Enfermeiro há 22 anos, saiu do Hospital São João, no Porto, para protestar pacificamente em frente ao parlamento, em Lisboa.
“Este é o meu grito de revolta para com o Governo e para com o Ministério da Saúde”, disse à agência Lusa.
Duarte Gil Barbosa começou a greve de fome esta manhã e pretende ficar no local “72 horas, até segunda-feira ao meio-dia”, ou “até que seja ouvido pelo primeiro-ministro”.
“Se não houver nenhuma decisão governamental tenciono juntar-me ao enfermeiro Carlos Ramalho [presidente do Sindepor], que está no Palácio de Belém”, também em Lisboa, disse.
Apesar de afirmar que não pode “deixar de exercer”, o enfermeiro admitiu estender a greve “pelo tempo que o Governo entender que deve manter as coisas iguais”, uma vez que, na sua opinião, “a situação dos enfermeiros já se arrasta há bastante tempo”.
“Só quando houver um compromisso claro, cara a cara, é que eu vou deixar de fazer greve”, salientou.
Duarte Gil Barbosa considerou que, “neste momento, os enfermeiros sentem uma revolta bastante grande por tudo o que tem acontecido nos últimos tempos, desde a requisição civil, desde ameaças de faltas injustificadas aos colegas que estiveram em greve durante o período de greve, desde o encerramento das negociações”.
Sobre a retoma das negociações entre o Governo e os sindicatos, que a tutela estima que possa acontecer até ao início de março, o enfermeiro garantiu que, para si, isso “não chega”.
“Estamos cansados, estamos exaustos desta situação, e eu não vou abdicar da greve de fome enquanto não houver um compromisso claro do primeiro-ministro em que vai negociar verdadeiramente connosco, que não vai marcar faltas injustificadas aos colegas que estiveram em greve e que vai retirar todos os processos disciplinares que possam existir”, assinalou.
Apesar de assegurar não ser sindicalizado, o enfermeiro participou na greve.
“Eu trabalho na unidade pós-anestésica, conhecida por recobro, no Hospital São João. Eu fui um dos profissionais que sempre fez greve, embora a greve no recobro não tenha um impacto tão grande como no Bloco”, explicou.
Com esta greve de fome, o enfermeiro especialista disse pretender uma melhoria das condições de trabalho da classe.
Duarte Gil Barbosa contou que, apesar das mais e duas décadas de carreira, aufere “um vencimento igual a um colega que comece agora a trabalhar”, mesmo tendo “tirado uma especialidade” que lhe conferiu “competências acrescidas”.
“Essa também é uma revolta”, sublinhou, lembrando que, apesar de ter sido sempre avaliado ao longo destes anos todos, “é como se não fosse”, pois nunca subiu na carreira, à semelhança do que acontece com mais de 15 mil enfermeiros que estão na mesma situação.
Considerando que os enfermeiros não estão “a pedir nada de extraordinário ao Ministério da Saúde”, o especialista reclamou “um vencimento compatível com uma licenciatura”.
“Se um nutricionista aufere um vencimento de 1.600 euros, nós que trabalhamos 24 horas por dia, que fazemos turnos, manhã, tarde, noite, é uma profissão de desgaste rápido, faz todo o sentido nós ganharmos, no mínimo, inicial de 1.600 euros”, defendeu.
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