Foi o pior resultado desde 1976. A Coligação Democrática Unitária (CDU), que integra o PCP, o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) e a associação Intervenção Democrática, perdeu seis dos 12 deputados que tinha desde as anteriores legislativas, há dois anos.
A quebra de 2,07 pontos percentuais (menos 92.611 votos) faz com que o PEV falhe pela primeira vez a eleição e fique sem representação no parlamento, perdendo os dois deputados que tinha nesta legislatura, Mariana Silva e José Luís Ferreira, número quatro por Lisboa e número três por Setúbal, respetivamente.
Já o PCP perdeu dois deputados de peso: João Oliveira e António Filipe.
João Oliveira, advogado, de 42 anos, licenciado em Direito, era deputado desde 2005 e líder parlamentar desde 2013. Falhou pela primeira vez em 17 anos a eleição pelo círculo eleitoral de Évora, mandato que foi conquistado pelo PSD.
O também membro da comissão política do Comité Central do PCP foi um dos substitutos do secretário-geral durante a campanha eleitoral, enquanto Jerónimo de Sousa estava a recuperar de uma operação de urgência à carótida interna esquerda.
As funções temporárias enquanto rosto da volta da CDU fizeram com que estivesse mais de metade da campanha afastado do distrito por onde era recandidato.
Em Évora, a CDU perdeu 2.486 votos face a 2019 e passou de segunda para terceira força política neste distrito.
João Oliveira foi um dos principais negociadores comunistas das propostas de Orçamento do Estado desde a formação da solução de Governo socialista com o apoio da maioria parlamentar de esquerda, que foi popularmente apelidada de 'geringonça', em 2015.
Já o histórico dirigente comunista António Filipe, um dos deputados mais antigos do partido, falhou a eleição pela primeira vez desde 1989. O membro do Comité Central do PCP era recandidato pelo distrito de Santarém.
A diferença de votos em relação a 2019 foi mais expressiva em Santarém, com a coligação a perder 3.808 votos.
Em princípio, o grupo parlamentar do PCP durante a próxima legislatura vai ser composto por: Jerónimo de Sousa e Alma Rivera, por Lisboa, Paula Santos e Bruno Dias (Setúbal), Diana Ferreira (Porto) e João Dias (Beja).
Este resultado encontra semelhança no das autárquicas de 2021, em que a CDU também perdeu metade das autarquias que tinha, a grande maioria para o PS.
Pela primeira vez, a coligação também ficou abaixo de 300.000 votos, com 236.630, de acordo com as informações disponibilizadas pelo Ministério da Administração Interna, com 99,13% dos resultados apurados.
O secretário-geral do PCP reconheceu na noite de domingo que o resultado “é uma travagem” naquela que o partido considerava ser uma política de progresso económico-social alcançada nos últimos anos, mas concretizada “a ferros”, expressão que Jerónimo de Sousa utilizou várias vezes para descrever o que considerava ser a “resistência” do PS nas negociações.
O dirigente comunista também apontou como razão para o resultado expressivamente mais baixo uma “extrema promoção da bipolarização” entre PS e PSD ao longo dos últimos meses. Esta crítica foi recorrente ao longo da campanha eleitoral, quer pela voz do secretário-geral, quer pelas palavras dos dirigentes que o substituíram.
No final da reação aos resultados, Jerónimo de Sousa prometeu continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores com os “excelentes” deputados eleitos.
“As vitórias não nos descansam. As derrotas não nos desanimam. A luta continua!”, disse.
Comentários