“Evidentemente que os principais riscos continuam a ser externos. Portugal depende muito da evolução da economia europeia e de eventuais crises no seio da União Europeia e, portanto, a principal ameaça continua a ser externa”, sustentou António Costa Pinto, coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Numa altura em que “há sinais de que o otimismo económico pode começar a esmorecer”, o “mínimo sinal de abrandamento da economia europeia” obrigará o Governo a “uma prudência e disciplina orçamental que não é muitas vezes consentânea com as reivindicações dos partidos que o apoiam, quer o PCP quer o BE, defendeu.
Tanto mais que, o primeiro-ministro, António Costa, já demonstrou que se “mantém fiel aos compromissos com Bruxelas”, assinalou António Costa Pinto.
Para António Costa Pinto, a atual solução política continua, a um ano do fim da legislatura, a “render politicamente” ao Partido Socialista, cujo objetivo é “ser o partido de referência na sociedade portuguesa, que possa condicionar eventuais alianças, à esquerda ou ao centro”, mantendo-se “o maior partido português” e à volta do qual “poderão girar opções de governo”.
A “turbulência” e alguma “dissonância” entre os partidos da esquerda parlamentar são reflexo do momento político atual, em que se negoceia o próximo Orçamento do Estado e quando falta um ano para as legislativas, devendo evidenciar-se no debate do Estado da Nação, esta sexta-feira, no parlamento, sustentou Marina Costa Lobo.
Em declarações à Lusa, a investigadora defendeu, contudo, que existe ainda “uma continuidade no relacionamento” entre aqueles partidos e o Governo e que “o barulho” que PCP e BE têm feito é mais aparente do que real no sentido em que não põe em causa a atual solução governativa.
“Eles vão fazer barulho até ao Orçamento para conseguir extrair algumas concessões em relação ao Governo para que possam mostrar aos seus eleitorados valorizando-se nos meses antes das eleições, mas não vão deitar abaixo o Governo porque isso inviabilizaria também um governo à esquerda no futuro”, defendeu Marina Costa Lobo.
Para a investigadora do Instituto de Ciências Sociais, com trabalhos na área das instituições e comportamentos políticos dos portugueses, “há uma novidade que é demonstrada nas sondagens mais recentes, uma certa perda de fôlego nas intenções de voto no PS”.
Para Marina Costa Lobo, isso deve-se à perceção de que há “algum esgotamento do ponto de vista das ideias” e de uma “visão de futuro” da solução governativa para o país, numa altura em que as diferenças entre o Governo e os partidos à esquerda estão a evidenciar-se quanto às opções estratégicas na economia, no Orçamento e na descentralização.
Um Governo que "denota mais a gestão do quotidiano", depois de dois anos em que os entendimentos que aglutinaram os parceiros da maioria que apoia o executivo se centraram na “reversão de medidas de austeridade” da anterior legislatura PSD/CDS-PP e da “troika”.
As tragédias dos incêndios do ano passado, primeiro em junho e depois em outubro, constituíram um “ponto de viragem” que levou à quebra de confiança e que se reflete ainda “na falta de entusiasmo que se vai revelando nas sondagens”, apesar de o PS ainda ser aquele que reúne maior intenção de voto, considerou.
À direita, Marina Costa Lobo assinalou que a nova liderança do PSD se posiciona “mais ao centro” do que a anterior, mostrando-se disponível para consensos e para “fazer pontes”, competindo com o PS “pelos votos ao centro”.
António Costa Pinto apontou, por outro lado, que à direita o CDS “se mantém como polo importante da oposição mas não beneficiou, até agora, de eventuais crises no PSD nem da nova estratégia do PSD”, segundo sugerem as intenções de voto demonstradas nas sondagens.
“O PSD mantém um crescimento em intenções de voto relativamente moderado”, frisou António Costa Pinto, considerando que “a oposição de direita só terá algum sucesso com base na erosão da governabilidade em Portugal”.
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