Na última edição do “Compêndio de Indicadores de Produtividade”, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) nota que “os salários reais (ajustados dos efeitos da inflação) caíram entre 2010 e 2016 em Portugal, Espanha e no Reino Unido” como resultado do número crescente de empregos de baixa produtividade.
“A quota de rendimento proveniente da atividade económica que é direcionada para o trabalho através dos salários caiu na maioria dos países nos últimos anos, mas mais acentuadamente na Hungria, Irlanda, Israel, México, Polónia e Portugal”, refere.
“E, embora noutros países, como a Alemanha e os EUA, os salários reais tenham começado a subir em linha com o aumento da produtividade do trabalho registado nos últimos anos, ainda que de forma lenta, em muitos setores, os salários continuam a não acompanhar a evolução da produtividade”, nota a OCDE, esclarecendo que tal aconteceu num terço dos vários setores económicos na Alemanha e nos EUA.
De acordo com a organização, o fraco crescimento da produtividade do trabalho “continua a caracterizar as economias mais desenvolvidas do mundo e ameaça comprometer melhorias na qualidade de vida”.
Este abrandamento do crescimento da produtividade (medido em termos de valor acrescentado por hora trabalhada) tem, segundo a OCDE, afetado especialmente o setor industrial – quer atividades de alta tecnologia, como computação e eletrónica, quer indústrias com níveis mais baixos de especialização – continuando “elevadas” as diferenças de produtividade laboral entre as empresas de maior e de menor dimensão.
“E embora o crescimento económico em muitos países tenha levado a um aumento do emprego, com destaque para Itália, México, Espanha, Reino Unido e EUA, a maioria dos novos postos de trabalho criados são em atividades de produtividade relativamente baixa”, refere.
Segundo a responsável pelo departamento estatístico da organização, “a dissociação de longo termo entre o crescimento dos salários e da produtividade a que se assiste em muitos países da OCDE pode igualmente estar a potenciar desigualdades no rendimento e na riqueza”.
“O abrandamento do crescimento da produtividade e o grande número de empregos de baixa produtividade que estão a ser criados limitam o alcance de melhorias no bem-estar material”, acrescenta Martine Durand.
O “Compêndio de Indicadores de Produtividade” revela que em 2016, o último ano para o qual estão disponíveis dados internacionais comparáveis, o investimento – um importante impulsionador do crescimento da produtividade – estava a começar a aumentar.
Contudo, as taxas de investimento, particularmente na área das máquinas e equipamentos e de outros bens tangíveis, permaneciam “ainda abaixo dos níveis pré-crise em muitos países da OCDE”.
Já o investimento em produtos de propriedade intelectual, como ‘software’ e Investigação & Desenvolvimento (I&D), tem vindo a aumentar desde antes da crise, muitas vezes a um ritmo mais elevado que o do investimento em capital físico, mas ainda com “diferenças significativas” entre os vários países.
Como exemplos são avançados os casos da Colômbia, Suíça e Irlanda, onde a quota de investimento total direcionado para a propriedade intelectual em 2016 foi, respetivamente, de 1,1%, 30% e 56%.
Ainda segundo o compêndio hoje divulgado, “o relativamente robusto investimento em propriedade intelectual, apesar de só passado algum tempo revelar efeitos positivos nas empresas, pode atuar como catalisador para um crescimento económico mais forte no futuro”.
Para a OCDE, a produtividade é, em última análise, uma questão de “trabalhar melhor” em vez de “trabalhar mais”, refletindo a capacidade das empresas para produzirem mais mediante o recurso a novas ideias, inovações tecnológicas e melhorias organizacionais e de processos.
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