A Casa Guerreiro abriu portas em 1922, na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, a principal artéria de Viana do Castelo construída entre 1917 e 1920.

A antiga pensão ocupa os dois pisos superiores do imóvel. Já no rés-do-chão estão instalados uma loja de produtos regionais e o Café Guerreiro, com alvará atribuído em 1943.

Contactado pela agência Lusa, o autarca socialista, José Maria Costa, disse tratar-se de um edifício que faz parte da "memória coletiva" da cidade, mas destacou "o projeto de reabilitação, num investimento de mais de meio milhão de euros".

"A parte superior do edifício não tinha utilização há muito tempo. Com este projeto vai ganhar uma função residencial que valorizará o centro histórico", disse o autarca socialista.

Segundo José Maria Costa, o novo projeto "vai ao encontro da estratégia de reabilitação urbana do centro histórico que o município tem vindo a desenvolver".

O autarca realçou "a oferta habitacional que criará no centro histórico", acrescentando que "a falta de alojamento destinado a jovens casais ou estudantes é uma das carências" do centro histórico da capital do Alto Minho.

"Há muito dificuldade (…) e, nesse sentido, é muito importante a função residencial que o edifício irá ganhar com este projeto. É um imóvel que faz parte da memória coletiva e que esta requalificação valorizará o centro histórico", referiu.

À Lusa, o vereador do Planeamento, Gestão Urbanística, Desenvolvimento Económico, Mobilidade e Coesão Territorial, Luís Nobre, adiantou que o processo de licenciamento que deu entrada na autarquia está relacionado com a reabilitação do edifício e a sua transformação em 12 unidades funcionais".

Ao nível do rés-do-chão, "o projeto prevê um estabelecimento de restauração e bebidas, duas unidades de comércio ou serviços".

Na parte superior do imóvel "serão criadas nove unidades habitacionais de diferentes tipologias (dois T0, quatro T1, dois T2 e um T3)".

Luís Nobre adiantou que o alvará de construção atribuído à sociedade Jomafema - Imobiliária é válido até novembro de 2023.

Os promotores "já têm licença de obras que deverão arrancar a breve prazo", concluiu o vereador.

O início da intervenção marca o encerramento do Café Guerreiro a funcionar há 77 anos na principal rua da capital do Alto Minho.

Samuel Matos começou a trabalhar no café como empregado, em 1970, tinha 15 anos. Hoje, aos 65 anos, não escondeu a "amargura de deixar os clientes que tem como amigos de toda uma vida".

"É com muita amargura que tenho de os deixar. Tinha aqui uma família. São mais de 14 horas por dia aqui, há 50 anos. São mil e uma recordações, muitas histórias de alegrias e tristezas", disse o empresário em declarações à agência Lusa.

Em 1984, o espaço ficou com passe do estabelecimento conhecido "em todo o lado" pela sangria "especial", receita "com 36 anos" que não divulga. As tostas à Guerreiro, os cachorros, as bifanas ou as moelas são outros dos pratos fortes do café.

Há dois anos, Samuel foi abordado pelo promotor do novo projeto e hoje não poupou críticas à forma como foi conduzido o processo de saída.

"Só me deram metade do valor das obras que fiz no café. Gastei aqui 75 mil euros. Além disso dão-me o valor de dois anos de rendas. É inadmissível. A lei do arrendamento não é justa porque não protege os inquilinos da mesma forma que os senhorios. Põe-me na rua com uma mão à frente e outra atrás", lamentou.

O Café Guerreiro vai fechar portas na quinta-feira. Nas redes sociais os clientes mobilizam-se para uma festa de despedida que Samuel Matos não tem dúvidas que terá "muitas lágrimas".