valeu seis meses na prisão, já em democracia.
“Um trauma que não me deixa”, confessou, numa entrevista à agência Lusa, em 2008.
E conta-se assim: Em 1975, e devido ao clima de pré-guerra, foram entregues armas ao PS para defender as suas sedes, que estavam a ser alvo de ataques de ativistas da esquerda radical.
Três anos depois, em 1978, Edmundo foi capa dos jornais. Durante o processo de devolução das armas, tentou reuni-las, dado que estavam dispersas por várias sedes do PS, e guardou-as no armazém de uma empresa onde trabalhou.
Quando a polícia as encontrou, numa altura em que estavam prestes a ser devolvidas ao exército, a questão foi “transformada noutra coisa”, associada a um caso de contrabando de eletrodomésticos.
Nesse dia, a polícia fez buscas ao armazém, Edmundo Pedro soube, foi ao local, entregou as armas e assumiu a responsabilidade. Ficou detido seis meses, até ser esclarecida a situação.
Nas suas memórias, escreveu que as armas lhe tinham sido distribuídas, por ordem de Ramalho Eanes, um dos líderes do 25 de Novembro de 1975, mais tarde Presidente da República.
Ao longo da sua vida, publicou vários livros, entre eles três volumes de “Memórias: Um Combate pela Liberdade”, prefaciadas por Mário Soares, um livro sobre o processo das armas ("O processo das armas"), outro sobre a luta sindical durante a ditadura ("45 anos de luta pela democracia sindical - Reflexões de um militante") e um volume sobre a vida de Francisco de Paula Oliveira, “Pavel – Um Homem não se apaga”.
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