“Pessoalmente, sim. Tenho esse receio (do crescimento da extrema-direita), mas acredito que mesmo que ganhe o PVV (Partido para a Liberdade), ele não conseguirá formar um governo maioritário”, disse à Lusa Álvaro Faustino, um dos administradores do blogue e da página do Facebook "Portugueses na Holanda".
Num ano considerado de alto risco para a UE devido à realização de diversas eleições nacionais em Estados-membros “de peso” - designadamente as presidenciais em França (em abril) e legislativas na Alemanha (setembro) -, num contexto de subida do populismo e da extrema-direita, a Holanda é a primeira a ir às urnas, já na quarta-feira, e o PVV de Geert Wilders, eurocético e islamofóbico, é forte candidato à vitória.
Após ter obtido em 2012, nas últimas eleições nacionais, 10% dos votos, e de nas eleições europeias de 2014 ter alcançado 17%, o PVV, que tem entre as suas “bandeiras” eleitorais a promessa de realização de um referendo sobre a saída da Holanda da UE e o fim da “islamização” do país, surge à frente em recentes sondagens, com a possibilidade de conquistar 20% dos votos.
No entanto, num sistema político complexo como o da Holanda, onde quase todos os Governos resultam de coligações, dado apresentarem-se às urnas dezenas de partidos – estima-se que tenham assento na futura assembleia nada menos que 14 -, mesmo que Wilders seja o mais votado, não é certo que consiga formar um executivo.
Até porque durante a campanha todos os restantes candidatos têm garantido que não farão parte de um governo com o PVV, que necessita de aliados para obter uma maioria.
Álvaro Faustino disse que a "maioria da comunidade não segue as notícias eleitorais holandesas com interesse, apenas curiosidade".
O administrador do blogue voltado para a comunidade portuguesa afirmou que os portugueses estão divididos em relação às eleições legislativas na Holanda.
“Muitos têm esse receio, que o PVV chegue ao poder, outros até nele votariam se fosse possível”, referiu, explicando que os estrangeiros não podem votar na Holanda.
Um eventual governo da extrema-direita, segundo Álvaro Faustino, “seria algo do género Trump, com a aplicação de leis a impedir a entrada de imigrantes e refugiados de proveniência muçulmana".
Álvaro Faustino considera que a questão da proibição da entrada de imigrantes e refugiados de proveniência muçulmana é a base da campanha de Wilders, mas, alerta, "daí até à legalidade das medidas, penso que Wilders compraria uma guerra diplomática com vários países e mesmo com a UE. Seria difícil o PVV aplicar medidas deste género contra imigrantes”.
“Mesmo sendo governo, terá de o ser coligado, o que quer dizer que teria de haver cedências de parte a parte, e nenhum partido tem semelhante posição no seu programa. De início, os portugueses não teriam problemas. A campanha de Wilders é contra muçulmanos e países de leste, mas a incerteza e insegurança instalar-se-iam”, assegurou.
“Enquanto os restantes partidos não olharem verdadeiramente para as comunidades imigrantes, que sempre foram marginalizadas e onde a integração falhou redondamente, haverá sempre Wilders a usar o lado mau destas mesmas comunidades. Em relação à comunidade portuguesa, esta é calma e não tão numerosa. Penso que, pelo menos para início, passaríamos despercebidos”, sublinhou.
De acordo com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, são menos de 20 mil portugueses os que vivem na Holanda.
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