A dois dias de participar em Katowice, na Polónia, na última semana da conferência mundial sobre o clima que ali decorre, João Pedro Matos Fernandes disse à Lusa que a próxima década vai ser de mudanças, até porque os custos de nada fazer são muito mais elevados.
“Temos consciência de que, de maneira geral, com o combate às alterações climáticas vamos ter uma economia muito mais sustentada e criadora de emprego muito mais qualificado”, disse o ministro, admitindo que “existe sempre um risco de marginalização quando se fazem estas transformações”, mas que “os custos da inação são indesmentivelmente os custos mais elevados”.
Para João Pedro Matos Fernandes, se nada for feito para fazer face às alterações climáticas, haverá “um enorme número de marginalizados e os custos vão ser brutais”, sendo muito mais barato transformar “custos em investimento”.
E dá um exemplo. Se até 2030 as duas centrais a carvão de Portugal vão ter de fechar, as centenas de pessoas que nelas trabalham têm de ter um projeto específico. “Temos sete a oito anos para o consumar, para a reconversão profissional e criação de novos empregos, para requalificação. Porque não faz sentido deixar para trás um conjunto de classes profissionais. Isso não vai acontecer”.
Na entrevista à Lusa o governante fala de flexibilidade quando fala da próxima década e das alterações climáticas. Fala de ajustamentos também, e lembra os fogos de 2017, a seca no inverno passado, para dizer que o país conhece bem as alterações climáticas e que é preciso ser parcimonioso e eficiente no uso dos recursos.
E se Portugal é um dos países que sempre cumpriu as metas a que se obrigou desde o protocolo de Quioto (que em 1997 iniciou o processo de envolvimento dos Estados no combate às alterações climáticas), independentemente dos governos, é também o que está numa das regiões do mundo onde a água que se consome é menos do que a que chove, é também aquele que tem uma das costas mais sujeitas às alterações. “Há troços da costa, nomeadamente no litoral centro e norte, com taxas médias de recuo de sete metros a cada ano”.
É por isso que há investimentos a fazer. Na próxima década vão ser investidos 900 milhões de euros na proteção do litoral, na descarbonização do transporte coletivo vão ser investidos mais 7,5 mil milhões.
Matos Fernandes fala da ambição europeia de fazer mais, agora ao lado do novo governo de Espanha, alinhado nas mesmas preocupações.
E lembra que organizações não governamentais europeias classificaram Portugal como o segundo país mais comprometido com o combate às alterações climáticas e um inquérito do Banco Europeu de Investimentos que revelou que os portugueses são os mais preocupados com as alterações climáticas (80%).
Até 2030 é preciso reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 45% e 55%, é preciso chegar a 47% da produção de energia a partir de fontes renováveis e é preciso chegar a 80% da energia elétrica a partir de fontes renováveis.
“Se Portugal se pode orgulhar do que fez nas renováveis, na melhoria da qualidade da água, na melhoria dos efluentes, não posso dizer o mesmo do setor dos transportes. Esta é mesmo a década da grande mudança da mobilidade”, diz João Pedro Matos Fernandes.
Vai haver, garante, melhor oferta de transportes coletivos, mais mobilidade partilhada, mais digitalização.
“Vai ser uma mudança muito rápida”, afirma, acrescentando defender que as autarquias devem ter por lei “a capacidade de fixar regras para o número de veículos que entram nas cidades ou o tipo de motorização que é consentido”, e que “na próxima legislatura essa capacidade deve ser dada por lei às autarquias”.
Questionado pela Lusa sobre como se inserem nesta política de descarbonização as tentativas de encontrar petróleo em Portugal o ministro reiterou o que tem vindo a dizer – que se devem conhecer os recursos, que emissões neutras não querem dizer emissões ou petróleo zero e que em 2050 o país ainda estará a importar 10 milhões de barris de petróleo por ano (atualmente importa 70 milhões).
Mas ainda sobre a exploração de petróleo acrescenta que Portugal não se preparou para esta discussão e por isso o governo decretou uma moratória até final da legislatura, “que obviamente vai ser cumprida”.
“E eu acho que só vai poder considerar-se a exploração de petróleo em Portugal com uma discussão publica muito mais alargada, muito a partir destes compromissos assumidos por todos, sem andarmos a discutir o local A ou o local B”, conclui.
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