A descolagem do foguetão Falcon 9, da empresa SpaceX, que transportará o telescópio espacial está prevista para as 16:11 (hora de Lisboa) da base da agência espacial norte-americana (NASA) em Cabo Canaveral. Caso falhe esta primeira tentativa de lançamento há uma segunda oportunidade no domingo.

Portugal é um dos Estados-membros da ESA diretamente envolvidos na missão, com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) a liderar uma das componentes científicas cruciais, a do planeamento do rastreio do céu, e seis empresas — FHP, Altran, GMV, Active Space, Deimos e Edisoft – a fabricarem diversos componentes do telescópio, como proteções térmicas e sistema de testes de controlo em órbita.

Segundo a agência espacial portuguesa PT Space, que integra o comité de direção da missão, Portugal arrecadou mais de 4,5 milhões de euros em contratos celebrados entre empresas e a ESA.

No centro de controlo da missão, na Alemanha, vai estar um português a codirigir as operações de voo: Tiago Loureiro, engenheiro aeroespacial que há 19 anos trabalha no Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, na Alemanha, onde é feito o controlo dos engenhos em órbita - satélites, sondas, telescópios. Já se sentou quatro vezes numa sala de controlo para lançar um satélite, mas esta é a primeira vez que dirige as operações iniciais da vida de um engenho espacial, no caso o telescópio Euclid.

"Fazer luz" sobre o lado escuro do Universo

O português de 45 anos é diretor de voo adjunto na missão da Agência Espacial Europeia que colocará o Euclid a 1,5 milhões de quilómetros da Terra para observar uma imensidão de galáxias e "fazer luz" sobre o lado escuro do Universo.

Formado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Tiago Loureiro vai "coordenar o turno que monitoriza a contagem final antes do lançamento" do telescópio e que "volta à sala de controlo dez horas após o lançamento para continuar as operações iniciais da vida da missão".

Após o lançamento do telescópio, a participação do engenheiro aeroespacial na missão Euclid termina com o fim da etapa que visa garantir que o novo engenho no espaço "tem capacidade de gerar energia própria, de comunicar com a Terra e de manter sob controlo a sua órbita e altitude".

O telescópio será depois colocado "a caminho do seu destino", sendo feita a descontaminação dos instrumentos, que "consiste em aquecer as superfícies de forma controlada para libertar partículas depositadas nos elementos óticos, pois podem afetar a qualidade dos dados", explicou.

Todos os procedimentos foram treinados durante três meses.

Na ESA há mais três engenheiros portugueses a trabalhar na missão Euclid. Um deles, José Mendes, integra igualmente a equipa de controlo de voo no Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, sendo responsável pela "definição de muitos dos procedimentos" e da cronologia das operações. Noutro local, no Centro Europeu de Investigação e Tecnologia Espacial, nos Países Baixos, trabalham Luís Campos, engenheiro de 'software' e operações, e Luís Venâncio, engenheiro ótico.

Sobre a missão Euclid, Tiago Loureiro diz que "trará enorme conhecimento sobre as galáxias", uma vez que o telescópio "vai observar milhares de milhões de galáxias e fornecer dados para construir um mapa da sua distribuição e velocidade relativa".

Observando as galáxias (parte da matéria visível) e os efeitos nelas gerados pela matéria escura e energia escura (ambas invisíveis) será possível, de acordo com Tiago Loureiro, saber mais sobre a natureza destes dois ingredientes misteriosos que compõem 95% do Universo.

"Para percebermos o nosso Universo temos que saber mais sobre estas duas entidades", frisou.

O engenheiro aeroespacial destacou que a missão Euclid permitiu, na Europa, criar "uma grande quantidade de empregos qualificados em tecnologias de ponta" e mobilizar cientistas de universidades e institutos, esperando que "as pessoas, sobretudo as mais jovens, se sintam inspiradas pelos desafios da exploração espacial".

"É uma parte fundamental para continuar a ter os jovens interessados em seguir uma formação nas áreas das ciências e engenharias, fundamentais para resolver os problemas na Terra", defendeu Tiago Loureiro, que está também envolvido no controlo da missão robótica euro-americana que trará para o planeta na década de 2030 as primeiras amostras de rocha de Marte.

O que está a acelerar a expansão do Universo?

A missão Euclid é a primeira missão espacial concebida para tentar compreender o que está, efetivamente, a acelerar a expansão do Universo e que, segundo as teorias cosmológicas, se deve à energia escura, uma misteriosa força que se opõe à atração gravitacional.

Juntas, a energia escura e a matéria escura (matéria invisível, que não emite nem absorve luz) compõem 95% do Universo, que continua por desvendar.

O telescópio Euclid – assim chamado em homenagem ao matemático da Grécia antiga Euclides, considerado o “pai” da Geometria – vai procurar “fazer luz” sobre o Universo invisível observando durante seis anos milhares de milhões de galáxias, permitindo obter em 15 dias imagens de uma área “varrida” pelo telescópio espacial Hubble em 30 anos.

Na realidade, a missão vai permitir medir a geometria do Universo e ajudar a esclarecer do que é feito na sua totalidade através da observação do desvio da trajetória da luz provocado pela matéria escura nas galáxias e aglomerações de galáxias, parte do mundo visível, que totaliza apenas 5% da composição do Universo.

Ao mapear as posições das galáxias no espaço a três dimensões, possibilitando estudar como estão agregadas, o telescópio irá dar informações sobre as propriedades da energia escura, numa “viagem no tempo” até aos últimos dez mil milhões de anos de formação do Universo (a sua idade estimada é de 13,8 mil milhões de anos).

Equipado com dois instrumentos, que permitirão obter imagens de galáxias distantes com um detalhe sem precedentes e ajudar a medir com precisão as distâncias a que estão dezenas de milhões de galáxias, o Euclid será colocado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, num ponto estável, sem interferência da luz do planeta, da Lua e do Sol, onde chegará um mês depois de ter sido lançado.

Espera-se a primeira divulgação de imagens em novembro e os primeiros dados científicos em dezembro de 2024, segundo o IA.

A missão da ESA custou cerca de 1,4 mil milhões de euros e contou com a colaboração da NASA num dos instrumentos, no local da descolagem, no financiamento do trabalho de equipas científicas e na criação de um centro de processamento de dados nos Estados Unidos.

O lançamento do telescópio chegou a estar previsto para 2020 e posteriormente para 2022, da base da ESA, na Guiana Francesa, num foguetão russo Soyuz. Contudo, em 2022, a ESA cortou relações com a Rússia quando o país invadiu a Ucrânia, em fevereiro.