"A grande maioria, eu diria que 80%, da nossa comunidade" no país "tem manifestado o apoio, e mesmo feito campanha, em torno candidato Jair Bolsonaro", disse Flávio Martins, que é conselheiro eleito pelo Brasil, onde vive, acrescentando que geograficamente essa tendência se tem sentido de norte a sul do país, em grandes estados como Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais.

O presidente do órgão representativo dos portugueses emigrantes acredita que a concentração das intenções de voto no candidato da extrema-direita se deve, em parte, à insegurança sentida, ao "descontentamento geral com os partidos políticos tradicionais", mas também por questões históricas.

"São pessoas que não foram habituadas a viver com a diversidade, com a democracia e com a diferença, e para mim isso está muito claro", disse.

A viver no Rio de Janeiro, Flávio Martins afirmou à agência Lusa não partilhar da mesma opinião da comunidade portuguesa, acerca do candidato Jair Bolsonaro.

"Pessoalmente, eu vejo isso muito mal [escolha de Bolsonaro para Presidente]. Primeiro porque ele se apresenta como um candidato novo e para mim não é. É igual aos outros. Em segundo, desconfio muito desse discurso do 'Brasil acima de todos' [lema de campanha de Bolsonaro], porque, inclusive, é um lema que se usava muito na Alemanha nazista", comparou Flávio Martins.

Acrescentou ainda que desconfia muito do método defendido por Bolsonaro, de armar a população para resolver o problema da segurança. O conselheiro acredita que essa grande problemática que afeta o Brasil não irá ser resolvida pelo uso da força.

Flávio Martins comparou ainda Jair Bolsonaro ao ex-governante português António de Oliveira Salazar.

"A nossa comunidade, infelizmente, gosta mesmo de alguém que exiba muita força e que seja um novo Salazar, ou algo parecido. Infelizmente, eu acho que o que vai acontecer é ele (Bolsonaro) ter um grande apoio da quase totalidade das nossas comunidades aqui no Brasil", afirmou.

À semelhança de Flávio Martins, também Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência brasileira, traçou comparações entre Bolsonaro e o antigo governo ditatorial português do Estado Novo.

"Acho que os portugueses que conhecem o salazarismo e sabem tudo de ruim que o fascismo traz para o mundo, deviam ficar preocupados com a eleição no Brasil", disse Haddad à imprensa portuguesa, durante um ato de campanha no Rio de Janeiro.

Flávio Martins acredita ainda que, caso Bolsonaro vença as eleições, o Brasil corre o risco de entrar numa "ditadura disfarçada", onde as "liberdades pessoais serão suprimidas".

O Conselho das Comunidades Portuguesas é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro. É composto por 12 conselheiros das comunidades, e é liderado, pelo terceiro ano consecutivo, por Flávio Martins (Brasil), como presidente; Nelson Ponta Garça (Estados Unidos da América), na vice-presidência, e Manuel Coelho (Namíbia), como secretário.

O Brasil realiza no domingo eleições presidenciais, para o parlamento (Câmara dos Deputados e Senado) e para representantes dos governos regionais.