Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Voz, a atriz participou com outros artistas no Teatro D. Maria II, em Lisboa, na cerimónia de apresentação do primeiro rastreio nacional de voz dirigido a profissionais da voz, promovido pelo Ministério da Saúde e pela Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA).
No final da cerimónia, em declarações à agência Lusa, Eunice Muñoz deixou o apelo: “Um rastreio é uma coisa fundamental, efetivamente se sentir que a sua voz não está bem, então faça isso”.
A voz foi sempre uma prioridade para Eunice Muñoz, conforme contou à Lusa: “Sempre tive cuidado e tive uma voz que resistiu durante muitos anos a muito, muito trabalho”.
“Mas aqui nada se podia fazer, lembro-me que o médico que me operou o fez com muita tristeza, porque sabia que eu teria muitos problemas para poder falar e a ter voz. Mas, enfim, é uma luta e eu tenho melhorado bastante”, disse a atriz, de 88 anos.
Também desde muito cedo que o cantor Miguel Ângelo, dos Delfins, sentiu que a voz merecia um cuidado especial.
À Lusa lembrou os tempos em que os Delfins começaram a ensaiar e em que tinha de gritar muito alto para fazer ouvir a sua voz numa “sala muito pequenina”, onde “o barulho da bateria abafava tudo”.
“Na primeira ‘tournée’ dos Delfins, lembro-me que chegava ao fim de hora e meia de concerto, rouco todas as noites. E depois recuperava, era novo e jovem”, recorda, com um sorriso.
Miguel Ângelo começou a questionar se “devia haver uma maneira” de isso não acontecer, porque via bandas estrangeiras “de rock e heavy metal”, que “tocavam todos os dias” e “não ficavam roucos”.
“Foi aí que comecei a ter preocupação, procurando aulas técnicas de canto e, mais tarde, fazendo rastreios, a prevenção que ainda hoje faço”, disse o cantor, convicto de que o rastreio “vai ajudar muito a espalhar a ideia globalmente”.
A médica Clara Capucho, fundadora da Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz, disse à agência Lusa que, cada vez mais, “as pessoas querem ter qualidade vocal e querem ser reconhecidas pela sua voz”.
“A voz em Portugal ainda não está de parabéns, mas vai estar, ainda temos muitas coisas para melhorar, mas já se pensa na voz como uma qualidade, como uma impressão digital vocal”, salientou a otorrinolaringologista.
Clara Capucho advertiu que várias doenças podem manifestar-se através da voz, como o lúpus, e aconselhou as pessoas que têm uma voz rouca a “ver o que se passa”.
“A má funcionalidade das cordas vocais vai levar a rouquidão, por aparecimento de lesões secundárias, como pólipos, nódulos, lesões que podem ser facilmente evitáveis e, depois de diagnosticadas, facilmente tratadas”, disse a especialista.
Há também outros sinais, como a falta de ar, a tosse persistente, que indicam que haver algo de mal no aparelho vocal.
Segundo o presidente da GDA, Pedro Wallenstein, os rastreios realizados nos últimos anos permitiram detetar patologias.
“As pessoas acorriam por problemas que tinham no exercício da profissão”, algumas apresentavam sequelas da forma de falar, de declamar, mas houve casos em que foram detetadas “patologias mais profundas”, disse Pedro Wallenstein.
Maria Celeste Silva, do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, onde se inclui a Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz, disse, por seu turno, que tem vindo a crescer o número de pessoas que de deslocam ao hospital para fazer o rastreio, o que demonstra uma maior sensibilização para a importância de uma voz saudável.
O rastreio gratuito começou esta semana, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, e, a partir de maio, vai estender-se pelo país e pelas regiões autónomas.
A ideia é que seja feito pelo menos uma vez por ano em todos os distritos.
Comentários