O estudo visou identificar as práticas dos enfermeiros referentes à higienização das mãos e gestão da farda clínica, analisando a sua taxa de contaminação por bactérias, explicou a autora da investigação, Cristina Sousa, no V Congresso dos Enfermeiros, que decorre até domingo em Lisboa.
A recolha de dados consistiu na aplicação de 50 questionários e avaliação microbiológica de cem amostras referentes às mãos dos enfermeiros que prestam cuidados diretos a utentes em quatro unidades de medicina interna de um hospital da região centro de Portugal.
Noventa por cento dos enfermeiros consideram respeitar as recomendações sobre higienização das mãos e que as realizam em 75% ou mais dos momentos estipulados. Contudo, nenhum dos profissionais inquiridos mencionou a sua adesão aos cinco momentos previstos no procedimento, com água e sabão ou solução antissética de base alcoólica.
A necessidade de higienizar as mãos antes da realização de procedimentos asséticos foi identificada por 92% dos profissionais e após o contacto com o paciente por 90%, mas apenas 44% o fazem após o contacto com áreas próximas do paciente, “o que poderá constituir um foco de disseminação de microrganismos com potencial patogénico”.
Segundo o estudo, a falta de lavatório (34%), a falta de tempo (32%) e a falta de zonas de secagem (18%) nas unidades interferem com a sua adesão.
Constatou ainda que 34,6% dos enfermeiros apresentavam ‘Staphylococcus coagulase’ negativos e 57,7% positivos nas pontas dos dedos e 48,3% apresentavam ‘coagulase’ negativos e 70,9% positivos nos espaços interdigitais.
Apenas metade dos inquiridos revelou não utilizar adornos na prestação de cuidados. “A utilização de anel (48%), pulseiras (6%) e verniz/gel (14,3%) pelos enfermeiros, ainda que desencorajado pela literatura de referência existente, continuam a ser uma prática vigente”, sublinha.
Outra conclusão do estudo aponta que a maioria dos enfermeiros muda de farda a cada dois turnos e 62% utilizam-na em outros locais para além da unidade de cuidados.
A maioria apontou que faz a higienização das fardas no hospital (86%), enquanto 14% disseram que o fazem em casa, alegando a falta de fardas para utilização no turno seguinte como fator determinante para esta prática.
Em declarações à agência Lusa, Cristina Santos disse que a investigação demonstrou que os microrganismos estão presentes nas três partes do estudo: “As mãos mexem nas batas, mexem no material clínico e assim sucessivamente”, o que obriga a disseminar boas práticas para quebrar a transmissão de microrganismos.
“As mãos são seguramente a forma aparentemente mais fácil de se ultrapassar o problema, só que existem ainda alguns constrangimentos a nível organizacional, nomeadamente a falta de lavatórios em locais chave e zonas de secagem e alguma falta de dispositivos para higienizar as mãos”, adiantou.
Este é um constrangimento a nível da gestão, mas também existem constrangimentos a nível pessoal como a falta de tempo ou a complexidade dos cuidados prestados, disse a autora do estudo, defendendo que é preciso uniformizar normas institucionais de utilização de fardas e reequacionar materiais e estruturas existentes nas unidades para higienização das mãos.
Em Portugal, a taxa de infeções associadas aos cuidados de saúde em contexto hospitalar ronda os 7,8%, valores acima da média europeia, segundo a Direção-Geral da Saúde.
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