As eleições legislativas espanholas de domingo terminaram sem maiorias absolutas à esquerda e à direita, pelo que a investidura do novo governo ficou nas mãos de partidos regionalistas, nacionalistas e independentistas, como já aconteceu na última legislatura.

O atual governo espanhol é uma coligação do partido socialista (PSOE) e da plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos que foi viabilizado no parlamento por outras oito forças políticas.

Entre essas oito forças políticas estavam nacionalistas bascos, catalães e galegos e dois partidos separatistas de esquerda, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e o EH Bildu (do País Basco).

A ERC e o Bildu já manifestaram a intenção, em declarações no domingo à noite e hoje, de voltarem a viabilizar um governo de esquerda e extrema-esquerda em Madrid, para evitar a repetição das eleições e o risco da chegada da direta ao poder.

"Não especulamos, cumprimos com a nossa palavra. Se depender do EH Bildu, a balança vai inclinar-se para a esquerda", afirmou hoje o líder do partido basco, Arnaldo Otegi, numa conferência de imprensa para analisar os resultados das eleições.

"A primeira mensagem" do eleitorado basco no domingo é que "não quer de nenhuma maneira que governe o bloco reacionário", afirmou Otegi.

De todos os partidos independentistas, o EH Bildu foi o único a melhorar os resultados nas eleições de domingo e passou de cinco para seis deputados no parlamento espanhol.

Na Catalunha, onde os socialistas foram os mais votados, a ERC passou de 13 para 7 deputados e o JxCat perdeu um lugar no parlamento e tem agora também 7.

A ERC já disse que está disponível para voltar a viabilizar um governo de Sánchez em Madrid, mantendo as exigências do acordo da anterior legislatura: mais autonomia fiscal para a Catalunha, a passagem dos comboios suburbanos para a tutela regional e a manutenção da "mesa de diálogo" entre executivo nacional e autonómico, no seio da qual pretende conseguir uma acordo para um referendo sobre a independência e amnistia dos envolvidos no processo de 2017.

Já o JxCat, que no parlamento espanhol assumiu sempre, na última legislatura, um papel de oposição ao governo de Sánchez, afirmou que não viabilizará um executivo socialista "a troco de nada" e sublinhou que a prioridade "é a Catalunha" e não "a governabilidade do Estado".

O JxCat não aceitou sentar-se na "mesa de diálogo" entre governo de Espanha e governo regional catalão formada na última legislatura e exige também um referendo e uma amnistia para independentistas.
Dirigentes da ERC apelaram no domingo à noite e hoje ao JxCat para se juntar a uma frente independentista no parlamento espanhol que impeça um governo PP ou até PP/VOX.

"O resultado mostra que a independência da Catalunha é a chave para o futuro do que pode acontecer no âmbito do Estado.

Apelamos ao Junts para que construa esta resposta e utilize esta força para defender os interesses da Catalunha. Quanto maior for a unidade e o consenso estratégico do movimento pró-independência, melhor", afirmou hoje, numa conferência de imprensa, a dirigente da ERC Marta Vilalta, que sublinhou que está em causa a "possibilidade de construir uma maioria alternativa e de progresso" que "trave a onda reacionária".

Puigdemont reiterou no domingo, numa publicação na rede social Twitter, a sua oposição às políticas dos socialistas para a Catalunha, mas terminou o texto com uma mensagem que parece ser mais crítica da direita: "Temos de continuar a defender a Catalunha contra aqueles que querem liquidar a nossa língua, a nossa cultura, a nossa nação."