O local do encontro foi definido na rede social Facebook, mas, para os mais distraídos, foi escrito a giz, no chão, em letras grandes: "Ele Não".
A mensagem aparece repetida em cartazes, traduzida para inglês e alemão, pode ler-se também em t-shirts, e até na cara de muitas mulheres que decidiram juntar-se em May-Ayim-Ufer, numa das margens do rio Spree.
Marcela Dias, a viver há dois anos em Berlim, foi das primeiras a chegar. Traz uma camisola com as cores da bandeira gay, “ele não” escrito na bochecha, e lápis na mão. Vai pintando outras mulheres que fazem fila à espera de vez.
“Ele não, ele de jeito nenhum, como pode? Acho que nem é uma questão política ou de direita ou esquerda. É uma questão humanitária”, confessa, enquanto vai explicando o que a levou a aceitar a chamada nas redes sociais.
“Eu sinto mais esperança do que medo, para ser sincera. O medo está lá, mas prefiro acreditar que as coisas vão virar e que ele não vai ganhar”, desabafa Marcela Dias, que vai votar nas eleições presidenciais de 07 de outubro.
O evento “Mulheres unidas contra o Bolsonaro em Berlim” foi criado por Lou Trajano, de 24 anos.
“Estou muito assustada, pensar no nosso Brasil a passar novamente por uma ditadura ou por tempos difíceis com alguém que não está minimamente preparado para governar o país. Dá um clima de incerteza muito grande, é assustador”, desabafa a organizadora, a viver na Alemanha há cerca de dez meses.
À conversa com amigos alemães, admite que a maioria “não consegue perceber, nem conceber, porque é que alguém apoiaria este tipo de político”. Para eles é “totalmente surreal que tanta gente apoie o Bolsonaro”, remata.
Fábio Martinez fez mais de 350 quilómetros para participar na concentração, vive na cidade de Bielefeld, mas sublinha que não podia deixar de estar presente.
“É uma tristeza para o nosso país e para os seres humanos, existirem pessoas tão à direita, que não pensam em todos e só numa minoria. Esse pensamento fascista não víamos muito no Brasil e agora começa a estar muito presente”, diz este brasileiro.
“Tenho um pouco de medo, porque ele ainda está à frente nas últimas sondagens, mas, por outro ladro, uma força mais progressista tem a possibilidade de seguir para uma segunda volta, e vejo isso como algo positivo”, admite Fábio Martinez.
Além de mulheres e homens de nacionalidade brasileira, ou com dupla nacionalidade, vários alemães quiseram estar presentes no protesto contra a eleição de Bolsonaro para a presidência do Brasil.
“Assusta-me que ele possa chegar ao poder. Com a nossa experiência sabemos até onde podem chegar estas personagens e o que pode significar. Não se podem comparar as histórias, mas muitos elementos reaparecem nos discursos contra as mulheres, racistas, contra homossexuais, etc.. Então ninguém pode dizer que não sabe como começou. Por isso há que atuar”, realça Achim Wachendorfer, casado com uma brasileira.
Este alemão de Estugarda, que viveu mais de três décadas na América Latina, confessa estar pessimista.
“Há seguramente 30 por cento da população que vai votar numa opção profundamente antidemocrática e militarista. É deprimente. Assustado? Sim, claro, porque é uma opção que pode ganhar. E com a história recente do Brasil, não sabemos que tipo de manipulação vai existir para impedir que ganhe a outra opção”, refere Achim Wachendorfer.
Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita, tem liderado as sondagens para as presidenciais brasileiras. As eleições estão marcadas para 07 de outubro.
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