“Em tudo o que enfrentámos nas últimas décadas, seja a gripe das aves ou o SARS original em 2002, mesmo quando não há nada a esconder, eles atuam de forma suspeita e não transparente”, afirmou Anthony Fauci em declarações ao canal de televisão norte-americano NBC, citado pela agência EFE.
O epidemiologista, que abandonará o cargo em dezembro, considerou que tal pode acontecer por o Governo chinês não querer ser visto como culpado. “Não tens culpa se algo acontecer no teu país, mas averiguemos o que aconteceu para podermos ser transparentes a esse respeito e evitar que aconteça no futuro”, afirmou.
Anthony Fauci, rosto dos Estados Unidos no combate à pandemia de covid-19, considerou ainda que os confinamentos na China têm sido particularmente severos, sem deixar claro à população qual a meta traçada.
“O objetivo final era que toda a gente fosse vacinada. Então podes compreender os confinamentos temporários [como os do início da pandemia]. Mas eles entraram em confinamentos prolongados, sem nenhum ganho aparente, o que não faz sentido do ponto de vista da saúde pública”, disse.
As medidas de prevenção epidémica da China são as mais restritivas do mundo, ao abrigo da política de ‘zero casos’ de covid-19. A estratégia inclui o isolamento de todos os casos positivos e contactos próximos, o bloqueio de bairros ou cidades inteiras e a realização constante de testes em massa.
Nos últimos dias, manifestações contra as restrições espalharam-se por grandes cidades da China como Pequim, Xangai e Nanjing.
Os protestos intensificaram-se na quinta-feira, após a morte de dez pessoas num incêndio num edifício alvo de confinamento em Urumqi.
A capital chinesa, que tem estado especialmente protegida contra surtos desde 2020, está agora a experimentar os níveis mais elevados de contágio: de acordo com o último relatório oficial, mais de 4.300 novos casos foram detetados no sábado, 82% dos quais assintomáticos.
Estes números, baixos pelos padrões internacionais, mas intoleráveis para as autoridades chinesas, resultaram em restrições e confinamentos que afetam uma grande parte da população da capital.
De acordo com dados da Comissão Nacional de Saúde, a China bateu no sábado o número recorde de infeções, detetando quase 40.000 novos casos, embora mais de 90% se tratem de casos assintomáticos.
Os números oficiais mostram que cerca de 1,8 milhões de pessoas estão atualmente sob quarentena, uma vez que a diretriz é transferir os casos – incluindo assintomáticos – e também, mas separadamente, aqueles que tiveram em contacto com os infetados, para hospitais ou centros de isolamento.
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