“Eu perdoo-te”. Esta é a mensagem que Farhid Ahmed, de 59 anos, quer entregar “à pessoa que fez isto, ou a amigos dessa pessoa que pensem da mesma maneira”.

A história está a ser partilhada nas redes sociais.

“Não concordo com o que fizeste… Tomaste uma decisão errada, escolheste uma direção errada, mas eu quero acreditar em ti. Quer acreditar que tens um grande potencial no teu coração”, expressa Farhid, dirigindo-se ao atirador.

Brenton Tarrant, um australiano nacionalista, de 28 anos, e que está em prisão preventiva, é suspeito de ser responsável pelos ataques às mesquitas Al-Noor e de Linwood, em Christchurch, na Nova Zelândia, na sexta-feira, que fizeram pelo menos 50 mortos e quase meia centena de feridos.

O momento do ataque

Farhid estava na mesquita de Al-Noor quando o atirador entrou no templo e abriu fogo. O homem estava numa antecâmara com um amigo, mas habitualmente não é aí que costuma rezar - normalmente, Farhid reza na sala principal.

“Naquele momento percebi duas coisas: que aquilo era o som de tiros; e que aquele era o meu último dia”, descreve. “Naquela situação, numa cadeira de rodas [Farhid está numa cadeira de rodas desde que foi atropelado por um carro], era impossível escapar”, explica.

Mas o atirador não entrou na antecâmara e Farhid conseguiu sair para o estacionamento. Aí, acabou por assistir ao massacre, escondido atrás de um carro, no lado oposto ao da mesquita, onde ainda estava a sua mulher, Husna.

“As pessoas gritavam e corriam para o exterior. Estavam em pânico”, conta, acrescentando que viu “que algumas tinham sangue e havia pessoas a coxear”.

Assim que o atirador saiu - tendo-se dirigido para outra mesquita onde também levou a cabo um ataque - Farhid entrou de novo no templo, tendo encontrado “muitos corpos”.

“Nessa altura, não sabia que a minha mulher já estava morta na outra entrada”, disse.

Uma mensagem de perdão

No rescaldo dos tiroteios, a cidade tem expressado a sua perplexidade com a dimensão da tragédia. A comunidade tem-se deslocado até às mesquitas e a outros santuários improvisados pela cidade para deixar flores.

Há, ao mesmo tempo, um sentimento de generosidade e solidariedade, liderado por vítimas como Ahmed, que defende o perdão.

"Se houver alguma oportunidade, quero conhecer-te”, disse o sobrevivente, referindo-se ao atirador. “Quero abraçar-te”, expressou Farhid, esclarecendo que o diz sinceramente e com todo o coração. “Não sinto rancor, nunca te odiei, nunca te irei odiar ”, completou.

“Quero dizer-lhe: ‘Perdoo-te’. Quero deixar essa mensagem”, conclui, enquanto recebe em sua casa amigos que o visitam para expressar condolências pela morte da sua mulher.

*Com agência Reuters