“Nós não inventámos nada, herdámos dos nossos antepassados e estamos cá para manter para as próximas gerações”, explicou à Lusa Luís Filipe Costa, um dos jovens da aldeia transmontana que faz parte da festa.

“Eu nasci careto”, enfatizou, e aos 34 anos é um dos nomes ligados à tradição que faz fatos de caretos, máscaras e outros objetivos ligados aos rituais que lhe inspiram um negócio na aldeia e uma tese de mestrado.

O carnaval é Entrudo Chocalheiro e ocorre no fim de semana prolongado, com um desfile noturno na sede de concelho, Macedo de Cavaleiros, a marcar o arranque das festividades, normalmente num sábado.

No domingo, como contou à Lusa, a festa passa para a aldeia de Podence e caretos, com fatos de lá coloridos, máscaras de ferro e lata, um pau para amparar as tropelias e um cinto de chocalhos, andam pelas ruas.

Entre a algazarra há as matrafonas, com quem os caretos não querem contas e a quem não chocalham, reservando as investiduras para as raparigas que apanham desprevenidas.

“Noutros tempos, era o dia em que se permitia aos rapazes terem um contacto mais atrevido com as raparigas”, recordou.

Nos últimos anos, o número de visitantes tem vindo a aumentar, com cerca de 30 mil forasteiros no Entrudo de 2019.

A aldeia ganha movimento e cresce economicamente, nomeadamente nas tasquinhas e restaurantes.

“Queremos que esta tradição também faça com que cada vez pessoas não tenham de emigrar”, afirmou.

O Entrudo Chocalheiro prossegue na segunda-feira de Carnaval com os animados casamentos, em que, no adro da igreja, os rapazes anunciam casamentos burlescos com dotes satíricos, anunciados por “embudes” (funis que servem de altifalantes).

Na terça-feira, os caretos voltam a sair à rua e vão de casa em casa e de adega em adega.

O ritual tem também a função de juntar a população e, como contou Luís Filipe Costa, “mesmo aquelas pessoas que durante o ano não se falam muito ou andam meias desavindas, naquele dia permite-se as pessoas irem a casa umas das outras”.

O Entrudo Chocalheiro regressa entre 22 a 25 de fevereiro de 2020 com o estatuto de Património Imaterial da Humanidade.