Um ano após ter sido eleito, à segunda volta, para a liderança do fórum de ministros das Finanças da zona euro, na votação que decorreu em Bruxelas, Centeno não logrou ainda aproveitar “a janela de oportunidade” que há atualmente no espaço da moeda única, “em termos políticos e económicos”, de modo a completar a reforma das instituições da zona euro, aquela que apontou como a grande prioridade da sua presidência.

O dissimulado ‘fracasso’ da cimeira do euro de junho, da qual saiu com um “mandato claro”, mas sem progressos concretos no aprofundamento da União Económica e Monetária, essencialmente ao nível de um orçamento comum para a zona euro, ‘empurrou’ todas as decisões para a cimeira do euro de dezembro, que será o verdadeiro teste ao sucesso do ministro português.

Ao golo ‘falhado’, o “Ronaldo da economia portuguesa”, expressão usada pelo comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, para o elogiar no seguimento da primeira reunião a que presidiu, em 22 de janeiro, contrapõe a bandeira da saída limpa da Grécia do terceiro programa de assistência, e o adeus aos “últimos resquícios da crise do euro”.

Depois de ter anunciado, em 02 de março, a conclusão bem-sucedida da terceira e penúltima revisão do programa de assistência à Grécia, coube-lhe a missão de comunicar o acordo “histórico”, no final de uma maratona negocial que terminou na madrugada de 22 de junho.

“Este foi um Eurogrupo para recordar. Após oito longos anos, a Grécia vai finalmente concluir a sua assistência financeira e junta-se à Irlanda, Espanha, Chipre e ao meu próprio país, Portugal, no grupo de países a dar a volta à sua economia e a reconquistar a sua autonomia”, declarou Mário Centeno na conferência de imprensa no final daquela reunião.

Terceiro presidente da história do fórum de ministros das Finanças da zona euro, depois do luxemburguês Jean-Claude Juncker e do holandês Jeroen Dijsselbloem, o ministro português de 51 anos congratulou-se então pelo “final dos últimos resquícios da crise do euro”, consumado em 20 de agosto com a conclusão do terceiro programa grego e, consequentemente, do ciclo de resgates a países na zona euro no quadro da crise económica e financeira, entre os quais Portugal (2011-2014).

Sem críticas audíveis ao seu desempenho enquanto presidente do Eurogrupo – o desconforto que perpassa nas suas comparências diante da imprensa talvez seja o ‘defeito’ mais evidente a apontar –, não evitou pequenas polémicas, a primeira das quais logo em janeiro, quando foi confrontado com a (breve) pretensão do líder parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE), Manfred Weber, de agendar um debate no hemiciclo sobre “as alegações” relativas a hipotéticos benefícios concedidos pelo ministro das Finanças em troca de bilhetes de jogos de futebol.

Curiosamente, tem sido no Parlamento Europeu (PE), quase sempre em português, que Centeno mais ‘ataques’ tem recebido, nomeadamente pelas contradições entre os discursos enquanto ministro das Finanças e enquanto presidente do Eurogrupo.

Em fevereiro, o eurodeputado social-democrata José Manuel Fernandes inquiriu-o sobre “o que é que o presidente do Eurogrupo recomenda ao Governo e ao ministro das Finanças de Portugal para inverter a situação [de um crescimento menor do que a média europeia]?”.

Menos de cinco meses depois, o mesmo eurodeputado, que é também o coordenador do PPE na Comissão de Orçamentos do PE, e o colega Paulo Rangel, acusaram-no, num debate em Estrasburgo, de inexistência e insucesso.

“Incoerência” foi a palavra escolhida por Marisa Matias, em 20 de novembro, ao notar que é “desconcertante” vê-lo, enquanto presidente do Eurogrupo, a “encabeçar as ameaças” a Itália, precisamente o país que será o seu grande desafio no próximo ano de mandato.

Numa deslocação a Roma, em 09 de novembro, Centeno exortou o Governo italiano a submeter a Bruxelas um novo plano orçamental em linha com as regras comuns europeias, um apelo ignorado pelo executivo de Giuseppe Conte, e que se traduziu na recomendação de abertura de um procedimento por défice excessivo a Itália com base na dívida por parte da Comissão Europeia.

Lidar com uma eventual intransigência do Governo italiano, ou com possíveis sanções a Itália, será para Centeno a ‘tarefa’ mais delicada dos meses que se avizinham.

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