“Como é que nós podemos ainda hoje ter uma empresa pública e que foi nacionalizada, como a TAP, que foi resgatada com fundos dos nossos dinheiros públicos e que mantém uma aberração ambiental, que é uma linha aérea entre Lisboa e Porto, que tem 250 quilómetros? No fundo, nós contribuintes, estamos a subsidiar um transporte que é, ele próprio, um atentado ambiental”, defendeu Manuel Tão.

O especialista em transportes da Universidade do Algarve, falava em entrevista à agência Lusa, a propósito do Plano Ferroviário Nacional (PFN), apresentado em meados de novembro e que se encontra atualmente em fase de consulta pública, até 28 de fevereiro.

Relativamente ao PFN, o especialista em transportes não antevê que problemas de nível ambiental sejam um constrangimento para que uma parte significativa desse plano venha a tornar-se realidade.

“Em qualquer coisa como três décadas, construíram-se 3.000 quilómetros de novas autoestradas e não me recordo de qualquer tipo de problema ambiental na construção de autoestradas”, apontou.

Para Manuel Tão, a aposta na rodovia, em detrimento da ferrovia, nos últimos 37 anos, desde a adesão de Portugal à União Europeia (então Comunidade Económica Europeia), tratou-se de “um grande equívoco da classe política” no Governo.

“[Os governantes] confundiram um modelo americano com o modelo europeu, isto é, [entenderam] que aquilo que seria uma mobilidade garantida pelo automóvel particular tinha a virtuosidade de ter efeitos de crescimento económico e desenvolvimento do território que realmente não teve. Aquilo que nós hoje somos é praticamente um país rodoviário. Estamos completamente dependentes de um recurso que não temos, que é o petróleo”, apontou.

Segundo o especialista, o que o Estado paga a cada três anos às parcerias público-privadas das autoestradas equivale a uma linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto.

Pelo contrário, exemplificou, Espanha, que aderiu à União Europeia ao mesmo tempo, construiu “mais de 4.000 quilómetros de novas linhas de caminho-de-ferro”.

Com aquele investimento, o país vizinho deixou de ter uma ponte aérea de cerca de 600 km entre Madrid e Barcelona, uma vez que o comboio, que demorava cerca de oito horas e meia, atualmente leva pouco mais de duas horas a fazer a ligação.

“Nós estamos, de facto, num caminho completamente oposto daquilo que é o paradigma europeu e da União Europeia de descarbonização, de aliviar outro tipo de efeitos negativos do transporte aéreo e transporte rodoviário a nível do congestionamento, ou a nível da sinistralidade”, acrescentou Manuel Tão.