A vice-presidente democrata aposta tudo em uma carta. O que está em jogo nas eleições presidenciais de 5 de novembro, segundo ela, é a defesa da democracia frente ao seu rival, o ex-presidente republicano Donald Trump, que considera "cada vez mais desequilibrado" e interessado num "poder sem controlo".

Não é uma tarefa fácil. Harris segue empatada nas sondagens com Trump, dentro da margem de erro, principalmente nos sete swing states que podem decidir o resultado. A candidata democrata afirma que o republicano "trama uma vingança e represálias" contra os seus inimigos políticos.

Numa entrevista de rádio, Trump anunciou que, se for eleito, vai demitir "em segundos" o procurador especial que supervisiona os seus problemas judiciais. Segundo Harris, o seu adversário está exausto: “A parte triste disso é que ele tenta ser presidente dos Estados Unidos, provavelmente o trabalho mais difícil do mundo, e está exausto”.

Harris dividiu hoje o palco pela primeira vez com o ex-presidente Barack Obama, que suou a camisa sozinho nos últimos dias para que ela se torne a primeira mulher à frente do país. O comício começou com uma apresentação de Bruce Springsteen, cujos hinos à luta da classe trabalhadora tornaram-no num dos artistas mais populares do país.

"Ela concorre para tornar-se a 47ª presidente dos Estados Unidos. Donald Trump concorre para ser um tirano americano", disse o cantor, que interpretou três canções para uma plateia fervorosa em Atlanta. “Ele não entende este país, a sua história ou o que significa ser profundamente americano. Por isso, em 5 de novembro votarei em Kamala Harris e Tim Waltz”.

Já Obama usou o seu carisma para estender a mão à "amiga", que abraçou. "Os Estados Unidos estão preparados para virar a página” com Harris, afirmou o ex-presidente, alertando para o que poderá acontecer caso Trump vença.

Obama citou o ex-general John Kelly, segundo o qual Trump elogiou os generais de Adolf Hitler. "Na política, uma boa regra geral é não dizeres que queres algo parecido com o que Hitler fez", comentou Obama, acrescentando que se tratava de "um conselho".

“Ele acha que o Exército existe para fazer a sua vontade”, e quer perseguir os seus inimigos, ou seja, “qualquer um que o critique ou que se recuse a ajoelhar-se", disse o democrata. Se Trump vencer, “não terá pessoas como John Kelly para detê-lo. Estará cercado de pessoas tão loucas quanto ele, que deixá-lo-ão fazer o que quiser."

Kamala quer impedi-lo. “Enfrentei criminosos de todos os tipos, predadores, fraudes e reincidentes. Enfrentei-os e venci. Em 12 dias, será a vez de Donald Trump", declarou a ex-promotora.

A candidata democrata vem repetindo mais do que nunca que Trump nunca aceitou ter perdido as eleições de 2020 para Joe Biden, e que ele não deu garantias de que vai reconhecer os resultados de 2024. Na próxima terça-feira, fará "uma argumentação final" contra Trump em Washington, no local onde o ex-presidente discursou para os seus simpatizantes antes que eles atacassem o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 numa tentativa de evitar a certificação da vitória de Biden.

Trump, que classifica Harris como "estúpida" e Obama como um "verdadeiro idiota", participou num comício no Arizona, um dos sete estados decisivos para as eleições. O candidato falou sobre a imigração ilegal, pela qual culpou duramente Harris.

"Kamala Harris orquestrou a traição mais abominável. Erradicou a nossa fronteira soberana e libertou um exército de grupos de imigrantes que travam uma campanha de violência e terror contra os nossos cidadãos", disse Trump. “Nenhuma pessoa que seja responsável por tanto derramamento de sangue e tanta morte em nosso território pode ser autorizada a tornar-se presidente dos Estados Unidos”.

Os imigrantes “vêm de 181 países. Somos um caixote do lixo para o mundo", disse Trump para a multidão. O republicano citou as principais medidas da sua política migratória caso vença as eleições.

O magnata vai relançar o programa introduzido por ele para que os imigrantes aguardem o resultado do processo migratório do outro lado da fronteira, e vai proibir as cidades-santuário, que protegem os imigrantes da expulsão.

Trump também prometeu contratar 10 mil agentes de fronteira, aumentar os salários dos que já estão em serviço e eliminar “todos os benefícios federais e de assistência social para os imigrantes ilegais”.

O candidato republicano insiste em dizer que vai deportar maciçamente os imigrantes em situação irregular e invocar uma lei de 1798 para acelerar as expulsões dos membros dos gangues Trem de Aragua e MS-13.