Estas posições foram transmitidas por Pedro Nuno Santos no final de um almoço com a Confederação do Turismo de Portugal (CFP), em Lisboa, após a intervenção de abertura do presidente desta entidade, Francisco Calheiros.
Francisco Calheiros disse que Pedro Nuno Santos, enquanto ministro das Infraestruturas, “teve razão” quando em 2022 fez publicar contra a vontade do primeiro-ministro, António Costa, uma portaria em que numa primeira fase se avançava para a construção de uma solução aeroportuária no Montijo e, depois, a médio e longo prazos, em Alcochete.
O secretário-geral do PS não se debruçou de forma desenvolvida sobre esse episódio que marcou a sua presença no Ministério das Infraestruturas, mas advertiu que nenhuma solução para o futuro aeroporto de Lisboa terá um apoio maioritário e que gerará sempre contestação.
“Temos um aeroporto com uma pista esgotada, já tivemos 50 anos de debates com 19 localizações diferentes estudadas. Do que é que Portugal está à espera. Fiz uma tentativa que se frustrou e com a certeza que não vou perder nem mais um segundo, por duas razões: a primeira é a de que precisamos mesmo de avançar sobre o novo aeroporto o quanto antes; e a segunda é simbólica, porque precisamos de passar a mensagem que o país tem de avançar, não pode ter medo de decidir”, declarou.
A seguir, referiu-se a um dos temas do frente-a-frente que na segunda-feira à noite travou na SIC com o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, que atacou a despesa efetuada pelo Estado com a intervenção financeira na TAP em conjuntura de pandemia da covid-19.
Pedro Nuno Santos observou que esse tema foi levantado tipo “metralhadora” por Rui Rocha na fase final do debate, quando já não dispunha de tempo para lhe responder.
Perante os empresários do turismo, voltou a defender o resgate então efetuado na TAP, apesar de ter reconhecido que esse processo “teve erros e falhas” e que “é uma mochila que vai carregar às suas costas”.
Assinalou porém que a TAP, antes da pandemia, quando a gestão era privada, dava 100 milhões de euros de prejuízo por ano, contrapondo que transportadora aérea nacional se salvou com a intervenção, que agora dá lucro (200 milhões nos primeiros nove meses do ano em 2023), faz encomendas junto de empresas nacionais num valor de 1,3 mil milhões de euros e é responsável por trazer para Portugal os turistas que mais tempo permanecem no país.
Mas avançou também com um novo argumento, depois de se queixar que a política portuguesa se caracteriza por vezes pela “incoerência e dualismo”.
O secretário-geral do PS observou então que a SATA também foi resgatada e a dimensão da intervenção do Governo Regional dos Açores do PSD, CDS e PPM, então também suportado no parlamento pela IL e Chega, correspondeu a 10% do PIB da região autónoma, enquanto no caso da TAP rondou os 1,5% do PIB nacional.
“Não estou a criticar a intervenção pública na SATA, mas nunca ouvi nenhum criticar essa operação. Nunca ouvi ninguém queixar-se. E até hoje não houve um único ano em que a SATA tenha dado lucro. Mas a TAP dá lucro desde 2022. A diferença é que aqui somos nós e nos Açores é a direita toda junta”, declarou.
Na intervenção inicial, Francisco Calheiros desafiou o novo executivo a mudar a orgânica do Governo, alegando que o turismo é um setor transversal, com ligações diretas aos ministérios das Finanças, Infraestruturas e Ambiente.
“Os países que são nossos concorrentes têm um Ministério do Turismo”, comentou, mas o secretário-geral do PS recusou-se a falar em pré-campanha eleitoral da orgânica de um eventual executivo por si chefiado, tendo antes salientado a importância deste setor para o equilíbrio da balança de pagamentos, através do seu peso no conjunto das exportações nacionais.
Pedro Nuno Santos, além das exportações, elogiou o contributo do turismo na criação de emprego, na coesão territorial e para o “efeito de arrastamento” de diversos setores industriais.
Num almoço em que esteve presente o antigo ministro social-democrata e atual presidente da ANA, José Luís Arnaut, o presidente da CTP de Portugal também questionou o líder socialista sobre o processo de privatização da TAP e sobre o modo como se poderá preservar a manutenção do “hub” em Lisboa.
Na intervenção que fez perante os jornalistas, Pedro Nuno Santos não se pronunciou sobre a privatização da TAP, embora a sua posição de princípio seja contra a possibilidade de o Estado perder a maioria no capital da transportadora aérea.
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