Na intervenção que fez do púlpito do parlamento durante o debate do estado da nação, Catarina Martins fez uma revisitação aos principais momentos - e figuras políticas - que marcaram a legislatura que caminha agora para o final, na qual considerou que "a política do medo e da ameaça foi derrotada".

"Está tanto por fazer. Não podemos voltar à política das maiorias absolutas que nos perderam. A responsabilidade política é procurar resposta aos problemas do nosso tempo e o Bloco de Esquerda assume essa responsabilidade", afirmou.

A líder bloquista insistiu numa ideia que já tinha definido no primeiro pedido de esclarecimento que fez ao primeiro-ministro, António Costa.

"Voltássemos a 2015 e o Bloco faria tudo de novo. O que fizemos é o melhor guia para o muito que falta fazer", atirou, mesmo na última frase da intervenção.

A proposta dos bloquistas, segundo Catarina Martins, é "construir os caminhos para fazer o que importa", ou seja, "democratizar a economia para vivermos sem medo, proteger o emprego, criar habitação acessível, salvar o Serviço Nacional de Saúde".

Na visão de Catarina Martins, "um parlamento em que se debate o ritmo da recuperação e não a dimensão dos cortes trouxe mais do que confiança, trouxe também transparência à vida democrática".

"Não foi escolha de claque; és do governo ou da oposição. Foi a escolha política que, no confronto ou no compromisso, desenhou maiorias. Cada um dos partidos responde agora pelo que fez neste percurso", defendeu.

E por isso que, no balanço, a líder do BE "esperaria um debate mais centrado nas alternativas praticáveis" e menos, como tem ouvido, "sobre quão inequívoca deve ser ou não uma maioria absoluta".

"Afinal, alguém pediu uma maioria absoluta", começou por questionar a líder bloquista.

A resposta veio logo de seguida, citando "os principais dirigentes do Partido Socialista", como Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, que "pediu uma maioria absolutamente inequívoca", e Carlos César, líder parlamentar e presidente do PS, que "tinha explicado que o PS quer uma grande votação para governar sem bloqueios".

"Que bloqueios afinal incomodam o PS? Aqueles que impediram congelamento de pensões? Não é por acaso que não se ouviu nenhum pensionista, daqueles a quem o PS prometia antes da eleições congelar as pensões, a pedir uma maioria absoluta", atirou.

Catarina Martins começou a sua intervenção por afirmar que "em 2015 um milhão de eleitores impôs uma mudança política", ato eleitoral que marcou "o fim do voto útil" porque "já ninguém é obrigado a escolher o mal menor num jogo viciado em que sai sempre alternância sem alternativa".

"O que conta hoje é a escolha do programa para o país e a exigência do voto é força na política", defendeu.

O antigo presidente da República, Cavaco Silva, segundo a bloquista "não queria acreditar" e, "em fim de mandato, sem poderes para dissolver o parlamento, acabou mesmo obrigado a aceitar a solução inédita na história da nossa democracia", apesar de nunca se ter recomposto "da ideia de que todos os votos contam".

"Perdeu Cavaco, ganhou a democracia e o país", atirou.

Entre o final de 2015 e o início de 2016, prosseguiu Catarina Martins "foi um frenesim" porque, à "direita, e mesmo em parte do PS, faziam-se contas à data em que o próximo Presidente da República poderia dissolver o parlamento".

"Finalmente, quando já era claro que o novo Presidente da República não iria dissolver o parlamento e as sanções europeias foram chumbadas, Passos Coelho assegurou que viria o Diabo em pessoa, lá para Setembro de 2016. Mas o diabo não chegou", concluiu.