Rui Rio, que falava no Palácio de Belém, em Lisboa, à saída de uma reunião com o Presidente da República, no quadro das audições aos partidos com assento parlamentar sobre a formação do novo Governo, deu como certo um acordo entre PS e Bloco de Esquerda (BE).

"Espero, e isso transmitimos ao senhor Presidente da República, que o acordo que venha a ser firmado entre BE e PS não inviabilizem a possibilidade de haver entendimentos no futuro sobre essas matérias estruturais, porque isso é era importante para o país", afirmou.

O presidente do PSD referiu que pretende entendimentos no plano parlamentar com o PS para reformas sobre a descentralização, o sistema de justiça, o sistema político e a segurança social, que, ressalvou, "podem incluir também o BE".

"Agora, não pode haver nenhuma reforma estrutural no país sem a colaboração dos dois grandes partidos, independente de os outros também poderem colaborar. E isso é que era bom para o futuro de Portugal, que não ficasse coartada essa possibilidade de o país poder mexer naquilo que é estrutural, tendo em vista o seu futuro", defendeu.

A delegação do PSD que foi hoje recebida pelo chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, durante cerca de uma hora, incluía também os dirigentes sociais-democratas Nuno Morais Sarmento, Isabel Meirelles, Fernando Negrão e José Silvano.

À saída do encontro, Rui Rio escusou-se a falar sobre a situação interna do PSD e não quis comentar a declaração que o anterior Presidente da República e antigo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva fez à agência Lusa, por escrito, manifestando tristeza com o resultado do seu partido e pedindo uma mobilização de militantes afastados, como a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque.

"Não vou aqui falar sobre isso", disse Rio, argumentando que a indigitação do primeiro-ministro "é um ato solene" e que "não seria lógico que o PSD estivesse em grandes tumultos antes de isso acontecer".

Quanto à indigitação do primeiro-ministro, o líder dos sociais-democratas declarou que, "como é evidente, o Presidente da República vai convidar o líder do maior partido a formar Governo, é o normal".

"Não estávamos à espera que chamasse o líder do segundo classificado como aconteceu no passado. E, portanto, naturalmente que é uma situação que decorre da normalidade e nós estamos naturalmente de acordo com isso", acrescentou, fazendo alusão ao cenário da anterior legislatura, em que o PS foi a segunda força mais votada mas formou Governo com apoio dos partidos à sua esquerda.

Rui Rio salientou que, durante a campanha, antecipou que o PS iria procurar novamente apoios à esquerda para governar e mostrou-se convicto de que "vai haver essa maioria à esquerda", excluindo a hipótese de o PSD poder ser necessário para aprovar orçamentos.

"É um problema que não se coloca sequer. Nem foi necessário falar sobre isso porque está evidente que o desejo do PS - mas isso não constitui para mim novidade nenhuma - é construir essa estabilidade com o BE e com o PCP, se possível, ou então eventualmente só com o BE, se não poder ser com o PCP", considerou.

O PSD quer entender-se com o PS no parlamento somente "no que toca a reformas estruturais", frisou: "No que toca ao dia a dia, não é nada comigo".

O Presidente da República recebeu hoje os dez partidos que elegeram deputados nas eleições legislativas, com vista à indigitação do primeiro-ministro.

Nas legislativas de domingo, PS foi o partido mais votado, com 36,65% dos votos em território nacional, elegendo 106 deputados, e o PSD ficou em segundo, com 27,90% e 77 eleitos, faltando ainda por apurar os resultados dos círculos da emigração.

(Notícia atualizada às 21h37)