“Quatro anos é pouco tempo para implementar este tipo de planos de programa do governo. Oito anos é o tempo suficiente, 12 já é tempo a mais, quatro mandatos é tempo demasiado, cinco um exagero, seis (24 anos) já é do domínio das repúblicas ibero-americanas ou centro-africanas”, declara Nuno Barata.
Em entrevista à agência Lusa a propósito das eleições regionais dos Açores, agendadas para 25 de outubro, o responsável da Iniciativa Liberal afirma que “da mesma forma que em 1996 a sociedade civil, em geral, insurgia-se contra os 20 anos de quase perpetuação de poder do PSD, agora é tempo de pôr fim, pelo menos, a uma maioria absoluta do PS, após 24 anos de governação”.
Para Nuno Barata, PS e PSD são “responsáveis únicos pelo estado a que chegou a economia dos Açores, na cauda da Europa a todos os níveis”.
O cabeça de lista pelos círculos eleitorais de São Miguel e da compensação alude ao índice de pobreza nas diferentes ilhas dos Açores, de forma particular em São Miguel, que afirma ocupar o topo na União Europeia.
O abandono escolar precoce “levou a região a ser recordista a nível nacional e europeu”, sendo “os níveis de iliteracia juvenil assustadores”, de acordo com o dirigente.
Nuno Barata, que já foi deputado pelo CDS-PP no parlamento regional, entre 1996 e 2000, recorda que é também nos Açores que se regista o “maior índice de suicídio na juventude”.
Tendo como uma das suas metas eleitorais “libertar a região, os açorianos, as empresas da omnipresença do Estado, neste caso a Região Autónoma dos Açores”, o candidato da Iniciativa Liberal exemplifica que “não é bom ter uma empresa conserveira com 100% de capital regional a competir com outras empresas do ramo”.
Para o antigo militante centrista, nos últimos seis meses, de pandemia de covid-19, o PS/Açores “governou em quase tirania, desrespeitando as entidades judiciais” e "quem desrespeita os tribunais está pronto para fazer o mesmo com os órgãos de soberania, incluindo o parlamento regional”.
Nuno Barata acusa ainda o executivo regional socialista de “ter destruído a SATA, uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento dos Açores” e o PSD de não fazer oposição, quando o Governo dos Açores “o que precisa é de uma oposição séria, consequente, que seja de facto oposição e não muleta do executivo”.
Para o liberal, no quadro da autonomia política e administrativa, não se pode “é dar trunfos aos centralistas para irem cortando poder” aos Açores.
“Por exemplo, aquilo que os governos regionais dos Açores e Madeira fizeram com as quarentenas obrigatórias é uma afronta à Constituição e ao poder central, uma violação de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Isto não traz coisas boas para a autonomia, bem pelo contrário”, declara o candidato.
De acordo com Nuno Barata, “qualquer centralista sentado na Assembleia da República, no Palácio de Belém, no Palácio Ratton [sede do Tribunal Constitucional] ou qualquer outra instituição da democracia, dirá amanhã, em sede da revisão hipotética do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, que não se pode ter mais poder porque não se sabe gerir o que é dado, extravasando-o”.
Nuno Barata tem 54 anos, é casado, licenciado em Estudos Europeus e Política Internacional, gestor portuário e, além de deputado regional pelo CDS-PP/Açores, foi deputado municipal em Ponta Delgada.
O Iniciativa Liberal possui nos Açores um núcleo territorial do qual emana o grupo coordenador, que neste momento é liderado por Nuno Barata, a par de mais cinco elementos, três de São Miguel e dois da Terceira, círculo por onde o partido também concorre.
O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o executivo regional entre 1976 e 1996.
Vasco Cordeiro, líder do PS/Açores e presidente do Governo Regional desde as legislativas regionais de 2012, após a saída de Carlos César, que esteve 16 anos no poder, apresenta-se de novo a votos para tentar um terceiro e último mandato como chefe do executivo.
Nas anteriores legislativas açorianas, em 2016, o PS venceu com 46,4% dos votos, o que se traduziu em 30 mandatos no parlamento regional, contra 30,89% do segundo partido mais votado, o PSD, com 19 mandatos, e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos).
O BE, com 3,6%, obteve dois mandatos, a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o PPM, com 0,93% dos votos expressos, também um.
Nas eleições regionais açorianas existem nove círculos eleitorais, um por cada ilha, mais um círculo regional de compensação que reúne os votos que não foram aproveitados para a eleição de parlamentares nos círculos de ilha.
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