Os investigadores estudaram a resposta imunológica de mais de 90 casos confirmados (incluindo 65 detetados através de testes virológicos) e mostram que os níveis de anticorpos neutralizantes, capazes de destruir o vírus, atingem o pico médio perto das três semanas após o início dos sintomas e depois diminuem rapidamente.

As amostras de sangue analisadas demonstraram que, apesar de 60% das pessoas infetadas tenham conseguido produzir uma "potente" resposta de anticorpos contra o vírus, apenas 17% conseguiram manter essa potência três meses depois da infeção. E se em alguns casos, o nível de anticorpos caiu até 23 vezes mais do que os valores presentes no pico, noutros casos tornou-se mesmo indetectável.

No global dos casos estudados, apenas 16,7% dos indivíduos ainda apresentavam altos níveis de anticorpos neutralizantes 65 dias após o início dos sintomas.

O estudo, levado a cabo pelo prestigiado King's College de Londres, ainda não foi revisto, mas já foi publicado no site medrxiv.

"As pessoas estão a produzir uma resposta razoável de anticorpos ao vírus, mas estes estão a desaparecer num curto espaço de tempo, e dependendo do quão alto o pico de cada um é, isso determina quanto tempo é que os anticorpos ficarão", declarou a Dra. Katie Doores, principal autora do estudo, ao jornal The Guardian.

Este rápido desaparecimento dos anticorpos pode assim significar ainda mais desafios para a criação de uma vacina eficaz. "Se a infeção fornece níveis de anticorpos que diminuem em dois a três meses, a vacina potencialmente fará a mesma coisa e uma única injeção poderá não ser suficiente", continua a investigadora.

De acordo com o diário britânico, alguns resultados obtidos a partir de uma vacina contra a covid-19 a ser desenvolvida na Universidade de Oxford vão neste sentido. As vacinas administradas a um conjunto de primatas produziram menos anticorpos que os níveis normalmente produzidos por seres humanos após infeção. Para além disso, a vacina apenas está a conseguir proteger os animais de infeções sérias, já que os primatas ficaram infetados mesmo depois de vacinados e capazes de se infetar uns aos outros.

Comentando o estudo do King's College à Agência France-Press, Stephen Griffin, professor associado da escola de medicina da universidade de Leeds, disse que "este trabalho confirma que as respostas de anticorpos protetores em pessoas infetadas com SARS-CoV-2 (...) parecem decair rapidamente"

De acordo com o especialista, "as vacinas em desenvolvimento devem gerar proteção mais forte e mais durável contra infeções naturais ou ser administradas regularmente".

Outra das possíveis do estudo é a inviabilidade da imunidade coletiva, assente na ideia de que após uma alta percentagem da população ser infetada, a imunidade generalizada seria uma forma de erradicar a pandemia.

O professor Jonathan Heeney, virologista da Universidade de Cambridge, vai mais longe, dizendo que o estudo "mete outro prego no caixão do conceito perigoso da imunidade de grupo", acrescentando ainda não conseguir "frisar mais o quão importante é que o público compreenda que ficar infetado com este vírus não é bom".

"Parte do público, especialmente os mais novos, tem-se tornado algo descuidado quanto a ficar infetado, achando que poderia contribuir para a imunidade de grupo. Não só se vão colocar em risco, e os outros, ao ficarem infetados", defende o especialista, como poderão "colocar-se num risco ainda maior se doenças graves de pulmões se voltarem a ficar infetados nos próximos anos".

Há, porém, outro dado a ter em conta, já que alguns especialistas apontam que a imunidade não se baseia apenas em anticorpos. As células imunes que o corpo produz para se defender de constipações — chamadas B e T — também podem proteger as pessoas do coronavírus.

O professor Arne Akbar, imunologista na University College de Londres (UCL), por exemplo, acredita que os pacientes que lutam contra o vírus com as células T não precisam de criar níveis elevados de anticorpos.

"Mesmo quem não tenha anticorpos circulantes detetáveis, isso não significa necessariamente que não tenha alguma forma de proteção, porque provavelmente possui células de memória imune que podem rapidamente entrar em ação para iniciar uma nova resposta imune se contrair o vírus novamente", argumenta o professor de imunologia viral Mala Maini, consultor da UCL.

Até que mais informações sejam recolhidas, "mesmo aqueles com um teste de anticorpos positivo — especialmente aqueles que não conseguem explicar onde podem ter sido expostos — devem continuar a ter cuidado, manter distanciamento social e uso de uma máscara apropriada", adverte James Gill, professor clínico honorário da Warwick Medical School.