Os quase 50 milhões de franceses convocados às urnas este domingo têm diante de si um dilema nestas eleições antecipadas: votar no partido de extrema-direita União Nacional (RN, na sigla em francês) de Marine Le Pen ou na "frente republicana" formada pela esquerda e pela coligação de centro-direita?

Nestas eleições estão em causa os 577 lugares da Assembleia Nacional (parlamento).

Segundo uma sondagem divulgada na quarta-feira pelo instituto Toluna Harris Interactive, a União Nacional, de extrema-direita, poderá conseguir entre 190 e 220 lugares, insuficientes para alcançar a maioria absoluta (289 lugares), o que pode colocar em causa que o líder do partido, Jordan Bardella, se torne primeiro-ministro.

Já a coligação de esquerda, Nova Frente Popular, poderá obter entre 159 a 183 lugares e a coligação presidencial Juntos (Ensemble, em francês) conseguirá obter 110 a 135 lugares.

Em caso de não existir uma maioria clara e não houver acordos entre os partidos para uma coligação governamental, pode verificar-se um impasse, uma situação inédita em França.

As legislativas, que deveriam acontecer apenas em 2027, foram convocadas de forma surpreendente pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, após a derrota do seu partido e a acentuada subida do RN nas eleições para o Parlamento Europeu de 09 de junho.

Jordan Bardella, a aposta da extrema-direita para governar a França

Jordan Bardella, apontado ao cargo de primeiro-ministro de França pela extrema-direita, é um jovem de 28 anos autoconfiante e popular nas redes sociais, que se estabeleceu apesar de não ter o sobrenome Le Pen.

“Acima de tudo, vou escutá-los, vou respeitá-los. Vou dedicar-me cada minuto, cada segundo” como primeiro-ministro, promete Bardella num dos seus últimos vídeos de campanha publicado nas redes sociais, enquanto olha para a câmara.

Mas para os críticos, a imagem de "genro ideal", sempre vestido e penteado de forma impecável, tem o objetivo de esconder um político carente de conteúdo, assim como as raízes antissemitas e racistas do seu partido.

Marine Le Pen, líder de facto da União Nacional, presidido por Bardella, confirmou em meados de junho que o jovem político será o chefe de governo, caso o partido alcance a maioria absoluta nas eleições legislativas.

A União Nacional venceu a primeira volta das eleições com 31,37% dos votos e agora espera alcançar uma maioria absoluta.

O seu programa baseia-se em três pontos: controlo da imigração, segurança e poder de compra. O RN promete um "big bang" na autoridade escolar, além de reservar a nacionalidade para crianças com pelo menos um progenitor francês, entre outras medidas.

A vitória da extrema-direita na segunda maior economia da União Europeia e potência nuclear também poderia enfraquecer a influência de França em Bruxelas, onde tem sido um dos principais motores da integração europeia, e minar o apoio político à Ucrânia.

E acrescentaria um novo governo com ultradireitistas na Europa: na Itália, a pós-fascista Giorgia Meloni é primeira-ministra; e os ultradireitistas também fazem parte do Executivo em outras nações como Finlândia, Eslováquia e Países Baixos.

Bardella olha para Le Pen como "um filho espiritual", assegura um deputado próximo de ambos. Le Pen vê o jovem político como sua "dupla executiva" se for eleita presidente de França em 2027.

A Frente Republicana

Para evitar isto, a Nova Frente Popular (NFP) — uma coligação de esquerda que vai desde a ala social-democrata até anticapitalistas, e que obteve 28% dos votos na primeira volta — e a aliança de Macron (20%), formaram uma "frente republicana".

Este princípio implicou a retirada do candidato "republicano" com menos hipóteses de vencer nas circunscrições onde ambas as alianças se classificaram para a segunda volta, juntamente com um adversário de extrema-direita.

A estratégia parece estar dar resultados, segundo algumas sondagens. Antes destas retiradas a maioria absoluta da União Nacional parecia mais provável. Mas isso também significa que França pode mergulhar num cenário político de incerteza, com uma nova distribuição de forças e sem maiorias claras.

A menos de três semanas do início dos Jogos Olímpicos de Paris, o primeiro-ministro de centro-direita, Gabriel Attal, já disse que o seu governo está disposto a permanecer "o tempo que for necessário" para garantir a continuidade do Estado.

A taxa de abstenção será crucial. A participação na primeira volta foi quase 20 pontos superior à de 2022, mas a política de abandonos pode desanimar alguns eleitores que se sintam desta forma obrigados a votar num candidato em que não se revêm.

Antecipando possíveis "distúrbios", foram mobilizados 30 mil polícias na noite de domingo, após uma campanha marcada pela tensão e agressões a cerca de cinquenta candidatos e militantes.

*Com Lusa e AFP