"Prefiro ter mais cuidado até me vacinar e ter um pouco de imunidade", diz Antonio, de 35 anos, que admite ter mudado radicalmente os seus hábitos. Quando viu a evolução da epidemia no país, deixou de frequentar bares e discotecas ou festas. Afirma estar preocupado ao ponto de na marcha Pride "não ter feito nada".

Pablo (nome alterado) tem 38 anos, trabalha na indústria farmacêutica e está prestes a ir de férias para fora do país. Não tem parceiro fixo e, nestas semanas, evitou "situações de risco para tentar não contrair" a doença.

A predisposição à abstinência parece ser bastante difundida na comunidade LGBT, como confirmado por outros homens entrevistados pela AFP, mas que, segundo a agência, se recusaram a dar o seu depoimento devido à sensibilidade do tema.

A OMS aconselhou "homens que fazem sexo com homens" a reduzir o número de parceiros sexuais, para que "possam contactá-los" se desenvolverem sintomas e para que se possam isolar.  A organização lançou o seu nível mais alto de alerta em 23 de julho para tentar controlar a doença.

Em Espanha, as associações locais fizeram esse apelo antes mesmo da OMS, mas as ONGs denunciam a falta de prevenção, a escassez de vacinas e a estigmatização.

Antonio, por exemplo, levou três semanas para conseguir uma consulta para se vacinar e teve de fazer login todos os dias à meia-noite no site oficial. "Não é como a covid, a vacina já está aí, não é preciso inventar". Assim como outros membros da comunidade gay, acredita que as autoridades não levaram em conta a dimensão do problema.

Javier passou três dias no hospital no início de julho depois de ser infetado. Após três semanas de isolamento, está empenhado em alertar as pessoas ao seu redor.  "Advirto todos: 'tive isto, tomem cuidado'. É uma doença infecciosa", lembra.  O diretor de fotografia de 32 anos, que vive um relacionamento monogâmico e não sabe como contraiu o vírus, diz que a doença "pode ser apanhada por qualquer um".

Até o momento, a Espanha recebeu apenas 5.300 doses, que chegaram no final de junho. A AFP procurou um comentário do ministério da Saúde espanhol, mas ficou sem resposta.

A Espanha, com 3.738 casos segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) registou as duas primeiras mortes na Europa e é o país mais afetado do mundo, à frente dos Estados Unidos (3.478). O ministério da Saúde espanhol contabiliza mais casos do que a OMS — 4.298 até este sábado.

"Não queremos gerar uma falsa segurança dentro da população heterossexual"

Para Nahum Cabrera, da federação FELGTBI+, é urgente vacinar as pessoas de maior risco - não apenas os homossexuais -, ou seja, "pessoas que frequentam locais para a prática de sexo, locais de troca de parceiros, saunas".

"Não queremos gerar uma falsa segurança dentro da população heterossexual, porque a doença está exposta a todas as pessoas", sublinha.

Para este responsável, a faixa etária para a qual a vacinação deve ser direcionada é entre os 18 e os 46 anos, porque Espanha já estava vacinada contra a varíola até à década de 1970, quando o vírus não tinha sido erradicado da Europa.