Jerónimo de Sousa falava no Palácio de Belém, em Lisboa, à saída de uma reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no quadro das audições aos partidos com assento parlamentar sobre a formação do novo Governo.

Para o PCP é "claro e óbvio" que dos resultados das eleições resulta a indigitação do secretário-geral do PS, António Costa, como primeiro-ministro, e "não há necessidade de outro posicionamento ou de qualquer papel, não tem sentido, tendo em conta esta realidade e esta posição do próprio Presidente da República", defendeu.

O secretário-geral do PCP realçou que "o senhor Presidente da República atual não fez nenhuma exigência idêntica" à do seu antecessor, Aníbal Cavaco Silva, que em 2015, para dar posse ao Governo do PS, "exigiu de uma forma persistente algumas medidas básicas que acabariam por ser contidas nesse documento".

Questionado se a falta de um acordo escrito com o PS não trará instabilidade, Jerónimo de Sousa respondeu: "Não. Creio que não foi esse papel que determinou o desenvolvimento dos processos legislativos, das alterações que se verificaram, designadamente no exame comum das propostas de Orçamento do Estado, em que houve, de facto, convergência em relação a direitos importantes que foram concretizados".

A delegação do PCP, que incluía também os dirigentes comunistas Jorge Cordeiro, João Oliveira e Manuela Pinto Ângelo, esteve reunida com o chefe de Estado durante cerca de uma hora.

Jerónimo de Sousa insistiu que esta é uma "conjuntura diferente da de há quatro anos" e declarou que o PCP irá afirmar "claramente a sua independência", com "disponibilidade para procurar que a política de avanços se verifique", mas sem abdicar de "dar combate àquilo que for mau para os trabalhadores e para o povo português".

O secretário-geral do PCP argumentou que "cada iniciativa tem um valor em si mesmo, negativo ou positivo", e disse que o seu partido quer decidir "caso a caso", como já fez anteriormente, "mesmo em relação ao Orçamento do Estado".

"Essa linha de afirmação construtiva existirá da parte do PCP. E simultaneamente também, tal como aconteceu durante estes quatro anos, sempre que considerarmos tal e tal medida negativa, terá a nossa oposição", reforçou.

Sobre o encontro que o PCP terá na quarta-feira com o PS, disse: "Vamos dialogar, conversar, e ali poderemos explicitar melhor o nosso pensamento. Isto é um bocado o avanço da conversa em relação a algumas matérias.

"O guião que levaremos, no essencial quase que me arriscava a dizer que os senhores jornalistas conhecem. Conhecem aquilo que é o nosso programa, as nossas propostas. Respeito pela independência de cada partido, naturalmente, em termos de decisão autónoma. Não estaremos de fora naquilo que for positivo, que for de avanço, é uma certeza que podem contar com este PCP", acrescentou.

O Presidente da República está hoje a receber os 10 partidos que elegeram deputados nas eleições legislativas, com vista à indigitação do primeiro-ministro. O Livre foi a primeira força política a ser recebida e o PS será a última, por ordem crescente de votação.

Nas legislativas de domingo, a CDU (PCP/PEV) teve 329.117 votos em território nacional, 6,46% do total, elegendo 12 deputados, faltando ainda apurar a votação nos círculos da emigração.

O PCP elegeu 10 deputados, um deputado por Beja, um por Évora, três pelo círculo de Lisboa, dois pelo círculo do Porto, um por Santarém e dois por Setúbal, enquanto o PEV elegeu um por Lisboa e um por Setúbal.

Na noite eleitoral, Jerónimo de Sousa considerou que "nada obsta" a que os socialistas formem Governo e este entre em funções, afastando o cenário de um novo acordo escrito com o PS: "Acho que não haverá repetição da cena do papel".

"Será em função das opções de PS, dos instrumentos orçamentais que apresentar e do conteúdo do que legislar que a CDU determinará, como sempre, o seu posicionamento", adiantou o secretário-geral do PCP.