“Eu quero destacar aqui que, após o retorno à pátria de Hong Kong e Macau, os assuntos destas duas regiões administrativas especiais são totalmente assuntos domésticos da China”, afirmou Xi Jinping, durante a tomada de posse do novo chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng.

“O Governo e o povo da China estão firmes como uma rocha na sua determinação em defender a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento do país”, afirmou, durante um discurso de cerca de quinze minutos, arrancando aplausos entre uma plateia composta pelas principais personalidades do território.

Além do primeiro chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau, Edmundo Ho, o chefe do Governo cessante, Chui Sai-on, e Ho Iat Seng, que tomou posse hoje, na primeira fila esteve sentada Carrie Lam, a líder de Hong Kong, que atravessa a sua pior crise política desde a transferência da soberania do Reino Unido para a China.

Ho Iat Seng: Futuro de Macau passa por patriotismo, integração e cooperação sino-lusófona

O novo chefe do Governo de Macau, Ho Iat Seng, afirmou hoje, na sua tomada de posse perante o Presidente chinês, que o futuro de Macau passa por reforçar o patriotismo, a integração nacional e a cooperação sino-lusófona.

No seu primeiro discurso na qualidade de chefe do Executivo, Ho Iat Seng sublinhou os "sólidos alicerces de desenvolvimento" e os "progressos notáveis" de Macau assegurados pelos dois antecessores nos últimos 20 anos, com a ajuda do Governo central e sustentou que o caminho a seguir agora também tem de incluir a diversificação da indústria turística, o programa internacional de Pequim "Uma faixa, uma rota" e o projeto regional de construção de uma metrópole mundial que vai juntar o território, Hong Kong e nove cidades da província chinesa de Guangdong.

Por outro lado, o ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL) prometeu "acelerar o planeamento urbano, a construção de habitações públicas, melhorar o trânsito, reforçar a proteção ambiental e impulsionar o desenvolvimento da renovação urbana e também da cidade inteligente".

O novo chefe do Governo destacou o facto de Macau possuir "vantagens únicas" pelo seu "multiculturalismo", como ponte entre o oriente e o ocidente e entre a China e os países de língua portuguesa, um posicionamento que pode ser potenciado, sustentou, pelo seu novo Governo que hoje tomou posse, e pelos vários setores da sociedade, sempre com o apoio de Pequim, sob o princípio "um país, dois sistemas".

"Iremos reforçar os cursos de formação sobre a situação nacional aos funcionários públicos, no sentido de elevar a sua consciência nacional" e "reforçar a o patriotismo dos jovens" para "assegurar que o amor à pátria e o princípio 'Um país, dois sistemas' sejam transmitidos de geração em geração", acrescentou.

O novo Governo de Macau, liderado por Ho Iat Seng, tomou hoje. Trata-se do quinto Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), que celebra hoje o seu 20.º aniversário, depois de em 20 de dezembro DE 1999 o território ter voltado à tutela da China, após mais de 400 anos de administração portuguesa.

A transferência da administração de Macau de Lisboa para Pequim, em 1999, foi feita sob a fórmula 'um país, dois sistemas', que garante ao território um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário.

A fórmula aplica-se também à outra região da China com esta administração especial, Hong Kong, onde os últimos seis meses têm sido marcados por protestos o poder político.

Deputados pró-democracia fora da tomada de posse do Governo e de eventos com Xi Jinping

Pelo menos três deputados pró-democracia da Assembleia Legislativa (AL) de Macau ficaram de fora da tomada de posse do novo Governo e de eventos com a presença do Presidente chinês no âmbito do 20.º aniversário da administração chinesa.

Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Sulu Sou, aparentemente por razões distintas, não compreceram no dia em que se celebram os 20 anos da transferência de Macau para a China.

"Tenho a certeza de que não recebi nenhum convite para o 20.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau [RAEM], inclusive a cerimónia de tomada de posse do novo Governo", disse à Lusa Au Kam San.

O deputado disse ainda não ter ficado surpreendido e estar "habituado a não ser convidado". E acrescentou: "Além disso, mesmo que tivesse sido convidado, não estaria interessado em participar neste tipo de eventos sem qualquer significado".

Em resposta à Lusa, Ng Kuok Cheong afirmou ter recebido convites para as cerimónias, mas que preferiu não participar nas mesmas. "Sabia que não seria bem-vindo a 100% e por isso não vou estar presente", explicou.

Já Sulu Sou, em declarações à Rádio Macau, garantiu ter recebido convites apenas para as "atividades em que o Presiente Xi Jinping não vai participar", algo que considerou "estranho".

Ainda este ano, estes três deputados pró-democracia de Macau lembraram na AL os 30 anos do massacre de Tiananmen, na Assembleia Legislativa de Macau, um tema tabu para o Governo chinês, e pediram a Pequim para não "fugir à verdade histórica", considerando que a sociedade exige "verdade, indemnização e responsabilização".

De resto, o destino de António Ng Kuok Cheong ficou traçado quando se juntou aos protestos em Macau contra o massacre de Tiananmen, em Pequim, a 4 de Junho de 1989. Foi rapidamente 'corrido' do Banco da China e em 1992 foi eleito para a AL, onde continua até hoje.

Sulu Sou, que é vice-presidente da Associação Novo Macau, tem feito da defesa do sufrágio universal em Macau a sua maior bandeira. Ng Kuok Cheong e Au Kam Sa são fundadores da associação, que se tem batido por reformas democráticas no território.

No final de 2018, Au Kam San ficou também ligado a um conflito com as autoridades locais. A Polícia Judiciária enviou mesmo uma carta ao deputado a exigir um pedido de desculpas, no prazo de dez dias, no seguimento de declarações em que o deputado insinuou que as autoridades estavam a realizar escutas ilegais.

Ex-governante de Macau Alexis Tam vai representar território em Portugal e na UE

O ex-secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Alexis Tam, foi hoje nomeado como o representante da delegação económica e comercial do território em Lisboa e junto da União Europeia, em Bruxelas.

De acordo com dois despachos publicados em Boletim Oficial hoje, dia em que tomou posse o novo Executivo de Macau, liderado por Ho Iat Seng, ambas as nomeações têm o período de um ano.

Alexis Tam, que deixou hoje, ao final de cinco anos, a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura no Governo da região, foi distinguido em março deste ano com o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, que reconheceu o seu empenho no desenvolvimento do ensino e da língua portuguesa em Macau.

No currículo, o ex-governante de Macau, nascido em julho de 1962, em Myanmar, conta ainda com um doutoramento em gestão de empresas na Universidade de Nankai, na China, e com um mestrado em gestão de empresas internacionais na Universidade de Glasglow, no Reino Unido.

No Governo de Macau, antes de assumir a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam foi chefe de gabinete do líder do Executivo e porta-voz Governo.