As acusações, apresentadas pelo Reino Unido, Canadá e Estados Unidos sobre o envolvimento "praticamente certo" dos serviços de inteligência russos na tentativa de espionagem, "não fazem nenhum sentido", considerou Kelin no programa de atualidade política "The Andrew Marr Show", da BBC.

"Absolutamente não acredito nesta história", enfatizou o embaixador russo, afirmando ter ouvido falar do ataque pela primeira vez através da imprensa britânica.

De acordo com Kelin, é impossível atribuir ataques de hackers a um país em particular.

Contudo, a entidade governamental britânica encarregada de cibersegurança afirmou que um grupo de hackers russos atacou organizações britânicas, canadianas e americanas para roubar as suas investigações sobre uma vacina contra o SARS-CoV2.

Kelin também desmentiu as afirmações do governo britânico de que "atores russos" tentaram interferir nas eleições legislativas de 12 de dezembro fazendo circular, durante a campanha, documentos sobre um possível acordo comercial entre Londres e Washington pós-Brexit.

Apesar das graves acusações, o embaixador afirmou que a Rússia "está disposta a virar a página" em relação aos recentes embates diplomáticos com Londres e a "fazer negociações" com o Reino Unido.

As relações entre Londres e Moscovo estão fragilizadas desde o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal em território britânico, na cidade de Salisbury.

A Rússia negou qualquer envolvimento no assassinato, mas o caso desencadeou uma série de expulsões cruzadas de diplomatas entre Londres e os seus aliados e Moscovo.

As acusações

O Centro Nacional de Cibersegurança britânico (NCSC), em coordenação com autoridades dos EUA e Canadá, alega que os piratas informáticos APT29, também conhecidos como “the Dukes” ou “Cozy Bear”, é um “grupo de ciberespionagem, quase de certeza parte dos serviços de informações russos”.

“A campanha de atividades maliciosas do APT29 continua, predominantemente contra alvos governamentais, diplomáticos, organizações de investigação, de saúde e de energia para roubar propriedade intelectual valiosa”, refere um comunicado.

O grupo usa uma variedade de ferramentas e técnicas, incluindo ‘spear-phishing’ e ‘malware’ personalizado conhecido como “WellMess” e “WellMail”.

O diretor de operações do NCSC, Paul Chichester, disse estar a trabalhar com os EUA e o Canadá para proteger o setor da saúde, que é uma prioridade na atual pandemia.

“Urgimos as organizações a familiarizarem-se com os conselhos que publicamos para ajudarem a defender as suas redes”, acrescentou.

Não ficou claro se alguma informação foi roubada, mas o Centro Nacional Cibersegurança garante que não se acredita que informações confidenciais dos cientistas tenham sido comprometidas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, afirmou ser “completamente inaceitável que os Serviços de Informação russos tenham como alvo aqueles que trabalham para combater a pandemia do coronavírus”.

O grupo “Cozy Bear” foi identificado por Washington como um dos dois grupos de piratas ligados ao governo russo que invadiram a rede de computadores da Comissão Nacional Democrata e roubaram correios eletrónicos antes das eleições presidenciais de 2016.

O outro grupo é geralmente apelidado de “Fancy Bear”.

As autoridades norte-americanas lançaram acusações semelhantes contra a China há um mês, reiteradas na semana passada pelo diretor do FBI, Chris Wray.

“Neste exato momento, a China está a trabalhar para comprometer as organizações de saúde americanas, empresas farmacêuticas e instituições académicas que conduzem investigações essenciais sobre a covid-19″, afirmou.