“Estou convencida de que os espanhóis nunca deram muita importância a Portugal e agora acabam de descobrir o país”, disse à agência Lusa Elena Ochoa, diretora e apresentadora do programa Europa 2017 da televisão púbica espanhola (TVE).
Na véspera do debate do Estado da Nação, alguns jornalistas de órgãos internacionais apontam o percurso aparentemente positivo de Portugal após a crise, a sua situação de segurança e a estabilidade social e política como fatores de diferenciação mediática, que contribuiu também para a procura de turistas ao país.
“Portugal parecia uma montanha russa, umas vezes em crise e outras não, mas agora parece ter recuperado”, afirmou o jornalista Fernando Garcia del Rio, especializado em temas de Cultura do jornal catalão La Vanguardia em Madrid.
O jornalista aponta a solução governativa de esquerda portuguesa como um exemplo político e um caso de sucesso para os partidos socialistas, que estão a perder votos em toda a Europa.
A visibilidade de alguns eventos como a Web Summit, no ano passado, trouxe uma nova imagem pública para o país.
“As coisas mudaram e melhoraram, e foi uma das razões porque eu fui. Portugal tem estado fora do radar, mas a economia recuperou e atravessou a crise bastante bem. Depois, comecei a ouvir falar do setor tecnológico em Portugal e é algo que nunca tinha associado ao país”, explicou Courtney Fingar, editora da revista Foreign Direct Investiment (fDi), do grupo Financial Times.
“A negatividade dos ‘PIGS’ [grupo de países com problemas de dívida pública que inclui Portugal] dissipou-se e a maioria das pessoas com experiência sabem que Portugal fez um bom trabalho em sair da crise, mas há uma tendência para pensar que Portugal é apenas um país bonito, antiquado, ou apenas um destino turístico. E penso que para o mundo em geral ainda não associa Portugal a um país com um setor de tecnologias avançado”, explicou.
Embora a imagem de Portugal esteja a mudar, Courtney Fingar acredita que “em geral, a imagem internacional em termos económicos está atrasada uns anos relativamente à realidade, por isso o governo precisa de continuar a ser ativo na promoção dessa imagem e a passar a mensagem e a promover o país em grandes eventos internacionais”.
Por seu turno, Kevin Gould, jornalista especializado em turismo e colaborador regular do diário The Guardian, acredita que Portugal está a revelar-se como um destino genuíno e alternativo: “Portugal tornou-se visto como uma pedra de toque do real, o autêntico. Das cidades classificadas Património Mundial à paz perfeita de seus idílicos destinos rurais, dos seus jovens dinâmicos aos contornos imutáveis de suas regiões costeiras, acredito que os visitantes e os expatriados reconhecem a falta de artifícios”.
Para Elena Ochoa, apesar de serem vizinhos, Portugal e Espanha “estavam de costas voltadas e tinham muitos preconceitos em relação ao outro”.
Portugal e os portugueses têm a sensação de que o país está na moda, com um número crescente de turistas, principalmente europeus, a irem visitar o país.
“É como se o tivéssemos iluminado e descoberto que afinal não é um país cinzento, que tem coisas muito interessantes e que merece ser visitado”, disse Ochoa.
Posição diferente tem Emílio Crespo, diretor coordenador de informação na agência Efe, que já foi correspondente em Portugal.
“Quem mudou foram os portugueses. Até há pouco estavam em crise e deprimidos e agora estão com mais confiança”, argumentou.
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